quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Rir faz bem!

Sobre o riso (verdadeiro e não): 

«Sabia que através da gargalhada oxigenamos o organismo?

O riso alivia os sintomas de stress, melhora o nosso desempenho, criativiade e memória, dá-nos autoconfiança e até facilita a digestão [Ok, em relação a esta última, sou um bocado céptica]. O cérebro não distingue o riso fingido do verdadeiro e liberta endorfinas promotoras do nosso bem-estar, mesmo que não seja a sério.
Além disso, quem treina APRENDE a rir de verdade. É fácil.»
Por falar em rir...




terça-feira, 28 de outubro de 2014

Objectificação da mulher, machismo e achismos

Como mulher já me senti objectificada várias vezes. Quando alguém me diz que sou bonita, mas que não vou "a lado nenhum" por causa da minha atitude (sim, já me disseram isto através de comentários na internet), eu sinto-me objectificada. Mais uma carinha bonita - e, provavelmente, mais um bom par de mamas. Será que isso me faz sentir extremamente desconfortável (emocionalmente)? Nem por isso. Mas não acho que me esteja a ser dado o devido valor - além de "bonita", sou inteligente (o suficiente para ser a melhor da turma no secundário com muito pouco esforço e ser bem sucedida na universidade também com relativamente pouco esforço), sou culta, eficiente quando me empenho, educada... e quanto às minhas atitudes momentâneas ao trocar mensagens online, é bastante precipitado julgar-me por isso. Sim, não é "destrutivo", mas não é agradável. Pelo que já li sobre o assunto, se se encara todos os outros seres humanos como objectos, é-se um narcisista ou um psicopata, mas se isso é reservado apenas para as mulheres, é-se apenas machista - será que machismo é apenas "psicopatia" selectiva? Ou será que ter tendências psicopáticas está de algum modo relacionado? 
Esta faceta do machismo não é, no entanto, das mais prejudiciais. Imaginem uma mulher que espera submissão e obediência inconsequente de qualquer mulher cristã (sim, leram bem, era uma mulher) baseando-se numa qualquer passagem bíblica (1). Isto é provavelmente resultado de uma lavagem cerebral ou de um qualquer transtorno mental, pois é pouco provável que uma mulher pós-moderna e saudável (ou pelo menos dentro daquilo que se deve esperar relativamente à cultura do país/região onde cresceu - e os E.U.A. são uma democracia, um país livre) pense tão mal de si mesma e do seu próprio género/sexo. Esta mulher pode "contaminar" outras com os seus "vírus mentais" e propagar a tendência para ser co-dependente e até maltratada - convencer mulheres da mesma religião não há-de ser difícil, uma vez que já têm predisposição para crer com poucas reservas na Bíblia e na palavra dos outros, seja o catequista, o padre, etc. Isso combinado com uma figura paterna controladora e abusiva e/ou uma figura materna submissa, é um campo bastante fértil. Esta situação faz-me lembrar algo que li há uns tempos (no blog do criacionista Francisco Tourinho): 
«“As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador.” Efésios 5:22-23
Ao ver esse texto, qualquer mulher, mesmo cristã, se remexe em sua cadeira, pois no mínimo soa mal aos ouvidos. Isso acontece porque estamos acostumados com o conceito mundano de submissão , ou seja, rapidamente nos vem a figura de escravidão em nossas cabeças, bem como o conceito de sub-julgar e não de submissão em amor. O que nós esquecemos é da continuação do texto “como Cristo é chefe da Igreja” e depois diz que os“maridos devem amar suas esposas, a ponto de DAR SUA VIDA por ela”. Qual mulher não queria ter um marido assim? Um marido sábio, assim como Jesus, e que a ama tanto a ponto de dar a sua vida pela esposa? Então mulher e homem, lembrem-se sempre do conceito bíblico de submissão, submissão não pela força, mas pelo AMOR!» (*a) - Quase o consigo ouvir gritar... 
"Submissão por amor" é bastante vago. E esta interpretação é baseada em quê? Achismos, claro. Nada mais que isso e uma bela campanha de marketing pelas alminhas. Bem podem continuar, mas o que está lá, está lá. Sim, é apenas uma relíquia cultural, mas não se pode chegar ali e inventar uma interpretação mais bonita só porque sim. Mas que mais posso esperar de um criacionista que está convicto de que não é criacionista, que me acusa de mentir e a seguir mente descaradamente, que pensa que é o máximo, mas dá a entender que eu (e uma data de ateus desconhecidos - ???) é que sou narcisista? (*b)

* Notas: 
b. Tudo isso pode ser confirmado aqui e aqui. - sim, nos dois textos (imagine-se a carga de spam!). 
c. Estava incrivelmente aborrecida e resolvi picar o criacionista (http://questoesultimas.blogspot.pt/2013/02/seria-biblia-um-livro-machista.html

Ref.:

1. "Housewives of God", MOLLY WORTHEN November 12, 2010. New York Times (http://www.nytimes.com/2010/11/14/magazine/14evangelicals-t.html?pagewanted=all&_r=0)

Ébola: Contacto indirecto (importante)

No "crónica da ciência" encontrei um artigo sobre estudos que indicam a possibilidade de contágio indirecto:

«Um estudo com o virus Ebola do Zaire mostrou que o virus pode ser recuperado de superficies secas, a 4ºC, durante vários dias [1]. Em liquidos idem. Uma das amostras secas ainda tinha virus ao fim de 50 dias [1]. O mesmo estudo mostrou que o virus pode ser transportado em particulas suspensas no ar, isto é, pode ser transmitido por aerossois [1].


