sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A criatividade humana e a existência deus


O ser humano, desde tempos imemoriais possui um nível de criatividade que não encontramos nem mesmo nos nossos primos mais próximos, os chimpanzés. Uma vertente dessa capacidade é virada para a invenção de deuses, demónios, fadas unicórnios, etc. É claro que se eu afirmar que deus(es) não existe(m) e justificar essa afirmação simplesmente com este facto, o crente rapidamente salta da cadeira e grita histericamente "falácia genética!". Este facto por si só indica apenas que não é preciso deus(es) para explicar a crença em deus(es).  Mas isso é um assunto tangencial. 
Eu concordo com o que dizem (bem, gritam) os crentes. No entanto, apesar de simplesmente mencionar este facto não ser justificação para afirmar que provavelmente deus(es) não existe(m), uma apreciação da probabilidade de acertarmos ao acaso na realidade ou no "deus verdadeiro" (para citar o Mats e os seus acólitos pomposos) serve. 
No secundário, tive uma colega que, apesar de viver a poucos metros da escola, chegava quase sempre atrasada às aulas da manhã, sobretudo à aula de matemática. Como disse a professora, a probabilidade da V. chegar atrasada tendo em conta os dados anteriores (o número de vezes que ela chegou atrasada vs. o número de vezes que chegou a horas) é muito elevada e a probabilidade de chegar a tempo é muito baixa. Quantas vezes o Homem acertou em algo que inventou? Muito poucas que se saiba, portanto, é estatisticamente pouco provável que quem inventou o deus do velho testamento (e o do novo) tenha acertado, para além de que, sendo praticamente adivinhação, não temos garantias nenhumas de que existam tais deuses. Além disso, actualmente não há nada que indique que acertaram. Nada. É uma ideia sem mérito. Sempre foi ficção e não é agora que deixa de ser. E não vejo aqui falácia nenhuma. 

sábado, 22 de novembro de 2014

Tudo o que um criacionista devia saber...

Tudo o que um fundamentalista (criacionista) devia aprender condensado em pouco mais de 1 minuto e meio:





«Our whole universe was in a hot dense state,

Then nearly fourteen billion years ago expansion started. Wait...
The Earth began to cool,
The autotrophs began to drool,
Neanderthals developed tools,
We built a wall (we built the pyramids),
Math, science, history, unraveling the mysteries,
That all started with the big bang!



"Since the dawn of man" is really not that long,
As every galaxy was formed in less time than it takes to sing this song.
A fraction of a second and the elements were made.
The bipeds stood up straight,
The dinosaurs all met their fate,
They tried to leap but they were late
And they all died (they froze their asses off)
The oceans and pangea
See ya, wouldn't wanna be ya
Set in motion by the same big bang!



It all started with the big BANG!



It's expanding ever outward but one day
It will cause the stars to go the other way,
Collapsing ever inward, we won't be here, it wont be hurt
Our best and brightest figure that it'll make an even bigger bang!



Australopithecus would really have been sick of us
Debating out while here they're catching deer (we're catching viruses)
Religion or astronomy, Encarta, Deuteronomy
It all started with the big bang!



Music and mythology, Einstein and astrology
It all started with the big bang!
It all started with the big BANG!»

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Evidencias da evolução (video)


Video sobre as evidências da evolução (incluindo evolução de baleias e golfinhos, com dados embriológicos/anatómicos): 


What is the Evidence for Evolution?



(https://www.youtube.com/watch?v=lIEoO5KdPvg) 

domingo, 16 de novembro de 2014

Dez questões sobre evolução (que não merecem resposta)


Sim, há questões que não merecem resposta (apesar de haver ainda quem pacientemente responda).

10 exemplos: Mats, "10 questões que todo evolucionista tem que saber responder" (surpresa! - Nem por isso).
No "Que treta", o Ludwig Krippahl respondeu à primeira - "Porque é que a ciência diz que a vida evoluiu de matéria sem vida mas por outro lado declara que a geração espontânea é impossível?" ("Treta da semana (passada): dez questões."), e houve outras respostas no "Darwinismo", de mais que um comentador (inclusivamente minhas).

