A correlação positiva muito significativa entre ateísmo e
inteligência (0,60) e a constatação de que os ateus são mais inteligentes num
estudo realizado com dados de 137 países (1) e noutros referentes ao mesmo
assunto (2) deixa os religiosos muito aborrecidos (3).
Agora, os cristãos, andam por aí a apregoar que “muitos
ateus” têm Síndrome de Asperger (*). Mas ainda que fosse verdade, não existe
qualquer motivo para pensar que isso é mau. O Síndrome de Asperger traz tanto
de vantagens como de desvantagens. Regra geral, uma pessoa com A. S. tem uma
inteligência média ou acima da média e pode ser muito boa num determinado campo
de interesse e essas pessoas ultrapassam muitas vezes os colegas na escola,
tendo resultados satisfatórios em matemática e bons ou excelentes em ciências e
línguas (4).
Há uns dias deparei-me com um texto na internet (*) e fiquei
espantada com tantas parvoíces. Vou aqui abordar algumas.
Relativamente ao ateísmo: «(...) é normal que ele comece na
adolescência, como uma projecção de problemas de relacionamento com o pai ou
como consequência de Síndrome de Asperger, e depois se estenda de forma natural
a fase adulta.» Compete ao autor da alegação demonstrar tal coisa ou apresentar
os estudos que este afirma existirem. E não vale apresentar estudos que não
demonstrem o que acabou de escrever. O facto dos ateus serem de um modo geral mais
inteligentes e conseguirem distinguir as tretas que os religiosos (sobretudo os
cristãos) apregoam parece-me uma explicação muito mais plausível. E sim, o
ateísmo muitas vezes começa na adolescência ou na pré-adolescência, também
chamada idade da razão, em que o desenvolvimento do jovem atingiu um nível em
que este é capaz de aprender e raciocinar sobre o assunto.
«O literalismo ateísta lembra sintomas da síndrome de
Asperger Sheldoniana, é burro e desonesto. Então notamos dois casos de
interpretação equivocada da Bíblia.» Burro é quem não enxerga o que está mesmo
diante de si - os criacionistas, incluindo os criacionistas do D.I. são um bom
exemplo disso porque muitos estudam ciências e biologia em especial (incluindo
evolução) e continuam na mesma. Isso ou é défice cognitivo ou é viés. Quanto
aos ateus, de um modo geral sabem que há interpretações alternativas à literal,
mas pensam que estas em nada melhoram a situação para o cristianismo.
No que respeita às relações interpessoais, não há pior do
que um criacionista fanático (e falo por experiência própria e não só), pois
são conflituosos e não percebem ou não querem perceber nada do que se lhes
explica, vivendo num mundo de fantasia e fundamentalismo só deles.
*Nota: disponível aqui: http://www.blogger.com/comment.g?blogID=6103548286498383937&postID=4302925885864508420&page=1&token=1384871751831.
O autor destas parvoíces é o criacionista Francisco Tourinho (outra vez).
Referências:
1. Lynn,
Richard; John Harvey and Helmuth Nyborg (2009). "Average
intelligence predicts atheism rates across 137 nations". Intelligence 37:
11–15. doi:10.1016/j.intell.2008.03.004. Retrieved 2008-06-27. (Sobre o
assunto: http://en.wikipedia.org/wiki/Religiosity_and_intelligence)
2. Zuckerman et al, The
Relation Between Intelligence and Religiosity A Meta-Analysis and Some Proposed
Explanations
3. «Atheists are more intelligent than religious people? That's ‘sciencism’ at its worst», FRANK FUREDI, Tuesday 13 August 2013
4. «Asperger syndrome» - MedlinePlus, 5/16/2012, (Jennifer
K. Mannheim, ARNP, Medical Staff, Department of Psychiatry and Behavioral
Health, Seattle Children's Hospital. Neil K. Kaneshiro, MD, MHA, Clinical
Assistant Professor of Pediatrics, University of Washington School of Medicine,
David Zieve, MD, MHA, Medical Director, A.D.A.M. Health Solutions, Ebix, Inc.)
(disponível aqui: http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/001549.htm)
Literatura recomendada:
- Bostic JQ, Prince JB. Child and adolescent psychiatric
disorders. In: Stern TA, Rosenbaum JF, Fava M, Biederman J, Rauch SL,
eds. Massachusetts General Hospital Comprehensive Clinical Psychiatry. 1st
ed. Philadelphia, Pa: Mosby Elsevier;2008:chap 69.
- Raviola G, Gosselin GJ, Walter HJ, DeMaso DR. Pervasive
developmental disorders and childhood psychosis. In: Kliegman RM, Behrman RE,
Jenson HB, Stanton BF, eds. Nelson Textbook of Pediatrics. 19th
ed.Philadelphia, Pa: Saunders Elsevier; 2011:chap 28.
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