Não é o unico estudo que aponta para a possibilidade não remota de transmissão indirecta. Outro estudo [2] corrobora a resistencia do virus, desta vez testada no escuro (com luz ultravioleta a resistencia é diferente [3]) e a temperatura ambiente. Neste outro estudo o virus "aguentou" cerca de 6 dias em superficies secas de vários materiais [2].

Em relação ao facto do virus poder ser transmitido por aerossois também há mais estudos. Por exemplo foi mostrado que porcos transmitem o virus a primatas "via aerea" [4]. 

(...)

Embora o contágio directo seja provavelmente o modo mais comum de transmissão do Ebola, há razões para acreditar que a transmissão indirecta do virus acontece com alguma frequência.»

Curiosidade: as espécies do género Ebolavírus que evoluíram (divergentemente das restante espécies) para provocar febres hemorrágicas em humanos são: Ebolavirus do Zaire, Ebolavírus do Sudão e Ebolavirus de Bundibugyo.  

Estudos em que se baseou o texto: 

[1] T.J. Piercy, S.J. Smither, J.A. Steward, L. Eastaugh and M.S. Lever "The survival of filoviruses in liquids, on solid substrates and in a dynamic aerosol " : http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1365-2672.2010.04778.x/full


[2]Jose-Luis Sagripanti1, Amanda M. Rom and Louis E. Holland,"Persistence in Darkness of alphaviruses" Ebola virus, Lassa Virus DEPOSITED on solid surfaces, http://link.springer.com/article/10.1007/s00705-010-0791-0/fulltext.html


[3] C. David Lytle and Jose-Luis Sagripanti "Predicted Inactivation of Viruses of Relevance to Biodefense by Solar Radiation", http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1280232/


[4] Hana M. Weingartl, Carissa Embury-Hyatt, Charles Nfon, Anders Leung, Greg Smith & Gary Kobinger " Transmission of Ebola virus from pigs to non-human primates", http://www.nature.com/srep/2012/121115/srep00811/full/srep00811.html

Mais uma vez: protejam o ambiente dos vossos espirros - com o braço (não com a mão). 

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Planear um estudo científico

Lendo o meu próprio título, pergunto-me: e há mais algum tipo de estudo que seja credível? A resposta é: não. Poder-se-ia argumentar que a psicanálise deriva apenas da observação clínica e não de um estudo formal. O que acontece é que o que se pode tirar da observação clínica é útil, mas deve sempre ser complementado com estudos científicos, pois as observações podem não ser de generalizar. E, convenhamos, a psicanálise não é ciência no sentido rigoroso (o que não quer dizer que não tenha a sua utilidade terapêutica, embora bastante limitada a meu ver). Nem os psicólogos de hoje a aceitam como tal. Por exemplo, se não existiam traumas que pudessem explicar os transtornos psicológicos dos pacientes, era possível, segundo Freud que o trauma viesse do imaginário do paciente, que até este desconhecia. Isto não é testável. Enquanto que alguns estudos apontam para que eventos passíveis de constituir trauma estejam associados a vários transtornos, incluindo transtornos de personalidade e que até possam provocar alterações no desenvolvimento do cérebro e isso na prática clínica seja fácil de verificar, os "traumas imaginários" não são verificáveis. Quanto muito essa interpretação pode dar ao paciente um sentido à sua patologia e reduzir o stress associado (o que pode contribuir para a recuperação). Mas o tema principal do post é o planeamento de um estudo científico. Ao planearmos um estudo, seja em que área for, há que controlar o máximo possível as hipóteses alternativas que podem competir com as que se querem testar. Um exemplo é o caso dos bebés que acalmam com música heavy metal. Numa aula de Métodos e Técnicas de Investigação, o professor pediu-nos (aos vários grupos de trabalho) que levantássemos hipóteses sobre o assunto, sobretudo para explicar o acontecimento e propuséssemos estudos que nos permitissem testar essas hipóteses. E aqui estão:

Hipóteses:


1.      Ouviu muito heavy metal quando ainda estava no útero;
2.      Habituação a este tipo de música desde que nasceu;
3.      Tendência genética;
4.      Ter um efeito contrário ao que é geral nos bebés;

Estudos:

1.  Escolhendo uma amostra em que as futuras mães já tinham um gosto por heavy metal e tinham como hábito ouvir este tipo de música, estudou-se o número de crianças que nasceram com predisposição para heavy metal. Testou-se a predisposição para o reconhecimento e gosto pela música que os pais costumavam ouvir vs. um tema desconhecido. (Poder-se-ia ainda manipular a amostra para que as futuras mães não ouvissem heavy metal nos primeiros meses). 