Na discussão que se seguiu, o Mats resolveu defender a sua dama com o seguinte comentário:

«"A ideia fundamental é que quaisquer mutações que reduzam a probabilidade de replicação tenderão a ser eliminadas e quaisquer mutações que aumentem a probabilidade de replicação tenderão a fixar-se na população." (Ludwig Krippahl)
Ou, dito doutra forma, "se a minha avó não tivesse morrido, ela estaria viva"..

"E a teoria da evolução explica como as moscas, e todas as outras espécies, surgiram de forma espontânea a partir da interacção de moléculas simples." (Ludwig Krippahl)
1. Não existem "moléculas simples".
2. A teoria da evolução não explica como "as moscas, e todas as outras espécies, surgiram de forma espontânea "; a teoria da evolução ASSUME que isso aconteceu, e depois "explica" como é que moscas se transformam em . . . . moscas.» - Ao que eu respondi:

«Não existem "moléculas simples". - Vai dizer-me que uma base nitrogenada (ex.: adenina) é algo de muito complexo?
"Ou, dito doutra forma, "se a minha avó não tivesse morrido, ela estaria viva".." - Isso era se tanto fizesse que aumentassem a probabilidade de replicação ou não (como seria de esperar se estivessem condicionadas pelos caprichos de algum deus semelhante ao que habita a imaginação dos cristãos.
"A teoria da evolução não explica como "as moscas, e todas as outras espécies, surgiram de forma espontânea "; a teoria da evolução ASSUME que isso aconteceu, e depois "explica" como é que moscas se transformam em . . . . moscas." - Não assume. Baseia-se nas evidências disponíveis (evidências essas vindas de estudos genéticos, de estudos em laboratório, etc.).»

O Mats tentou obviamente defender a sua tese, e indicou-me mais um artigo criacionista, traduzido por ele próprio para o "Darwinismo" ("Quais são os limites das mutações genéticas?") que esclarece (cof-cof-cof) sobre os "malvados" limites genéticos que "vocês evolucionistas propositadamente ignoram."

E lá está ele. Sempre com a mesma conversa. Quais limites qual carapuça! Ele sabe perfeitamente que os estudos em que se baseou o artigo que traduziu não demonstram o que ele quer que demonstrem - as mutações eram propositadamente deletérias e, na natureza nem todas as mutações são deletérias. Podem ser também neutras ou benéficas.

Ele ignorou a minha resposta - provavelmente com uma venda nos olhos (e se calhar uns tampões nos ouvidos, não vá dar-se o caso do computador misteriosamente começar a falar com uma voz de mulher, a tentar ensinar-lhe genética).



sexta-feira, 14 de novembro de 2014

As minhas citações preferidas

"A ciência é o método pelo qual nos aproximamos da verdade sem nunca a enxergar." - Eu.*


«I am turned into a sort of machine for observing facts and grinding out conclusions.» - Charles Darwin

«Scientific thought, then, is not momentary; it is not a static instance; it is a process.»; «Our problem, from the point of view of psychology and from the point of view of genetic epistemology, is to explain how the transition is made from a lower level of knowledge to a level that is judged to be higher.»Jean Piaget

"The important thing is to never stop questioning" - Albert Einstein

"Every atom in your body came from a star that exploded. (...) It really is the most poetic thing I know about physics: You are all stardust. You couldn’t be here if stars hadn’t exploded (...) So forget Jesus; the stars died so that you could live." Lawrence Krauss

"Science is interesting, and if you don't agree you can fuck off." Richard Dawkins (citando o ex-editor da "New Scientist").

"Tem sido demonstrado que a doutrina cristã e liturgia desencorajam o desenvolvimento de estratégias maduras de “coping” e das aptidões relativas às relações interpessoais que permitem lidar de uma forma adaptativa com a ansiedade causada pelo stress." Wendall Watters (psiquiatra canadiano).

"To kill an error is as good a service as, and sometimes even better than, the establishing of a new truth or fact."― Charles Darwin, More Letters of Charles Darwin, Vol 2

* Nota: Sim, talvez um dia se conheça tudo o que há para conhecer sobre todos os aspectos da vida e do universo em geral. Mas a nossa geração nunca verá esse dia.


