segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Textos actualizados (2)

Os seguintes textos foram actualizados ontem:

«Destruindo o argumento cosmológico (parte II)» (disponível aqui: http://allthatmattersmaddy32b.blogspot.com/2013/11/destruindo-o-argumento-cosmologico.html) [Outra vez]


«Conversas inúteis com criacionistas: genética, evolução e informação» (disponível aqui: http://allthatmattersmaddy32b.blogspot.com/2013/11/conversas-inuteis-com-criacionistas.html)


O seguinte texto foi actualizado hoje:

«1% de diferença e confusão sobre o genoma humano (parte II)» (disponível aqui: http://allthatmattersmaddy32b.blogspot.com/2013/10/1-de-diferenca-e-confusao-sobre-o.html)


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Textos actualizados


Como já é sabido, o blog está encerrado, ou seja, não vou escrever mais textos. No entanto, os seguintes textos foram actualizados:


- «Tretas dos cristãos (parte III)» (http://allthatmattersmaddy32b.blogspot.com/2013/11/tretas-dos-cristaos-parte-iii.html

- «Conversas inúteis com criacionistas» (agora «Conversas inúteis com criacionistas: genética, evolução e informação») (http://allthatmattersmaddy32b.blogspot.com/2013/11/conversas-inuteis-com-criacionistas.html)  


- «Evolucionismo teísta: a adaptação do cristianismo à ciência moderna (Adenda)» (http://allthatmattersmaddy32.blogspot.com/2013/07/evolucionismo-teista-adaptacao-do_3.html)


P.S.: É possível que o encerramento do blog seja temporário, mas não prometo nada. 

Publicado: Sábado, 21 de Dezembro de 2013  


domingo, 8 de dezembro de 2013

Ciência e religião: o que dizem as estatísticas (parte II) - Adenda

A propósito de ciência e religião, um estudo baseados nas respostas dos professores universitários dos Estados Unidos, revelou que as três áreas que abrangem uma maior percentagem de descrentes, isto é, ateus e agnósticos, entre estes são: psicologia, biologia e ciências computacionais. Relativamente à área da psicologia, a que incluía maior percentagem de descrentes (ateus e agnósticos), 61% dos psicólogos podem ser classificados como ateus (51%) ou agnósticos (11%). Na área da biologia, verificou-se a mesma percentagem em relação aos indivíduos que podiam ser classificados como ateus ou agnósticos, mas a percentagem de ateus encontrava-se na casa dos 20%, sendo os restantes agnósticos.




Muitos psicólogos têm alguma formação em biologia a nível universitário, que é provavelmente suficiente para compreender a teoria da evolução, mas não me parece que isso explique o porquê da tendência dos psicólogos para a descrença em geral e em especial para o ateísmo. Afinal os biólogos, que aprofundam as teorias das origens têm menos tendência para o ateísmo do que os psicólogos. Talvez o facto dos psicólogos estudarem as bases psicológicas e a origem evolutiva da religião explique melhor os dados. Não é por ser "inventado" que deus não existe, mas não é devido à revelação divina, mas sim aos processos mentais do ser humano que a religião, incluindo a crença em deuses existe. Isso é algo que poderá contribuir para (neste caso, desencadear) uma reflexão mais ou menos profunda sobre o assunto e durante esse processo pode chegar-se à conclusão de que não existe qualquer razão para acreditar em deuses.

Referências: 

Gross, N., & Simmons, S. (2009). The Religiosity of American College and University Professors Sociology of Religion DOI: 10.1093/socrel/srp026 (via "Epiphenom")


Nota: este texto é uma excepção - o blog está encerrado e este texto é o último.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O blog vai encerrar

Este blog vai encerrar a partir de agora.

Destruindo o argumento cosmológico (parte II)

Como já foi referido anteriormente, o argumento cosmológico é algo como isto:

Premissa 1. Tudo o que começou a existir tem uma causa
Premissa 2. O Universo começou a existir
Conclusão: logo o Universo tem uma causa.  

O argumento cosmológico serve de base para os crentes argumentarem a favor da existência do seu deus, embora isso não seja inferido directamente pelas suas premissas.   
Relativamente á segunda premissa, para lá do Big Bang não existia espaço nem tempo, tal como os físicos (Stephen Hawking e outros) demonstraram, pelo que o universo não começou a existir (no tempo) e, portanto não é possível uma causa que preceda o seu efeito no tempo. No entanto pode-se afirmar que deus pode ter começado em simultâneo e que é responsável pela criação do universo. Mas, além de não sabermos se isso é sequer possível, é preciso notar que nada está garantido, quanto ao argumento, a respeito do facto do universo ter tido uma causa, uma vez que o universo não começou a existir no sentido de que foi um evento no tempo e no espaço, mesmo se considerássemos que a primeira premissa é verdadeira, pois esta refere-se a observações relativas a ocorrências no espaço e no tempo, aqui no nosso universo.
Existem evidências de que o universo surgiu espontaneamente do nada, sem precisar de deus. Lawrence Krauss afirmou o seguinte sobre a hipótese do universo ter surgido do nada, sem qualquer acção inteligente, apresentada ao público por Stephen Hawking na sua obra «The Grand Design» (1):

« Mr. Hawking based his argument on the possible existence of extra dimensions—and perhaps an infinite number of universes, which would indeed make the spontaneous appearance of a universe like ours seem almost trivial. Yet there are remarkable, testable arguments that provide firmer empirical evidence of the possibility that our universe arose from nothing. (...) If our universe arose spontaneously from nothing at all, one might predict that its total energy should be zero. And when we measure the total energy of the universe, which could have been anything, the answer turns out to be the only one consistent with this possibility». (2)

Argumentos probabilísticos do tipo “fine-tuning”, relativamente à alegação de que as constantes físicas praticamente não podem variar para existir vida de nada contribuem para tornar mais plausível a existência de deus, porque cobrir um número suficiente de possibilidades, ou seja a existência de um multiverso, também defendida por Hawking, em conjunto com um factor de selecção, tal como o princípio antrópico é uma explicação satisfatória. È de notar que, assumindo que as duas hipóteses são igualmente adequadas, nada nos garante neste caso que a hipótese de deus seja a mais simples, pois não sabemos ao certo o que teria que ser proposto para explicar o surgimento de deus do nada e como a sua mente funcionava (e funciona), mas muito provavelmente não acabaríamos com uma hipótese mais simples.

Finalmente, nenhum destes argumentos, ainda que dessem resultado, se relaciona com a interacção de deus com o universo durante a sua evolução, incluindo durante a evolução dos seres vivos e durante a história da humanidade, ou seja, de nada serve aos teístas, que acreditam que deus interage com o universo, incluindo com o Homem.


Actualização 1:

Para visualizar o meu comentário sobre este assunto no "Pharyngula" deve-se aceder ao seguinte endereço:


http://freethoughtblogs.com/pharyngula/2013/12/16/but-mr-craig/comment-page-1/#comment-726950.

Para visualizar o texto do Dr. P. Z. Myers («But Mr. Craig...!»):

http://freethoughtblogs.com/pharyngula/2013/12/16/but-mr-craig/comment-page-1/ 

Sobre o problema de fine-tuning, pode também ser lido o texto do Ludwig Krippahl no "Que treta" (*a).
O argumento apresentado pelo filósofo Robin Collins, alega que a probabilidade de observarmos um universo como este assumindo os modelos da física é muito baixa por causa desses parâmetros soltos que é preciso ajustar mas, por outro lado, a probabilidade de haver um universo como este é muito alta se assumirmos que existe um deus que quer criar um universo assim. Assim, alegadamente, o princípio da máxima verosimilhança (*b) leva-nos a crer num deus criador.
O autor do texto aponta para o facto da existência de deus não resolver o problema como explicação, pois deus (o tal ser espiritual, transcendente, inteligente, imaterial, omnipresente, omnipotente, etc) podia querer um universo completamente diferente e inimaginável (com penicos ambulantes, dragões invisíveis, unicórnios mágicos, etc). A verosimilhança (*b) dos modelos físicos é baixa porque se integram as probabilidades por todo o espaço de possibilidades dos parâmetros livres. Mas um deus omnipotente tem uma verosimilhança nula, estando numa posição de inferioridade em relação a qualquer das alternativas. Então, deus não é a melhor explicação, mas sim a pior.