Escrever à mão é importante (chato, ineficiente, mas importante)


Investigadores americanos elaboraram um estudo (Embodiment theory and education: The foundations of cognition in perception and action, publicado na revista Trends in Neurosciense and Education), com crianças de 4 e 5 anos que estavam a começar a contactar com as letras. Este estudo confirmou a hipótese de que a escrita (com papel e lápis) ajuda no desenvolvimento intelectual, mais especificamente, na capacidade de abstração. Através de ressonância magnética, verificou-se que certas áreas do cérebro são ativadas quando uma criança desenha e reconhece uma letra.
Outro estudo com universitários (divulgado no jornal The New York Times), demonstrou que alunos que apontam a matéria da aula à mão retêm mais e melhor o que foi apresentado, em comparação com aqueles que usaram tablets:

«Two psychologists, Pam A. Mueller of Princeton and Daniel M. Oppenheimer of the University of California, Los Angeles, have reported that in both laboratory settings and real-world classrooms, students learn better when they take notes by hand than when they type on a keyboard. Contrary to earlier studies attributing the difference to the distracting effects of computers, the new research suggests that writing by hand allows the student to process a lecture’s contents and reframe it (...).»

Estudos com resultados semelhantes já foram divulgados anteriormente - ex.: Anne Mangen, professora adjunta do Centro de Leitura da Universidade de Stavanger, Noruega, que publicou um artigo na revista Advances in Haptics (Digitizing Literacy: Reflections on the Haptics of Writing), com o neurofisiologista Jean-Luc Velay, da Universidade de Marselha, França.

(Via deutsch / português / english: notes and quotes, bits and pieces - http://philgeland.com/2014/11/08/caros-pais-estimados-alunos-e-estudantes/)

Sim, é verdade que escrever à mão não dá jeitinho nenhum, mas os resultados são melhores se o fizermos. Pode ser que seja desta que eu largue a preguiça e passe a escrever alguma coisa nas aulas - eu nem um tablet uso e muito raramente um mini-computador portátil (mas nem sempre foi assim). "Durmo", converso, olho "para o ar", faço desenhos...  Isso tem que acabar.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Argumentos que os ateus não deveriam mais utilizar (ou deveriam usar com cuidado)

Argumentos que os ateus não deveriam mais usar (ou deveriam usar com cuidado): 


Argumentos que ateus não deveriam mais usar


Nota: Concordo que a inteligência é algo difícil de definir e estudar/abordar - uma das razões é que devemos atender ao facto da atenção e o interesse na tarefa influenciarem os resultados (e, claro, a maioria das pessoas é melhore numas coisas do que noutras), mas a teoria das múltiplas inteligências como proposta por Gardner não tem grande suporte empírico (http://en.wikipedia.org/wiki/Theory_of_multiple_intelligences). 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Legionella em Portugal

A bactéria Legionella pneumophila é responsável pela Doença dos Legionários, uma pneumonia grave. A infeção transmite-se por via respiratória, através da inalação de gotículas de água ou por aspiração de água contaminada.
Mortes por Legionela em Portugal:
«Um dos doentes infetados com Legionella morreu hoje no hospital de Vila Franca de Xira, confirmou à Lusa uma fonte oficial do hospital. O número de pessoas contaminadas subiu para 66.
O director clínico do hospital de Vila Franca de Xira, Carlos Rabaçal, confirmou esta manhã a morte de uma das pessoas infectadas, um homem de 59 anos.
“O doente que faleceu já tinha morbilidades associadas, doenças respiratórias, doença pulmonar obstrutiva crónica, era fumador e tinha uma pneumonia, ou seja, já tinha uma doença do foro pneumológico, o que fez com que o quadro clínico fosse mais complicado”, detalhou o responsável clínico.
Dos 66 doentes infectados, 50 estão no hospital Reynaldo dos Santos, de Vila Franca de Xira, e os restantes 16 em vários hospitais de Lisboa, disse à Lusa uma fonte oficial da Administração Regional de Saúde de Lisboa.
Os responsáveis de Saúde estão reunidos para analisar a situação, devendo ser transmitida uma posição oficial sobre este tema por volta da hora de almoço, sendo possível a convocação de uma conferência de imprensa ou a emissão de um comunicado.
«Os casos são todos oriundos de Vila Franca», sublinhou esta fonte oficial, afastando assim a hipótese de contaminação múltipla em vários pontos da zona da Grande Lisboa.»
Mais uma vez: transmite-se por via aérea. Não espirrem para cima uns dos outros e protejam os outros e as superfícies dos vossos espirros. Lavem as mãos.  