Actualização 2:

Um modelo interessante que envolve a existência de um multiverso é o modelo da inflação eterna (*a) que pode ser considerado uma extensão da teoria do Big Bang. De acordo com este, o nosso universo poderia ser um dos muitos num super-universo ou multiverso. Linde (1990, 1994) propôs que uma “espuma” de fundo do espaço-tempo  (onde partículas subatómicas vão aparecendo e desaparecendo) (*b), vazia de matéria e radiação que experimenta flutuações quânticas locais, formando muitas bolhas de falso vácuo que formam individualmente mini-universos com características aleatórias. Cada universo dentro do multiverso pode ter um conjunto diferente de constantes e leis físicas. Alguns podem ter até vida de uma forma diferente da nossa, enquanto outros podem não ter vida. Obviamente que estamos num desses universos com vida (3). Mais ainda, se há infinitos universos não é preciso afinar nada para a existência de vida. Isto é uma possível explicação para a origem do universo e de todas as constates e leis físicas. E está claro que deus está fora da equação. 

Concluindo, existem explicações interessantes relativas ao que observamos no universo (as suas constantes e leis físicas que parecem afinadas para a vida), o qual provavelmente surgiu espontaneamente do nada. Um deus omnipotente, no entanto, não explica porque é que as constantes e leis físicas são o que são, pois podia querer (e fazer) um universo muito diferente, com formas de vida muito diferentes (com as quais poderia querer estabelecer uma relação ou não), existindo inúmeras possibilidades.   


(*) Notas:
1.)
a.) «Fine-tuning e verosimilhança, parte 2», Ludwig Krippahl, 1/12/2013 (disponível aqui: http://ktreta.blogspot.pt/2013/12/fine-tuning-e-verosimilhanca-parte-2.html)
b.) Verosimilhança: http://pt.wikipedia.org/wiki/Verossimilhan%C3%A7a#Estat.C3.ADstica, http://en.wikipedia.org/wiki/Likelihood_function e http://en.wikipedia.org/wiki/Likelihood-ratio_test. Princípio da máxima verosimilhança: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1xima_verossimilhan%C3%A7a.

2.)
a.) «Eternal inflation»
(disponível aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/Eternal_inflation)
b.) «Quantum foam» (disponível aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/Space-time_foam )

3.) Mais sobre os disparates do William Lane Craig aqui (http://authorofconfusion.wordpress.com/2008/06/20/william-lane-craig-bill-cooke-public-debate-palmy/). Sobre o argumento cosmológico vai de encontro ao que eu penso: 1 não foi demonstrada verdadeira - não sabemos de nada que tenha começado de raiz, não temos experiência de nada a começar a existir como o universo. Só sabemos do que se passa aqui, no nosso universo já "feito". Não temos qualquer base para dizer que tudo o que começa a existir tem uma causa. Não sabemos, pura e simplesmente.     

Referências:

1. «The Grand Design»  


2. Lawrence Krauss (2010-09-08). "Our Spontaneous Universe". Wall Street Journal.

3. Stenger, Victor J. "Is the Universe fine-tuned for us?"




Conversas inúteis com criacionistas: genética, evolução e informação


Há uns dias comecei uma conversa (*a) com um criacionista sobre RNA circular e conservação de sequências não-codificantes, relativamente às explicações apresentadas num artigo (1) recente, ao criacionismo e à questão do princípio da parcimónia (*b), segundo qual, entre duas hipóteses igualmente adequadas, deve-se escolher a mais simples e o qual em nada favorece os criacionistas. O assunto do RNA ficou para segundo plano e o criacionista que mencionou o artigo continuou a falar de parcimónia e do criacionismo (design inteligente, neste caso), mas totalmente fora do contexto do que tinha sido abordado, além de que não parecia entender realmente quais as hipóteses que estavam a ser colocadas. O mesmo indivíduo afirmou que a hipótese do design era mais simples que a da evolução por selecção natural, mutações e deriva genética, o que não é verdade porque os seus proponentes ainda teriam que apresentar os seus mecanismos e intenções. Na discussão acabou por ser abordada a questão do modo como se testam as hipóteses evolutivas. É claro que o criacionista pôs em causa que isso fosse possível, mas eu expliquei-lhe que era possível e que várias hipóteses já foram testadas. 
Um excerto que serve para resumir a parte relevante da conversa sobre este assunto é o seguinte: 

Criacionista: «Ou já agora vossa posição é não-testável, irrefutável, infalsificável?»

Eu (a pessoa normal no meio dos doidos): «Não. Relativamente ao facto da evolução [história natural]: encontrem um coelho do Câmbrico. Encontrem um fóssil de Homo erectus do Ordovícico.Relativamente às capacidades dos mecanismos evolutivos, ou seja à teoria da evolução, contestem o facto das hipóteses evolutivas relativamente ao flagelo bacteriano estarem de acordo com as observações dos cientistas – contestem as evidências de que este é o resultado de duplicações de genes e diversificação (tudo isso ocorre naturalmente, sem necessitar de design). É que essas coisas deixam marcas e é de esperar encontrar determinado tipo de marcas (genes homólogos dentro do mesmo organismo, por exemplo). Publiquem em revistas científicas sobre isso. Ou como disse Charles Darwin: “If it could be demonstrated that any complex organ existed which could not possibly have been formed by numerous, successive, slight modifications, my theory would absolutely break down. But I can find out no such case.” E até hoje isso mantém-se e estende-se até ao nível molecular (dentro daquilo que foi analisado).»

Criacionista: «Duvido que qualquer evidência falseie o darwinismo, neo darwinismo, evo-devo e etc…» 

Eu: «Eu acabei de lhe dizer como falsear as hipóteses sobre a evolução dos seres vivos que se baseiam em tudo isso. É verificar se o que estas prevêem que vamos encontrar está presente no genoma em causa e até dei exemplos de casos reais [nos casos que eu descrevi, ao descobrir que não havia evidência de duplicação, ou seja, homologia, essa hipótese seria descartada]. E de facto isso já foi feito e quem não concorda, que conteste e publique com base numa análise sua.»


Actualização1:

Relembrando outras conversas que tive com criacionistas relativamente ao facto deles estarem sempre a dizer que a evolução não explica o aumento de informação no genoma, eu já lhes expliquei como a selecção natural o pode fazer no sentido de aumentar a informação como definida por Shannon (e algures no outro blog eu apresentei referências bibliográficas, indicando um artigo publicado numa revista científica) e também já lhes disse que, em termos biológicos, nova informação, ou seja, novos genes apareciam por duplicação e divergência. Mas isso em nada alterou as suas crenças infundadas de que Jesus criou os genomas dos seres vivos. Pode-se passar um tarde inteira a tentar ensinar-lhes um pouco de ciência - até coisas que deveriam ser do conhecimento geral, mas não dá resultado. O máximo que se pode fazer é expor a quem ler (ou ouvir) os erros patéticos dos criacionistas).


Actualização 2:

Além de todos os outros tópicos em que os criacionistas ignoram a realidade, por mais que afirmem que a teoria da evolução é inútil e que ninguém ganha prémios por acreditar na evolução (c.), o conhecimento de que humanos, ratos e leveduras são relacionados em termos de parentesco e que a selecção natural teve um papel crucial ao preservar certos genes (genes conservados) foi fundamental para que Leland Hartwell ganhasse um Prémio Nobel em 2001 (2).
Desde quando é que as teorias criacionistas começaram a ganhar prémios Nobel ?