E lembrem-se de que quanto mais se reproduz mais provável é que evolua resistência ou até novas formas de transmissão. Portanto, não espalhem as vossas bactérias. 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Religião, transtornos de personalidade (e o seu valor adaptativo)

Como referi anteriormente, os transtornos de personalidade podem ter valor adaptativo (até mesmo valor selectivo). Ainda assim, são considerados desvios do que era de esperar perante determinada proveniência socio-cultural (ex: Portugal ou China) e pela confusão que geram, que muitas vezes acaba por os afectar também negativamente, são considerados transtornos, portanto, patologias.
Hoje deparei-me com um estudo sobre correlações da psicopatia com elementos do dia-a-dia, tais como política e religião. Em termos de política tendem a ser conservadores e em termos de religião, tendem a não acreditar em deus (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=belief+in+god+psychopathy). E porque será? Não, não é porque são imorais e por isso não querem seguir uma religião ou um deus. Nada disso. A psicopatia (primária) tem sido associada com reacções de medo e ansiedade diminuídas, pelo que é possível que seja a falta de medo da morte ou da desgraça que os faça não se irem esconder atrás das saias dos padres ou rastejar aos pés de um altar poeirento – e é claro que isso não é preciso para se ser ateu, nem há nada que indique que a maioria dos ateus são psicopatas. Então, com o discernimento menos toldado pelas emoções (uma das características mais adaptativas do psicopata), e muitas vezes com uma boa educação académica, o que leva um psicopata nessas condições a tornar-se religioso? Simples: razões de índole prática. Se isso o ajudar a integrar-se, ou seja, a passar despercebido, ou se achar que não perde nada em viver como se acreditasse, acreditando que é possível existir deus ou uma vida para além da morte (teísmo agnóstico) – possível é, só não há evidências de que exista e é pouco provável dadas as observações. Para o narcisista * é algo de semelhante, mas com a nuance de que o narcisista com o seu problema com o processo de valorização/desvalorização, pode crer em deus e seguir uma religião (sobretudo por motivos semelhantes ao do psicopata, pois também eles são emocionalmente superficiais e pouco introspectivos) e com o tempo desvalorizará o conceito de deus (cristão ou outro) e deixará de querer seguir essa religião.


*Nota: Curiosidade: Celebridades são realmente mais narcisistas do que a população em geral (http://www.prnewswire.com/news-releases/usc-study-celebrities-really-are-more-narcissistic-than-the-general-public-55788882.html).


Hitler, anti-semitismo e religião

Em vários debates, discussões e entrevistas, tem sido levantada a influência de uma doutrina (que deriva das ideias evolutivas de Darwin) chamada darwinismo social, tentando de algum modo relacionar os seus actos com uma visão ateísta.  
Que o Hitler não era muito religioso, provavelmente não, mas se era ateu, isso é discutível. Além disso, o único responsável por essas mortes não foi o Hitler - ele não teria conseguido nada sem a colaboração do povo alemão (na sua maioria católico) - e uma das coisas que ele usou para o manipular foi provavelmente a religião. E uma das coisas que influenciou o seu anti-semitismo provém provavelmente da religião (cristã): "Hitler described his supposedly divine mandate for his anti-Semitism: "Hence today I believe that I am acting in accordance with the will of the Almighty Creator: by defending myself against the Jew, I am fighting for the work of the Lord." In his rhetoric Hitler also fed on the old accusation of Jewish Deicide. Because of this it has been speculated that Christian anti-Semitism influenced Hitler's ideas, especially such works as Martin Luther's essay On the Jews and Their Lies and the writings of Paul de Lagarde. Others disagree with this view. In support of this view, Hitler biographer John Toland opines that Hitler "carried within him its teaching that the Jew was the killer of God. The extermination, therefore, could be done without a twinge of conscience since he was merely acting as the avenging hand of God..."." Para além disso, Hitler acreditava que Jesus os via como uma ameaça para a humanidade (embora ele não se referisse a Jesus como deus): "His [the Jewish person's] life is only of this world, and his spirit is inwardly as alien to true Christianity as his nature two thousand years previous was to the great founder of the new doctrine. Of course, the latter made no secret of his attitude toward the Jewish people, and when necessary he even took to the whip to drive from the temple of the Lord this adversary of all humanity, who then as always saw in religion nothing but an instrument for his business existence.”  (http://en.wikipedia.org/wiki/Religious_views_of_Adolf_Hitler)  
Sim, o Darwinismo social pode ter influenciado o Hitler, mas provavelmente a religião teve um papel mais preponderante relativamente aos seus seguidores, e um papel tão importante relativamente a ele próprio. No meio disto tudo, algo preponderante foram os distúrbios mentais de que Hitler sofria - narcisismo patológico, transtorno antissocial (provavelmente aquilo a que vulgarmente se chama de psicopatia e se enquadra em termos de diagnóstico no subtipo malevolente deste transtorno - Millon, Theodore, Personality Subtypes), esquizofrenia paranóide e instabilidade emocional (http://www.psychologyandsociety.org/__assets/__original/2012/01/Hyland_et_al.pdf). 