Referências 

1. «The mystery of extreme non-coding conservation», Nathan Harmston et al, 11 November 2013 doi:10.1098/rstb.2013.0021, Phil. Trans. R. Soc. B 19 December 2013 vol. 368no. 1632 20130021 
2. «Evolution is a Winner — for Breakthroughs and Prizes», James McCarter (disponível aqui: http://ncse.com/rncse/25/3-4/evolution-is-winner-breakthroughs-prizes)

* Notas:
a.)  Disponível aqui: http://darwinismo.wordpress.com/2013/11/16/o-rna-circular-esta-de-acordo-com-a-teoria-da-evolucao/. O indivíduo a que me referi no texto usa o nome "Jeph". 
b.)  Relativamente à questão da parcimónia, há mais pormenores, mas em nada altera o resultado para os criacionistas. Aqui está um texto que explica isso (não vou fazer o trabalho que já está feito):  http://ktreta.blogspot.pt/2011/09/parcimonia.html 
c.) Pode ser confirmado aqui: http://darwinismo.wordpress.com/2013/11/07/protegendo-a-teoria-da-evolucao/ (caixa de comentários)







sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Tretas dos cristãos (parte IV)


MAUS ARGUMENTOS A FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS (2)

Vou abordar outra vez o argumento do “fine-tuning” - que se baseia a improbabilidade de um universo como o nosso, que permite a vida como a conhecemos – o qual é usado normalmente pelo William Lane Craig. A probabilidade de um universo escolhido ao acaso (com as suas leis, constantes e condições iniciais), que permita vida é muito pequena. No entanto, além de um universo como este ter uma probabilidade igual a 1 de existir em algum lado do multiverso se existirem universos suficientes, a probabilidade de eu me encontrar num universo com vida é também igual a 1 pelo princípio antrópico. É uma espécie de selecção natural. Mas se o Craig não percebe como funciona a evolução (e ele deu mostras de não perceber num debate com o falecido Christopher Hitchens), então também nunca vai perceber isto. 


Nota: Ver também: «Stephen Hawking e a origem do universo: um universo que veio do nada» (disponível aqui: http://allthatmattersmaddy32.blogspot.pt/2013/01/stephen-hawking-e-origem-do-universo-um.html)

Ateísmo militante


Certas pessoas cometem actos públicos de protesto ou outros em nome das suas convicções em relação à religião. Aqui estão alguns exemplos: 



quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sobre o ensino da evolução nos E.U.A.

Os alunos do ensino secundário do Texas (E.U.A.) vão continuar a receber informação adequada sobre a teoria da evolução e o facto da evolução em si, pois os padrões que os criacionistas conseguiram que fossem aprovados perderam a influência com uma lei de 2011 e os livros do costume não têm sofrido alteração nesse aspecto e continuam a ser aprovados. Mais uma vez os criacionistas perderam e o ensino de qualidade no que respeita à biologia continua próspero no Texas. Eu não compreendo a persistência dos criacionistas: é pouco provável que alguma vez os seus ataques ao ensino da biologia tenham sucesso, pelo que tem vindo a acontecer há já muitos anos. Um exemplo característico é o julgamento de Dover. Outros mais antigos que podem ser menos conhecidos são Epperson v. Arkansas e Edwards v. Aguillard, os quais ocorreram enquanto ainda se lutava para acabar de vez com o tratamento especial da doutrina cristã nas escolas públicas dos Estados Unidos, em 1968 e 1987, respectivamente.


Referências: 

- What’s the Future of Texas Textbook Battles?, Josh Rosenau, November 18, 2013 (NCSE) (disponível aqui: http://ncse.com/blog/2013/11/what-s-future-texas-textbook-battles-0015186)


Storm Clouds on the Horizon of Darwinism, Jeffrey F. Addicott, Ohio State Law Journal, Vol. 63:1507, 2002
(disponível aqui: http://moritzlaw.osu.edu/lawjournal/issues/volume63/number6/addicott.pdf)
 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Tretas dos teístas: Dawkins vs Chopra

Hoje vi um debate (em vídeo) muito engraçado entre Deepak Chopra e Richard Dawkins (11-9-2013). Eu descrevo-o como "muito engraçado" porque a falta de compreensão das explicações de Dawkins do Dr. Chopra, que é um criacionista de armário, é hilariante. Dá a impressão de que este nunca percebeu como funciona a evolução e que por isso não percebe nada do que o Dawkins diz. Além disto, fez uma grande confusão entre o universo e aquilo que está contido no universo, que é apenas parte dele, entre outras confusões acerca de... tudo e mais alguma coisa. 
Aqui está o vídeo do debate:



Tretas dos cristãos (parte III)

MAUS ARGUMENTOS A FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Há uns dias deparei-me com alguns vídeos destinados a demolir alguns argumentos cristãos. Vi os vídeos e resolvi divulgá-los no blog porque os achei bastante claros e fáceis de compreender. O primeiro é sobre o argumento do "fine-tuning" do universo  - que se baseia a improbabilidade de um universo como o nosso - e o centro da discussão é o facto do William Lane Craig ter afirmado que seria mais provável um universo de cérebros em (absurdo) do que neste universo, portanto a hipótese do "acaso" não é uma boa explicação, sendo portanto preferível a hipótese do design. Isto é claramente uma falsa dicotomia e além disso, se existirem universos suficientes no multiverso para cobrirem cada uma das possibilidades, então a existência até do universo mais raro seria possível e até inevitável, não sendo necessário invocar um designer, mesmo que as duas hipóteses consideradas por Craig fossem as únicas possíveis.  
O segundo vídeo centra-se no velho argumento dos cristão de que ao admitir as leis da lógica e da física, os ateus estão a admitir deus, pois estas só podem vir de deus. Ainda que as leis tenham sido criadas por deus, isso não resolve a questão de que um humano as possa usar ou não bem. E as leis da física são descritivas e não prescritivas (o que não significa que nós não possamos aplicar as nossas descrições de um modo prescritivo.) Quanto ás leis da lógica, estas existem porque os humanos existem e não porque deus existe. 
Aqui estão os vídeos: 






Actualização:

Para visualizar o meu comentário sobre este assunto no "Pharyngula" deve-se aceder ao seguinte endereço:


http://freethoughtblogs.com/pharyngula/2013/12/16/but-mr-craig/comment-page-1/#comment-726950.

Para visualizar o texto do Dr. P. Z. Myers («But Mr. Craig...!»):

http://freethoughtblogs.com/pharyngula/2013/12/16/but-mr-craig/comment-page-1/

Devem também ser vistas as actualizações no texto «Destruindo o argumento cosmológico (parte II)»  

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Ateísmo, Inteligência e Síndrome de Asperger