Religião vs saúde mental II: Religião não protege da depressão

Relativamente ao tópico da importância da religião para uma boa saúde mental, ao contrário do que os religiosos (especialmente os criacionistas) pregam, a religião não traz grandes benefícios no que respeita à saúde mental (e muito menos a crença religiosa/"espiritual" em si). Isso é mostrado num estudo feito e vários países. A religião em si, não protegia fortemente contra a depressão e não protegia de todo excepto em dois países, enquanto que as crenças sem afiliação religiosa eram um factor de previsão importante. E como explicar outros estudos que indicam que as pessoas religiosas são mais felizes, menos deprimidas? É simples: essas pessoas deixam de ser religiosas. Relativamente à falta de afiliação dos crentes "espirituais", isso pode dever-se à discriminação ou exclusão por parte das comunidades religiosas perante pessoas com tendências para perturbações mentais - mas continuaram a ser crentes. 
Para além de tudo isto (como se não bastasse), os investigadores descobriram que quanto mais forte a crença religiosa, maior o risco de depressão. Os pouco religiosos tinham risco semelhante aos descrentes.    
Concluindo... não a religião não protege da depressão (nem de mais nada, que se saiba) e as crenças religiosas em si são um factor de risco, não só para a depressão, mas também para manifestações psicóticas e para o agravamento de sintomas da esquizofrenia, como referido anteriormente.
E pretendem alguns (felizmente poucos, pelo que me é dado a conhecer) profissionais de saúde mental implementar o uso terapêutico do incentivo à religiosidade ou usar as crenças religiosas do paciente (o que pode fortalecê-las)? Tenham juízo...

Nota: para mais informação aceder: http://www.patheos.com/blogs/epiphenom/2013/05/religion-doesnt-seem-to-protect-against-depression.html  

Estudos relacionados

- Leurent, B., Nazareth, I., Bellón-Saameño, J., Geerlings, M., Maaroos, H., Saldivia, S., Švab, I., Torres-González, F., Xavier, M., & King, M. (2013). Spiritual and religious beliefs as risk factors for the onset of major depression: an international cohort study Psychological Medicine, 1-12 DOI:10.1017/S0033291712003066

- King, M., Marston, L., McManus, S., Brugha, T., Meltzer, H., & Bebbington, P. (2012). Religion, spirituality and mental health: results from a national study of English households The British Journal of Psychiatry, 202 (1), 68-73 DOI:10.1192/bjp.bp.112.112003



quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Filosofia das religiões e o evolucionismo teísta (epic fail)