A correlação positiva muito significativa entre ateísmo e inteligência (0,60) e a constatação de que os ateus são mais inteligentes num estudo realizado com dados de 137 países (1) e noutros referentes ao mesmo assunto (2) deixa os religiosos muito aborrecidos (3).
Agora, os cristãos, andam por aí a apregoar que “muitos ateus” têm Síndrome de Asperger (*). Mas ainda que fosse verdade, não existe qualquer motivo para pensar que isso é mau. O Síndrome de Asperger traz tanto de vantagens como de desvantagens. Regra geral, uma pessoa com A. S. tem uma inteligência média ou acima da média e pode ser muito boa num determinado campo de interesse e essas pessoas ultrapassam muitas vezes os colegas na escola, tendo resultados satisfatórios em matemática e bons ou excelentes em ciências e línguas (4).
Há uns dias deparei-me com um texto na internet (*) e fiquei espantada com tantas parvoíces. Vou aqui abordar algumas.
Relativamente ao ateísmo: «(...) é normal que ele comece na adolescência, como uma projecção de problemas de relacionamento com o pai ou como consequência de Síndrome de Asperger, e depois se estenda de forma natural a fase adulta.» Compete ao autor da alegação demonstrar tal coisa ou apresentar os estudos que este afirma existirem. E não vale apresentar estudos que não demonstrem o que acabou de escrever. O facto dos ateus serem de um modo geral mais inteligentes e conseguirem distinguir as tretas que os religiosos (sobretudo os cristãos) apregoam parece-me uma explicação muito mais plausível. E sim, o ateísmo muitas vezes começa na adolescência ou na pré-adolescência, também chamada idade da razão, em que o desenvolvimento do jovem atingiu um nível em que este é capaz de aprender e raciocinar sobre o assunto. 
«O literalismo ateísta lembra sintomas da síndrome de Asperger Sheldoniana, é burro e desonesto. Então notamos dois casos de interpretação equivocada da Bíblia.» Burro é quem não enxerga o que está mesmo diante de si - os criacionistas, incluindo os criacionistas do D.I. são um bom exemplo disso porque muitos estudam ciências e biologia em especial (incluindo evolução) e continuam na mesma. Isso ou é défice cognitivo ou é viés. Quanto aos ateus, de um modo geral sabem que há interpretações alternativas à literal, mas pensam que estas em nada melhoram a situação para o cristianismo.
No que respeita às relações interpessoais, não há pior do que um criacionista fanático (e falo por experiência própria e não só), pois são conflituosos e não percebem ou não querem perceber nada do que se lhes explica, vivendo num mundo de fantasia e fundamentalismo só deles.

*Nota: disponível aqui: http://www.blogger.com/comment.g?blogID=6103548286498383937&postID=4302925885864508420&page=1&token=1384871751831. O autor destas parvoíces é o criacionista Francisco Tourinho (outra vez).  

Referências:

1. Lynn, Richard; John Harvey and Helmuth Nyborg (2009). "Average intelligence predicts atheism rates across 137 nations". Intelligence 37: 11–15. doi:10.1016/j.intell.2008.03.004. Retrieved 2008-06-27. (Sobre o assunto: http://en.wikipedia.org/wiki/Religiosity_and_intelligence)


3. «Atheists are more intelligent than religious people? That's ‘sciencism’ at its worst», FRANK FUREDI, Tuesday 13 August 2013

4. «Asperger syndrome» - MedlinePlus, 5/16/2012, (Jennifer K. Mannheim, ARNP, Medical Staff, Department of Psychiatry and Behavioral Health, Seattle Children's Hospital. Neil K. Kaneshiro, MD, MHA, Clinical Assistant Professor of Pediatrics, University of Washington School of Medicine, David Zieve, MD, MHA, Medical Director, A.D.A.M. Health Solutions, Ebix, Inc.) (disponível aqui: http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/001549.htm)

Literatura recomendada:

- Bostic JQ, Prince JB. Child and adolescent psychiatric disorders. In: Stern TA, Rosenbaum JF, Fava M, Biederman J, Rauch SL, eds. Massachusetts General Hospital Comprehensive Clinical Psychiatry. 1st ed. Philadelphia, Pa: Mosby Elsevier;2008:chap 69.


- Raviola G, Gosselin GJ, Walter HJ, DeMaso DR. Pervasive developmental disorders and childhood psychosis. In: Kliegman RM, Behrman RE, Jenson HB, Stanton BF, eds. Nelson Textbook of Pediatrics. 19th ed.Philadelphia, Pa: Saunders Elsevier; 2011:chap 28.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A religiosidade exacerbada dos americanos reflecte-se nos gostos musicais


Aqui e ali eu leio e ouço mexericos sobre celebridades a toda a hora – em revistas, na internet (fóruns, notícias, etc.), na rádio… Uma das coisas que eu tenho vindo a notar há muito tempo é a quantidade de críticas negativas que a cantora Beyoncé tem tido por causa da música “Ave Maria”, que apesar da influência católica na forma de expressão, não é sobre religião, mas sobre uma relação a dois e sobre os sentimentos e emoções envolvidos. Uma das razões das críticas é que esta música foi cantada no Natal e isso, segundo alguns, não é apropriado porque a música é, no fundo, sobre uma relação a dois e não sobre religião (*). Não vejo onde está o mal. O Natal é também a festa da família e é para estarmos próximos de quem gostamos no feriado e fazermos coisas juntos. Os cristãos têm que largar o literalismo bíblico se quiserem viver no mundo moderno ou não me parece que alguma vez vão estar em harmonia com aquilo que os rodeia. Têm que estar sempre do contra, porque acham que deviam viver numa teocracia como na idade média.  


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A Origem da Homoquiralidade: a estranha história de Marcos Eberlim


Existam evidências de mecanismos de síntese selectiva relativamente á quiralidade, - catálise assimétrica, de que as polimerizações dos primeiros aminoácidos poderiam perfeitamente ter produzido formas enzimáticas capazes de catálise assimétrica. Relativamente á catálise assimétrica, “níveis” de quiralidade baixos (que podem acontecer ao acaso) originam “níveis” superiores de quiralidade. (1) Além disso, os péptidos L são mais flexíveis a ajustes estruturais, tendo por isso mais facilidade em adaptarem-se e a serem seleccionados – esta selecção seria análoga á selecção natural da teoria da evolução (2).
Agora vamos fingir que o que eu mencionei anteriormente era impossível de acontecer. Então, ficamos com uma questão por resolver: «Qual é a origem da homoquiralidade?» E nada mais do que isso. Mas o Dr. Marcos Eberlim parece não perceber. Para ele basta alegar (nem sequer é preciso demonstrar) que tudo isso é impossível, pois se isso é impossível, então o responsável pela formação de moléculas homoquirais é o deus do Marcos Eberlim. E nem sequer repara que está a formular um argumento da ignorância do tipo: «Eu não sei o que aconteceu, portanto o meu deus preferido entre todos os outros foi o responsável» (3). Este criacionista disparatado já foi um cientista envolvido em pesquisas sobre a homoquiralidade que não tinha essa atitude quando trabalhava. Pela sua atitude relativamente á investigação nessa área (e ao seu próprio trabalho anteriormente publicado), parece-me que deixou de ser um cientista há muito tempo (4).
Eberlim colocou algumas questões, que há luz daquilo que referi no início não fazem qualquer sentido: envolvem estranhos ribossomas e DNA racémicos e o autor não parece perceber o tipo de selecção que possivelmente actuou neste cenário (4). 

Referências:

  1. Catálise assimétrica e o Prêmio Nobel de química 2001 – QNEsc (via “NetNature”)
  2. Chirality-controlled formation of ß-turn secondary structures in short peptide chains: gas-phase experiment versus quantum chemistry, V. Brenner, F. Piuzzi, I. Dimicoli, B. Tardivel, and M. Mons, Angewandte Chemie International Edition, 46, (2007) 2463. (via Cea, disponível aqui: http://iramis.cea.fr/en/Phocea/Vie_des_labos/Ast/ast.php?t=fait_marquant&id_ast=845)
  3. «Resposta final do Dr. Eberlin ao debate proposto por ele», 2013/04/16/ (disponível aqui: http://evolutionacademy.bio.br/2013/04/16/resposta-final-do-dr-eberlin-ao-debate-proposto-por-ele/)
  4. «Homoquiralidade: “ouro dos tolos” e o ónus da prova», 2013/04/10 (disponível aqui: http://www.cienciaefe.net/2013/04/homoquiralidade-ouro-dos-tolos-e-o-onus.html)      

Criacionistas: ensiná-los é impossível, mas desmenti-los não é

Ao longo dos meus vários “debates” na internet com criacionistas aprendi uma coisa: regra geral não se consegue desfazer as confusões que estes arranjam na cabeça deles, mas quando tentam propagá-las, podem ser desmentidos. Isso é o máximo que se consegue. Explica-se uma e outra vez como os cientistas estudam a evolução em termos genéticos e que os sistemas e estruturas biológicos propostos pelos criacionistas já foram investigados e foi concluído que as hipóteses evolutivas foram favorecidas pelas observações - ou seja, explica-se como os cientistas trabalham). Mas isso de nada vale para os fazer mudar de ideias, pois continuam a dizer coisas como: “A teoria da evolução tem apenas pessoas que defendem a ideia de que não existe um designer” (*). Isso não é assim. A teoria da evolução (bem como todas as hipóteses evolutivas aceites) é apoiada por evidências e é o fruto do trabalho de vários cientistas ao longo do tempo, começando por Darwin e Wallace, passando por Ohno, Haldane - no campo da genética de populações e muitos outros.
Darwin era cristão e criacionista, como muitos cientistas no seu tempo, quando descobriu que a selecção natural poderia ser uma boa parte da explicação para a diversidade e complexidade da vida – ou seja, quando começou a trabalhar na sua teoria. As suas dúvidas relativamente á existência de deus vieram depois, quando finalmente se apercebeu da realidade do mundo em que vivia. O próprio pai da teoria mudou de ideias face às evidências. Mas não se consegue convencer um criacionista de que aquilo em que ele acredita está errado.



*Nota: Um bom exemplo desta situação pode ser encontrado aqui: http://darwinismo.wordpress.com/2013/11/07/protegendo-a-teoria-da-evolucao/#comment-22780 (note-se que o comentário é de uma pessoa que já leu várias coisas que escrevi sobre o assunto).  

Evolução Humana: o ataque à ciência continua (parte II) [Reeditado]

Evolução Humana: o ataque à ciência continua (parte II)

Com a descoberta de fósseis que foram classificados como Homo habilis e Homo erectus (entre outros) podemos ver como as espécies evoluíram em termos de capacidade craniana aumentando-a, entre outras características, tais como a postura. O tamanho do cérebro triplicou ao longo da evolução humana - isso é justificado pelo aumento da capacidade craniana observada no registo fóssil.  
Em termos moleculares, um dos eventos marcantes a nível do genoma foi a fusão de dois cromossomas que reduziu o nosso número de cromossomas relativamente aos nossos ancestrais e aos outros primatas modernos. As evidências provenientes da semelhança de sequências mostram-nos que partilhamos um ancestral comum com os outros primatas e que mais recentemente dois dos cromossomas ancestrais se fundiram. Outro facto interessante é que temos uma taxa de mutações muito elevada, mas que não nos faz mal nenhum porque temos montes de lixo genético neste nosso genoma, o qual possui apenas uma pequena percentagem que se encontra sob selecção purificadora.
Certas organizações de carácter religioso fundamentalista e moderado têm contestado tudo, incluindo o Discovery Institute. No livro «Science and Human Origins», escrito por membros dessa organização, os habituais criacionistas do design inteligente queixam-se do registo fóssil e apontam para descontinuidades. Mas mesmo incompleto (como era de esperar), o registo fóssil indica-nos, como já referi anteriormente, que evoluímos de ancestrais mais parecidos com outras espécies actuais de primatas do que connosco, o que nos liga a estes através de ancestralidade comum e que as alterações que ocorreram não foram abruptas, mas foram-se instalando, como no caso da capacidade craniana e a mudança de postura, por exemplo. Não podemos traçar uma linha, como os criacionistas pretendiam fazer, e dizer: “a partir daqui é humano” – o “humano” foi-se fazendo aos poucos.
Quanto ao DNA lixo, o autor do capítulo que se refere a esse assunto basicamente nega a sua existência no nosso genoma, generaliza sobre pequenas partes que foram identificadas como funcionais e afirma que os cientistas apenas assumem que o DNA não-codificante é lixo. Penso que o que tem sido referido sobre o assunto demonstra que isso está errado e não passa de um espantalho. Os cientistas não assumem, os cientistas investigam. Ainda relativamente à evolução molecular, mas desta vez sobre evolução proteica, os criacionistas testaram a hipótese de que uma proteína podia evoluir para outra proteína sua “prima” e afirmaram que isso impunha uma espécie de limite estatístico ao que os processos evolutivos conhecidos podem fazer. Além de não terem testado uma hipótese evolutiva eles não têm nada que apontar como única solução para um problema “aquela” função pré-especificada (além de que apenas testaram substituições de nucleótidos). É a mesma coisa que ganhar com qualquer sequência de cartas relevante ou ganhar com uma sequência Royal Straight Flush (no pocker, por exemplo) (*). O mais engraçado é que os membros do Discovery Institute afirmam a pés juntos que as suas ideias a respeito da evolução nada têm a ver com religião, mas nesse mesmo livro existe um capítulo dedicado a demonstrar a possibilidade da existência de Adão e Eva.

*Nota: fui buscar algumas ideias à revisão completa do livro do Dr. Paul McBride, (disponível aqui: http://apomorph.blogspot.pt/2012/06/science-and-human-origins-chapter-5.html). 


Referências:

- Human Evolution, May 1987, Volume 2, Issue 3, pp 213-220, «Hominid cranial capacity change through time: a darwinian process», M. Henneberg

- «Bigger Brains: Complex Brains for a Complex World», Smithsonian – National Museum of Natural History (disponível aqui: http://humanorigins.si.edu/human-characteristics/brains)


- Ohno, S. 1972. So much “junk” DNA in our genome. In Evolution of Genetic Systems (ed. H.H. Smith), pp. 366-370. Gordon and Breach, New York. (sobre esse assunto: http://www.genomicron.evolverzone.com/2007/04/word-about-junk-dna/)

- GAUGER, A., AXE, D.. The Evolutionary Accessibility of New Enzymes Functions: A Case Study from the Biotin Pathway. BIO-Complexity, North America, 2011, apr. 2011. (disponível aqui: http://bio-complexity.org/ojs/index.php/main/article/view/BIO-C.2011.1, 08 Nov. 2013.)



[Este texto foi reeditado de ontem para hoje devido a um erro: era uma função pré-especificada e não uma "sequência" pré-especificada. Foi também adicionado ás referências o artigo original de Axe e Gauger (2011) que trata desse assunto.]

sábado, 2 de novembro de 2013

Culturalmente Cristãos [Modificado]