No "Que treta", o professor Ludwig Krippahl escreve o seguinte:
«(...) a maioria dos filósofos da religião se dedica ao problema irrelevante da existência de um deus abstracto que nada tem que ver com as religiões. Não é Jahve, Allah, Buda nem Krishna. É “uma causa sem causa” ou “uma necessidade metafísica” a quem ninguém acende uma vela. O Domingos Faria resumiu recentemente alguns argumentos que ilustram este problema. Defendem que a hipótese de um deus ser responsável por toda a criação é logicamente compatível com a teoria da evolução (1). Resumidamente, o ponto fundamental é que não há contradição lógica entre a tese de que os organismos evoluem pela acumulação de mutações e a tese de que um deus guia o processo desde que o faça às escondidas. Se bem que isto seja verdade, falha por completo o mais importante.
(...)
É logicamente consistente arranjar a televisão e depois deitá-la fora.»
- E seria provável que um deus que deseja tanto ser adorado/venerado/notado fizesse com que tudo pareça natural, sem a sua intervenção? Pelas características do deus da bíblia, o evolucionismo teísta é pouco provável - considerando o deus da Bíblia e não outro qualquer que se invente, claro.
«É logicamente consistente arranjar a televisão e depois deitá-la fora.» - Talvez. Mas é provável? É claro, que pelo conteúdo do texto do Ludwig, o "deus" compatível com a teoria da evolução é já um conceito distorcido relativamente ao deus da Bíblia (original).
O professor Krippahl continua, explicando porque é que a hipótese de deus da filosofia da religião falha: «Mas é importante apontar também que isso seria o que os ingleses chamam de missing the point e os portugueses, menos subtis, chamam de parvoíce. É este o problema que assola boa parte da filosofia da religião. 
Tal como a generalidade das explicações científicas, a teoria da evolução tem três características importantes. Primeiro, assenta em premissas independentes da teoria. A replicação do ADN, as mutações, a selecção natural, a hereditariedade e afins podem ser confirmadas sem assumir que a teoria está correcta. Em segundo lugar, a teoria da evolução explica o que é mais difícil de compreender recorrendo a elementos mais fáceis de compreender. Por exemplo, explica a evolução das baleias pela acumulação de pequenas mutações sob pressão selectiva, ao longo de muitas gerações. Finalmente, a teoria da evolução especifica em detalhe o que se pode observar na natureza se a teoria estiver correcta, o que permite extrapolar do que sabemos para prever algo de novo. As hipóteses de deuses sempre falharam nas duas primeiras características. O deus sempre foi assumido gratuitamente, sem evidências independentes que suportassem essa premissa, e explicar uma baleia invocando um deus não ajuda a perceber nada porque pretende explicar o difícil com algo impossível de compreender. O deus dos filósofos modernos é ainda pior porque falha até na terceira característica. As hipóteses religiosas de criação divina ainda diziam alguma coisa, se bem que fossem erradas. A hipótese deslavada da filosofia da religião nem sequer errada consegue ser.» - E tem razão. Sem evidências, sem valor explicativo, não temos uma hipótese digna de aceitação.
«O estudo filosófico da compatibilidade lógica desta hipótese com o resto da ciência é trivial porque a hipótese é concebida, à partida, para permitir tudo. Se esse deus pode fazer tudo, a hipótese dele existir é compatível com o que quer que se observe. Mas é precisamente por isso que a devemos rejeitar. Logo à partida, isto coloca-a a par com infinitas alternativas igualmente compatíveis com tudo, como os duendes invisíveis da carga do electrão e os gnomos transdimensionais da gravidade.» - Outra realidade desagradável para os teístas. 
«Mas, principalmente, porque conjugar essa hipótese com as teorias científicas estraga tudo o que estas têm de bom. Deixam de estar assentes apenas em premissas empiricamente fundamentadas. Deixam de poder explicar o que é difícil de entender com recurso a elementos mais compreensíveis. E a mera possibilidade de um deus manipular tudo impede-as de prever o que quer que seja.» E só o "deixam de estar assentes em premissas empiricamente fundamentadas" deita tudo a perder. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Ciência vs religião: Estudantes religiosos não compreendem a teoria da evolução

Um estudo recente demonstrou que a religião era um factor de previsão mais importante do que a educação não só da aceitação, como também da compreensão da teoria da evolução - as descobertas apoiam a ideia de que a religião enviesa os indivíduos relativamente ao assunto, sendo mais influente ainda que a educação. Não tem nada a ver com haver evidências contra ou não haver evidências a favor. Ou é ignorância ou é viés religioso. 
Do resumo:

"Results: We found that the degree of religiosity mattered significantly more than education when predicting students’ understanding of evolution. When we focused on acceptance of evolution only, students taught evolution or neither evolution nor creationism in high school had significantly higher acceptance than those taught both evolution and creationism or just creationism. Science majors always outscored non-science majors, and not religious students significantly outperformed religious students. Highly religious students were more likely to reject evolution even though they understood that the scientific community accepted the theory of evolution. Overall, students in two of three biology classes increased their acceptance of evolution, but only those students that seldom/never attended religious services improved. K-12 state science standard grades were significantly and negatively correlated with measures of state religiosity and significantly and positively correlated with measures of state educational attainment."