Tal como os meus pais sou ateia porque não acredito em deus e acho a hipótese de um deus pessoal a mais ridícula no que respeita a esse assunto. Mas somos culturalmente católicos, pois, apesar de não frequentarmos a igreja, somos baptizados, continuamos a decorar a casa, a fazer árvore de Natal e presépio e a trocar prendas na noite de Natal e temos uma certa admiração (apesar de não tanta quanto costumávamos ter) pela personagem de Jesus, seja ela real ou fictícia. Na minha família de um modo geral penso que é isto que se passa em relação à religião.
Eu nunca respondo que sou católica se me perguntarem sobre a minha religião por escrito e/ou para fins estatísticos. O máximo que pode acontecer é numa conversa dizer que não acredito em deus, mas que culturalmente sou católica – faço árvore de Natal, etc. Como eu há outros, mas em contrapartida, conheço gente (dentro da minha família alargada) que, apesar de não acreditarem/não terem opinião formada em relação a deus dizem que são católicos, porque ainda se sentem parte dessa religião em termos culturais. E é aqui que entram as estatísticas. Quantas pessoas se identificam com as posições teológicas da religião a que dizem pertencer e com os dogmas das mesmas? Quantos “católicos” acreditam de facto num deus pessoal? E quantos é que acreditam literalmente na ressurreição física de Jesus? E os outros cristãos? Nem todos acreditam nisso. No Reino Unido, estatísticas relativas aos censos 2011 apontam para que apenas 32% dos “cristãos dos censos” acreditavam literalmente na ressurreição física de Jesus e 49% (quase metade) não acreditava que em Jesus como o filho de deus. Ainda no Reino Unido, apenas um terço (cerca de 33%) desses cristãos invocaram crenças religiosas como justificação para a sua resposta, 37% deles nunca rezavam fora dos serviços religiosos e apenas 26% afirmaram acreditar totalmente no poder da oração (ou seja, num deus que ouve e leva a sério as orações). Tudo isso, como era de esperar, reflectiu-se na frequência dos serviços religiosos: 67% dos cristãos não compareciam num serviço religioso (excluindo ocasiões especiais, como casamentos, funerais e baptizados) há 12 meses ou há mais de 10 anos ou nunca o fizeram. E a descrença numa ressurreição física literal e noutros dogmas como o nascimento virgem chegou até aos sacerdotes católicos e anglicanos no Reino Unido (2002). Segundo um estudo estatístico realizado em 2001, nos Estados Unidos 95% dos cristãos acreditava na ressurreição. 5% não acreditavam. É uma percentagem muito superior de crentes na ressurreição relativamente à do Reino Unido (ainda que não sejam estatísticas do mesmo ano e isso possa ter sofrido alterações). Mesmo assim, 5% dos cristãos não acredita na ressurreição e é preciso ter em conta que a amostra inclui certamente um grande número de cristãos evangélicos fundamentalistas. 
Das estatísticas apresentadas no parágrafo anterior surgem algumas questões. Podem ser considerados cristãos os que não acreditam num dos dogmas essenciais ao cristianismo, a ressurreição? Acho que não. Mas talvez daqui a uns anos a questão da ressurreição seja respondida da mesma maneira que a da criação em 6 dias: “é uma metáfora.” E o nascimento de uma virgem vai pelo mesmo caminho. As percentagens apresentadas anteriormente, especialmente as relativas á crença no poder das orações e em Jesus como o filho de deus, sugerem que poucos cristãos no reino unido acreditam num deus pessoal. Será que podem ser considerados cristãos ou mesmo teístas? Não me parece. Ao olhar para gráficos como aqueles que apresentei anteriormente aqui no blog, podemos pensar que o que mais predomina no mundo são as crenças religiosas do cristianismo e do islamismo. Mas quantos desses “crentes” (incluindo muçulmanos) se identificam com a teologia e os dogmas da religião a que afirmam pertencer? Nem todos e no Reino Unido são mesmo muito poucos. Seria interessante saber qual é a situação a nível mundial relativamente às religiões predominantes (cristianismo e Islamismo). 

Referências:

- Maas, A. (1911). «General Resurrection», Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Retrieved November 1, 2013 (New Advent: http://www.newadvent.org/cathen/12792a.htm)

- KIRBY, PAULA, «RDFRS UK/Ipsos MORI Poll #1: How religious are UK Christians?», 14 February 2012  (RDFRS UK - RICHARDDAWKINS.NET: http://old.richarddawkins.net/articles/644941-rdfrs-uk-ipsos-mori-poll-1-how-religious-are-uk-christians)  
- Petre, Jonathan, «One third of clergy do not believe in the Resurrection», 31 Jul 2002 – The Telegraph (disponível aqui: http://www.telegraph.co.uk/news/uknews/1403106/One-third-of-clergy-do-not-believe-in-the-Resurrection.html)


- Robinson, B. A., «Christian laity & clergy: Beliefs about Jesus' resurrection - Harris polls of American adults», 14/04/2003 (disponível aqui: http://www.religioustolerance.org/resurrec8.htm)


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Religião: Curiosidades


Escutar conversas alheias é feio

A última mania dos Estados Unidos é escutarem as conversas dos outros: até já chegou ao Vaticano: A NSA espiou as comunicações telefónicas do Vaticano antes do conclave que elegeu o Papa Francisco.
Outra vítima da “cusquice” da NSA foi a chanceler alemã Ângela Merkel, cujo telemóvel aparece na lista de objectivos da NSA desde 2002, três anos antes de ganhar as eleições.

Referências:

- «EUA espiaram conversas no Vaticano antes da eleição do Papa Francisco», 2013-10-30 – Jornal de Notícias (disponível em: http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=3505880»

- «NSA garante que Obama desconhecia escutas a Merkel», 27-10-2013 - Diário Digital com Lusa (disponível aqui: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=664771)


A contestação da ressurreição é mais antiga que Jesus

A contestação da ressurreição da carne, a qual não se cinge á ressurreição de Jesus (de acordo com a fé cristã, todos hão-de ressuscitar) começou na antiguidade, sendo Platão (Atenas, 348/347 a.C.) um exemplo. Esta contestação continuou com os gnósticos, incluindo os Cátaros (politeístas dualistas que se basearam na tradição judaico-cristã), até cegar aos dias de hoje com os contestatários racionalistas, materialistas, panteístas e provavelmente deístas. 

Referências

- Maas, A. (1911). «General Resurrection», The Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Retrieved November 1, 2013 (New Advent: http://www.newadvent.org/cathen/12792a.htm)

- Weber, N. (1908). «Cathari» The Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Retrieved November 1, 2013 (New Advent: http://www.newadvent.org/cathen/03435a.htm)


Wicca: religião nova ou antiga?

Depende do ponto de vista.
A religião Wicca é caracterizada como uma religião neo-pagã, pois existe uma tentativa de reconstruir as antigas tradições pagãs. Aqui estão os vários pontos de vista em relação aos deuses abrangidos pelos que se identificam com esta religião, cujo factor comum é a integração dos conceitos de masculino e feminino como sendo centrais para a sua vivência:

- Politeísmo (apenas duas divindades): Adoração da Deusa (“Senhora”) e do seu companheiro (“Senhor”) (*a)

- Politeísmo (mais do que dois deuses): Adoração de muitos deuses antigos (também com sexo definido): Aphrodite, Artemis, Briget, Diana, Dionysius, Fergus, Hecate, Isis, Pan, Thor, entre outros (que por vezes são considerados aspectos do Deus e da Deusa) (*b)

- Ateísmo: Alguns Wiccans vêem Deus e a Deusa como símbolos e não como entidades vivas sobrenaturais, pelo que podem ser considerados ateus.

- Panteísmo: A natureza é digna de veneração (como uma entidade divina). A designação “Deusa” por vezes pode referir-se á “beleza da Terra” e à “lua branca”, o que aponta para a ideia de que, por alguns, esta não é vista como uma entidade separada da natureza.  


Os wiccans não adoptam nenhum mito da criação em particular, pelo que é possível que todos os pontos de vista sejam compatíveis com a teoria da evolução e outras teorias científicas e hipóteses sobre as origens.
Outros pontos importantes para os wiccans:

- O feminino é pelo menos tão importante como o masculino

- A importância da preservação da natureza

- Moral individualista

- Atitudes positivas relativamente á sexualidade

- A passagem das estações


Esta religião não aparece discriminada no gráfico relativo às preferências religiosas a nível mundial, provavelmente porque tem poucos adeptos a nível global (apesar de estar em crescimento nos E.U.A.), para além de que os Wiccans gostam de manter a sua religião em privado. No entanto, os seus seguidores podem estar incluídos no sector “outras religiões” ou até mesmo nos “não-religiosos”, uma vez que os wiccan são normalmente discretos.
Mais informações sobre esta religião podem ser encontradas aqui: http://www.thewiccanway.org/index.html

*Notas.
a.) Pode-se considerar ainda o monoteísmo, no entanto não considero a distinção relevante porque na prática continua a existir uma dualidade sexual - uma “parte” feminina e uma “parte” masculina, ainda que possam ser considerados “aspectos de um só” e a interpretação pode ser também a união sexual e não um deus único.

b.) As palavras “Deus” e “Deusa” estão escritas com iniciais maiúsculas, apenas por ser prático para os distinguir, como se fossem os seus nomes, visto que não tenho alternativas úteis e não por ter mais respeito pela crença em deuses dos seguidores desta religião do que pela crença no deus judaico-cristão.

Referências:

- Robinson, B. A., «Wicca: An Introduction», 31/01/2012 (disponível aqui: http://www.religioustolerance.org/wic_intr.htm)

- «The Global Religious Landscape», DECEMBER 18, 2012 – PewReasearch (disponível aqui: http://www.iup.edu/page.aspx?id=11805)

- «What is Wicca?» (disponível aqui: http://www.thewiccanway.org/What.html)

- «The Book of Shadows - Charge of the Goddess» (disponível aqui: http://www.thewiccanway.org/chargeofgoddess.html

Evolução humana: o ataque à ciência continua

Um estudo publicado recentemente este ano (1) relata a descoberta de um novo fóssil com 1,8 milhões de anos na Geórgia (o “crânio 5”), que é provável pertencer a uma subespécie de Homo erectus e à mesma espécie de outros encontrados no mesmo local. É uma espécie que se diversificou, havendo bastante variabilidade entre os seus indivíduos, o que põe em causa a classificação de outros fósseis em espécies diferentes, como por exemplo a espécie Homo habilis (*).
A interpretação correcta do que se lê acerca do assunto é a seguinte: sejam todos os fósseis classificados dentro do género Homo da mesma espécie (pouco provável) ou não, os fósseis de espécies dos géneros Australopithecus e Homo continuam a evidenciar a evolução a partir de um ancestral mais semelhante a um chimpanzé ou um bonobo até ao que somos agora. O artigo trata de detalhes específicos da evolução humana e põe em causa hipóteses muito particulares acerca da nossa história evolutiva e não a hipótese de que nós evoluímos de ancestrais mais parecidos com outras espécies actuais de primatas do que connosco, o que nos liga a estes através de uma coisa chamada ancestralidade comum.
A interpretação criacionista acerca do que se lê sobre o assunto é a seguinte: “A teoria da evolução é a única teoria ‘científica’ que sofre modificações profundas à medida que a ciência vai avançando.” Ou então: “Há mais de dez anos que tenho ouvido os criacionistas dizerem que o género homo não passa de uma variação dentro da espécie humana. Os evolucionistas descobriram algo que todos os criacionistas já sabiam.” Isto parece implicar que eles pensam que tudo o que pertence ao género homo é da mesma espécie que nós (Homo sapiens), o que está completamente errado: são espécies diferentes do mesmo género e o registo fóssil continua a demonstrar que não passamos de primatas (macacos, por assim dizer), mas mais inteligentes do que os restantes (pelo menos alguns de nós, o que não inclui os criacionistas). Como sempre, os criacionistas aproveitaram para espalhar enganos e mentiras, atacando a ciência e os cientistas. Ainda não aprenderam que isso não lhes serve de nada – os cientistas continuam a fazer ciência e nada muda relativamente à realidade da evolução.  

* Nota: Sobre este assunto, além do artigo científico citado, existe informação fidedigna para o público leigo no «Panda’s Thumb»: http://pandasthumb.org/archives/2013/10/new-dmanisi-skull.html


Referências:

1. Lordkipanidze D, Ponce de Leon M. S., Margvelashvili A., Rak Y., Rightmire G.P., Vekua A., Zollikofer C. P. E. (2013): A complete skull from Dmanisi, Georgia, and the evolutionary biology of early Homo. Science, 342:326. (resumo disponível aqui: http://www.sciencemag.org/content/342/6156/326.abstract)

2. «Darwinismo» - "Crânio com 1,8 milhões de anos põe em causa história da evolução humana"

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Ciência e religião: o que dizem as estatísticas (parte II)


Estudos mostram que entre 80 e 83% da população dos estados unidos em geral acreditava num deus pessoal (que faz milagres/atende orações) e que 57% eram a favor do dia nacional da oração em 2010.
Em contraste com a grande percentagem de crentes zombies no geral da população, apenas 40% dos cientistas acredita num deus pessoal. Isso significa que uma maioria de 60% dos cientistas não acredita num deus pessoal, ou seja, são ateus na prática. É uma grande discrepância e posso apontar uma razão para essa discrepância: os cientistas são os que mais contactam com a investigação em torno da origem e evolução da vida e da origem do universo/multiverso em que vivemos e desenvolvem muito mais o seu espírito crítico, o que é muito importante quando se trata de contestar a religião que predomina na sociedade em que se vive.  
As estatísticas voltam a mostrar-nos que nos meios mais esclarecidos em termos científicos, as pessoas tendem a descrer num deus pessoal. E isso é bom.

Referências:

- E.J. Larson and L. Witham, «Scientists are still keeping the faith», Nature 386 (3 April 1997), 435-436. (sobre este artigo: http://www.mat.univie.ac.at/~neum/sciandf/contrib/clari.txt)

- «Most Americans Believe in Higher Power, Poll Finds», Jacqueline L. Salmon, Washington Post, Tuesday, June 24, 2008; Page A02 (disponível aqui: http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/story/2008/06/23/ST2008062300818.html)


- «Poll: 83% say God answers prayers, 57% favor National Prayer Day». Cathy Lynn Grossman, USA TODAY, 5/4/2010 (disponível aqui: http://usatoday30.usatoday.com/news/religion/2010-05-05-prayer05_ST_N.htm)

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Antony Flew: do ateísmo ao deísmo (e não ao cristianismo)

Os cristãos em geral adoram mencionar Antony Flew como um “ateu famoso que agora acredita em deus” (agora, como quem diz entre 2004 e 2010, ano em que morreu com 87 anos). Esquecem-se normalmente de mencionar é que este filósofo não acreditava no deus do cristianismo ou de qualquer outra religião.
Antony flew era deísta. O deus em que ele acreditava não era o deus dos cristãos (nem sequer de qualquer outra religião).
Flew acreditava num deus que iniciou o universo e de algum modo programou o começo da vida na Terra (embora reconhecendo mais tarde que houve progresso na investigação sobre a origem natural da vida). Estas afirmações de Flew são também bastante conhecidas: "I'm quite happy to believe in an inoffensive inactive god.", "I'm thinking of a God very different from the God of the Christian and far and away from the God of Islam, because both are depicted as omnipotent Oriental despots, cosmic Saddam Husseins". Quando disse isto, Flew já não era ateu e já tinha escrito o livro onde se retratou e se afirmou como deísta (*). No mesmo período rejeitava as ideias de uma vida após a morte, de deus como a fonte do bem (ele afirmava explicitamente que deus criou "montes de" maldade), e da ressurreição de Jesus como fato histórico, embora tenha permitido um capítulo curto com argumentação a favor da ressurreição de Cristo no seu último livro.
Um deus que apenas criou o universo e deixou-se ficar quieto o resto do tempo nada tem a ver com o deus da Bíblia (ou de qualquer outro "livro sagrado" do tipo. É de notar ainda que um deísta como Antony Flew na prática é um ateu, pois não reza, não frequenta a igreja, não acredita na ressurreição nem na revelação de deus ao ser humano.
Outro caso semelhante é o de Peter Hitchens que, apesar de considerar o cristianismo importante em termos morais é agnóstico, embora mais disposto a acreditar em deus do que a não acreditar, mas continua a ser uma referência quando se trata de "ateus convertidos", embora não seja claramente um teísta convicto. Tenho a certeza de que há melhores exemplos. Talvez seja só porque é irmão do Christopher Hitchens e isso faz a história mais interessante. 