História da Psicologia e Charles Darwin

Hoje, em História da Psicologia, um dos assuntos abordados foi o começo do behaviourismo, da psicologia animal e da psicologia comparada como estudo científico, incluindo o que motivou os cientistas a debruçarem-se sobre o comportamento animal. Os animais eram vistos praticamente como robôs, sem mente, sem algo análogo às capacidades mentais humanas. A possibilidade de que isso não fosse verdade foi levada a sério por influência da perspectiva evolutiva de Darwin - de que os humanos não eram fundamentalmente diferentes dos animais (aliás, nós somos animais); não havia uma linhagem separada só de humanos, não ocupávamos nenhum lugar especial na criação. 
Agora, ao observarmos os criacionistas, verificamos que afirmações como esta vão surgindo: "não sei de nenhum facto [ ou "facto biológico"] que precisasse da teoria da evolução para ser descoberto" (podem visitar o "Darwinismo" para exemplo concretos). Uma das descobertas foi o reflexo condicionado como mecanismo de aprendizagem - em cães, por exemplo, e, se modo semelhante, em humanos. Aí está um facto que não saberíamos se não fosse a teoria da evolução, versão darwiniana. E, se por "facto biológico" se entender "relativo aos seres vivos", um facto biológico. 

                                         

Os criacionistas usam computadores, electricidade, vão ao psicólogo, ao médico, ao veterinário... usam o que advém da aplicação do conhecimento científico, mas negam o conhecimento científico quando lhes convém. Espertos! 

sábado, 1 de novembro de 2014

Empatia cognitiva condiciona a empatia emocional?

Numa palavra: sim. Podemos observar que na maioria dos casos, pessoas com síndrome de Asperger têm défice de empatia cognitiva e empatia afectiva normal (embora haja pelo menos um estudo que identificou défice de empatia afectiva em pacientes com síndrome de Asperger), enquanto que os psicopatas têm défice na empatia afectiva e empatia cognitiva quase normal (ver textos anteriores sobre o assunto). O que não implica que pessoas com síndrome de Asperger não tenham uma reacção emocional desadequada (ou mesmo nenhuma). Isto, porque eles não percebem logo que a outra pessoa se sente mal ou que magoaram alguém. Tendem também a ser egocêntricos, por isso as necessidades dos outros podem passar-lhes ao lado. Sim, o mecanismo não é o mesmo que nos psicopatas, narcisistas e afins, mas o défice de empatia cognitiva acaba por condicionar a resposta afectiva se o estado emocional dos outros não for compreendido. Por vezes, eles podem ser tidos como insensíveis e até confundidos com psicopatas. Exemplos incluem: o Sherlock Holmes da BBC (possivelmente) *, a Dr.ª Temperance Brennan da série "Ossos" ("Bones") e o Dr. Sheldon Cooper da "Teoria do Big Bang" (porque será que são sempre os cientistas?). É de notar ainda que é possível que este transtorno do espectro autista co-ocorra com doenças mentais, incluindo transtornos de personalidade (por ex. o Sheldon seria provavelmente diagnosticado com síndrome de Asperger e transtorno de personalidade narcisista).     





A nível evolutivo, pergunto-me se haverá alguma vantagem em ser portador dos genes responsáveis por este transtorno. Provavelmente, sim. Em certas ocasiões, talvez eles não deixem a carga emocional dos outros interferir com algumas decisões que para outros seriam difíceis. E são muito sabedores em relação a temas que lhes interessam. Isso pode tornar um indivíduo com SA num sucesso na sua área, fazendo-o ganhar dinheiro, fama... o que aumenta as probabilidades de reprodução.  
Curiosa sobre se sou uma provável candidata ao diagnóstico de síndrome de Asperger, fiz o teste aqui: http://psychcentral.com/quizzes/autism.htm (deu negativo - tive um total de 14 pontos quando precisava de 30 no mínimo para ser uma boa candidata). 