*Nota: o Título do livro em Inglês é “ There is a God” e está disponível uma tradução aqui: http://www.scribd.com/embeds/8741262/content?start_page=1

Referências:


- «My Pilgrimage from Atheism to Theism: an Exclusive Interview with Former British Atheist Professor Antony Flew Gary R. Habermas, Philosophia Christi Vol. 6, No. 2 (Winter 2004).» (disponível aqui: http://www.deism.com/antony_flew_Deism_interview.pdf) [no título a posição de Flew está mal representada – ele não era teísta]


- «How I found God and peace with my atheist brother: PETER HITCHENS traces his journey back to Christianity», 16 December 2011 
(disponível aqui: http://www.dailymail.co.uk/news/article-1255983/How-I-God-peace-atheist-brother-PETER-HITCHENS-traces-journey-Christianity.html)

Actualização: mais referências:

- No longer atheist, Flew stands by "Presumption of Atheism" DUNCAN CRARY - Humanist Network News, Dec. 22, 2004 (disponível aqui: http://www.americanhumanist.org/hnn/archives/?id=172&article=0) 

- Atheist Philosopher, 81, Now Believes in God, Richard N. Ostling. Associated Press, 10 December 2004. (disponível aqui: http://www.mail-archive.com/media-dakwah@yahoogroups.com/msg01064.html)

O legado de Ernst Haeckel

No texto que anteriormente abordou a questão dos embriões de Haeckel, eu referi que Haeckel se enganou e corrigiu o seu erro, não tendo cometido nenhuma fraude. Haeckel podia estar errado relativamente à hipótese da recapitulação, mas a verdade é que as semelhanças entre, por exemplo, os embriões dos vertebrados (existe um estádio filotípico conservado) apoiam a hipótese da sua ancestralidade comum, bem como as semelhanças entre os embriões em vários estádios de desenvolvimento e as formas ancestrais da espécie em questão (por exemplo, nos cavalos dedos extra estão presentes á semelhança dos seus antepassados), mas não existe uma recapitulação completa, apenas em algumas estruturas em particular, pelo que embora a expressão “ontogeny recapitulates phylogeny” na generalidade esteja errada, Haeckel acertou em parte.
Tanto Haeckel como Darwin propuseram uma origem química da vida e de facto é nessa direcção que os estudos da origem da vida têm sido desenvolvidos. Haeckel é também o responsável pela teoria colonial sobre a origem da multicelularidade – a qual ainda hoje é aceite como uma boa explicação, por um sistema de classificação que tem em conta as relações evolutivas entre os seres vivos e por conceitos como ecologia,  filo, filogenia e reino protista.
Ernst Haeckel escreveu o livro "Os Enigmas do Universo", no qual ele apresenta as suas opiniões científicas sobre o sistema de classificação e a sua hipótese sobre a origem da vida. Para além disto, expõe nessa obra a guerra entre a religião e a ciência, durante a qual o cristianismo se opôs ao avanço da ciência, facto que a maioria dos defensores dessa religião nega a pés juntos. Nesta obra, como disse o Corvo num comentário ao texto “As não-fraudes da evolução (Adenda)”, Haeckel «expõe de forma brilhante e clara a marcha triunfal do materialismo das ciências naturais». No começo do capítulo “Knowledge and Belief”, página 251 do livro (*) lê-se o seguinte: «A verdadeira revelação […] deve ser procurada apenas na natureza. A rica herança da verdade é derivada exclusivamente das experiências adquiridas no estudo da natureza e das conclusões racionais que foram alcançadas pela associação correcta das observações empíricas. Todo o Homem inteligente […] encontra esta verdadeira revelação na natureza através do seu estudo imparcial e assim liberta-se da superstição com a qual as “revelações” da religião o sobrecarregaram»  

Agradecimentos:



Perguntas sobre evolução

À medida que vou tendo conversas na internet, vão-me sendo feitas perguntas a respeito dos tópicos de genética e evolução, entre outros. As últimas que me fizeram foram estas*:

1.) P. «Se os seres humanos e os chimpanzés fossem realmente diferentes em apenas 1% a nível genético, porque razão isso havia de demonstrar uma ascendência comum? Poderíamos razoavelmente perguntar ao evolucionista porque razão uma diferença de 1% é considerada evidência poderosa para a evolução darwinista, e a que ponto é que a comparação deixaria de apoiar a evolução darwinista? Que tal uma diferença de 2%? 3%? 5%? 10%? Existe aqui alguma métrica objetiva de falseabilidade (sic)?» 
R. Isto não foi uma pergunta foi um batalhão delas. A semelhança genética é um bom indicador de parentesco e tal como era de esperar numa perspectiva evolutiva, a semelhança entre estas duas espécies em geral é maior do que entre o humano e a baleia, por exemplo, apresentamndo grande percentagem de homologia relativamente ao genoma. Acho que isto responde às perguntas, pois descreve (ainda que de modo simplista) o modo como se pensa na biologia evolutiva.

2.) P. «É totalmente natural e lógico que se todas as coisas foram criadas por um Design (sic), elas terão semelhanças e terão os mesmos padrões, qual o problema com isso?»  
R. A esta pergunta eu respondi com outra pergunta, que nunca foi respondida: “Está a insinuar que o seu designer misterioso imita processos naturais e padrões de semelhanças e diferenças resultantes da evolução?”. Agora, sobre hipóteses como essa, ou seja não testáveis, os leitores deste blog (e do anterior) já sabem o que acontece. O lugar do lixo é no lixo.  

O criacionista que me perguntou isto foi o autor da grande confusão sobre o genoma humano que eu penso que consegui desfazer - nada mais, nada menos do que o Francisco Tourinho que agora diz que não nega a evolução mas que acha que estruturas/sistemas irredutivelmente complexos foram obra do seu deus. Santa ignorância.  



domingo, 27 de outubro de 2013

As não-fraudes da evolução (Adenda)

Este texto é uma adenda ao texto que escrevi há umas semanas sobre várias acusações de fraude feitas pelos fundamentalistas religiosos relativos a evidências relativas á história evolutiva de várias espécies incluindo a espécie humana. O texto pode ser encontrado aqui: http://allthatmattersmaddy32b.blogspot.com/2013/10/as-nao-fraudes-da-evolucao.html

Relativamente ao primeiro tópico, os desenhos de Haeckel, eu escrevi o seguinte:

«Haeckel exagerou na representação de algumas das semelhanças presentes em vários embriões que foram comparados por ele num dos seus livros. Mas as semelhanças estavam lá, apenas foram um pouco retocadas nos desenhos do Haeckel. E não em todos nem sequer na maioria. Isso não é fraude. Se eu fizer um desenho daquilo que observo, por exemplo, ao microscópio nunca vais ser igualzinho ao que lá está. Nem se pode dizer que tenha sido feito de propósito para convencer os seus pares de que estes eram parecidos do que na realidade eram, pois os seus outros desenhos que não estavam exagerados já tinham sido vistos pelos seus pares e não seria provável que conseguisse enganar alguém dessa maneira. Mais uma vez, não é uma fraude, é apenas uma representação pouco precisa da realidade que teve muito pouco impacto no consenso científico.» Agora quero fazer uma actualização: para fazer o desenho dos embriões de várias espécies distintas no qual este retocou e exagerou nas semelhanças (que de facto eram muitas) no início do desenvolvimento, Haeckel usou a mesma xilogravura 3 vezes para representar 3 embriões diferentes - o do cão, o da tartaruga e o da galinha. É daí que provém o exagero nas semelhanças entre os embriões. Isto foi claramente um erro e não uma fraude. Quando foi chamado á atenção, Haeckel corrigiu o desenho imediatamente, o que apoia ainda mais a ideia de que Haeckel não cometeu nenhuma fraude. E não vale de nada espancar-lhe os ossos.


Ref.:


Richards, R. J. 2009. Haeckel’s embryos: Fraud not proven. Biology and Philosophy 24:147-154. (http://philpapers.org/rec/RICHEF) (Via “Why evolution is true”)