* Nota: aceder: http://globalcomment.com/bbcs-sherlock-asperger%E2%80%99s-syndrome-and-sociopathy/# 

Doenças mentais: as várias causas da psicopatia

Eu li que o abuso de crianças pode fazer com que certas áreas do cérebro se tornem menos espessas (1). Psicopatas têm esse problema nalgumas áreas do cérebro (2). Agora, se pensarmos um pouco, nos anos 70,  80 e, (talvez em menor grau) até mesmo nos anos 90, as crianças eram castigadas fisicamente, inclusive com cintos e, em alguns casos, até mesmo sapatos, pelo menos ocasionalmente (eu tive a sorte de isso nunca me acontecer, mas outros no meu tempo não tiveram essa sorte - sim, eu sei que os criacionistas vão ficar desapontados, pois esperavam uma infância horrível, repleta de sovas brutais, nódoas negras e afins, para poderem justificar para eles próprios que eu sou ateia por causa disso). Considerando o contexto histórico, naquela época isso não era visto como abuso, mas como disciplina - provavelmente porque a população não estava tão bem informada sobre possíveis consequências indesejadas. Eu li sobre um caso de uma psicopata (diagnosticada) que era castigada fisicamente (ocasionalmente) com um cinto (principalmente nas nádegas, até fazer vergão), por lutar com os irmãos (final dos anos 80 e início dos anos 90) (3). Agora, se isso foi realmente um factor importante, devemos ver algumas tendências psicopatas (pelo menos) na maioria das pessoas que eram crianças na época, uma vez que era uma forma normal de disciplina na altura, mas isso não é o que eu observo - eu sei de muitos casos de pessoas que tiveram castigos piores e não se tornaram psicopatas ou algo próximo disso. Eu acho que o ambiente é importante, mas, nesse caso, eu acho que essa parte não foi realmente importante. Penso que a negligência ainda em bebé (ela tinha aftas e foi deixada sozinha a chorar e sem tratamento) e até mais tarde, em criança, foi provavelmente mais importante para o desenvolvimento da patologia, pois isso impede o estabelecimento de ligações afectivas com os pais e torna a criança mais independente e "dura". E há, pelo menos, algumas tendências genéticas - um estudo com gémeos apoia essa hipótese (4). A pessoa em questão nunca chorou por causa dos castigos. Só sentiu um pouco de raiva no momento (reacção típica do psicopata?), mas não que tinha sido abusada.
Há ainda estudos que identificam pelo menos dois subtipos de psicopatas e teoriza-se que um tenha mais influência genética (primário) e outro mais influência do meio (secundário). 
Sim, bater nos miúdos não é a melhor das soluções, e algo como o que descrevi, pelo que sei por profissionais que trabalham na área da protecção de crianças e jovens, não sendo dos casos mais graves (mesmo hoje em dia), raia o abuso físico pelos padrões actuais. Nunca chegaria ao ponto de processarem os pais ou institucionalizarem a criança, no entanto ainda assim seria visto como algo a ser corrigido. Mas no contexto da época, isso era normal, por isso não vejo como possa ser um factor importante no desenvolvimento de doenças mentais, uma vez que provavelmente a maioria recebia esses castigos - só se a "norma" é "doente".    

Referências:

1. "Brain Changes from Child Abuse Tied to Adult Mental Illness, Sexual Problems" By RICK NAUERT PHD, John M. Grohol, Psy.D., June 3, 2013 ( http://psychcentral.com/news/2013/06/03/brain-changes-from-child-abuse-tied-to-adult-mental-illness-sexual-problems/55556.html#at_pco=tst-1.0&at_si=545014dda2181917&at_ab=per-2&at_pos=0&at_tot=2)


2. "Psychopathic, but not thick: Temporal and prefrontal gray matter thinning in psychopaths" (comentary), Stéphane A. De Brito & Essi Viding, Cell Science Reviews Vol 6 No 1