2.  Numa amostra de crianças cujos pais não ouviam heavy metal, pôs-se essas mesmas crianças a ouvir esta música durante alguns meses e viu-se que parte da amostra mostrou um grau de habituação favorável e quais continuavam a rejeitar a música;

3.  Manipular uma amostra de futuras mães que já tinham tendência a gostar dessa música para que durante a gravidez e nos primeiros meses de vida do bebé não ouvissem heavy metal, para que não houvesse um efeito no útero nem nesses primeiros meses. Tendo mais tarde feito a experiência para determinar se a criança tinha tendência a gostar deste tipo de música. Assim poderia determinar-se um factor genético e não de habituação;

4.  Numa amostra escolhida aleatoriamente avaliou-se se a tendência geral das crianças é de facto para ouvir música calma ou se as crianças que preferem outro tipo de música são uma maioria ou uma minoria. 

Ao ler com atenção consegue-se perceber a preocupação em controlar para poder diferenciar entre hipóteses, enquanto nos focamos apenas num tópico. E é assim que se faz ciência.  





quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Imagens que me dão vontade de rir


Esta, por exemplo:


Outras que gosto (mas não me fazem rir):










Só não gosto dos pássaros. São irritantemente desnecessários. 








quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Ébola evolui rapidamente

«Médicos não conseguem acompanhar mutações do vírus


n/d
O vírus que causa a febre hemorrágica ebola começou a sofrer mutações. Já foram identificadas mais de trezentas suas variedades. Cientistas acreditam que essas mutações contribuem para a rápida propagação da doença e previnem o desenvolvimento de uma vacina universal.
Na batalha da humanidade com o ebola, o vírus está ganhando, reconheceu o chefe da Missão das Nações Unidas para a resposta de emergência à febre hemorrágica ebola, Anthony Banbury.
O vírus ebola está evoluindo rapidamente. Atualmente, são conhecidos seis tipos desse vírus, cada um dos quais está rapidamente criando suas próprias variedades. E não se consegue contar quantas delas já surgiram, diz o virologista Alexander Butenko:
n/d
“Além do vírus do primeiro tipo, que foi descoberto no Zaire (hoje República Democrática do Congo), em 1976, existem genótipos que diferem dele. É o vírus ebola Sudão. E também outro vírus que foi isolado na Costa do Marfim. E também uma variedade descoberta na Uganda. E depois também o vírus Reston que foi isolado nos Estados Unidos e na Itália entre macacos das Filipinas. Depois descobriu-se que circula ativamente na natureza das Filipinas e da Indonésia um vírus que envolve porcos no círculo de seus hóspedes, mas difere em não ser patogênico. E o mais recente genótipo do vírus ebola foi isolado de morcegos na Espanha. Assim surge um grupo de vírus heterogêneos que são diferentes do protótipo original do vírus ebola. Essa diversidade mostra que a evolução prossegue. Portanto, certamente haverá mais mutações”.

Pior de tudo, é que cada subtipo de vírus requer sua própria vacina. Por exemplo, já há muito que existem vacinas contra os vírus ebola Zaire e ebola Sudão. Mas elas funcionam exclusivamente contra aquelas estirpes com base nas quais foram criados. Ou seja, um medicamento contra o ebola Zaire não é eficaz em todos os outros casos de ebola.
(...)» - http://www.rainhamaria.com.br/Pagina/16859/Ebola-esta-evoluindo-rapidamente-Medicos-nao-conseguem-acompanhar-mutacoes-do-virus 

O vírus não tem fronteiras. Não discrimina sexo nem etnia. Apenas se propaga e reproduz usando as nossas células. Não tussam para cima uns dos outros, quem lida com dinheiro, ou com o público, use luvas. Lavem as mãos. Protejam a boca ao tossir e espirrar. 

Evidências da evolução

Sobre as evidências da evolução: https://whyevolutionistrue.wordpress.com/2014/10/15/the-evidence-for-evolution-a-short-video-and-a-slightly-longer-take/#comment-1081275
Um breve comentário: O autor escreve: «[Homology]It is consistent with evolution, but it’s also consistent with God having given animals a similar Bauplan, with similar species having similar Baupläne.» – Mas isso não explica o padrão genealógico geral - que não é observado em objectos/utensílios projectados por humanos (não se encontra isso nos objectos de uma casa, por exemplo, nem sequer nas mobílias e muito menos nos bibelôs.
Jerry Coyne continua na mesma linha de pensamento: «While the fact that bats have fingers in their wings is consistent with evolution, you could, at a stretch, say that’s consistent with God’s economical way of designing mammals.» Isso seria uma grande coincidencia que isso fosse feito dessa maneira, ma vez que deus poderia ter feito como quisesse ou pelo menos de muitas outras maneiras (o mesmo para o caso anterios, da homologia). A melhor explicação continua a ser a teoria da evolução.

Ainda relacionado, sobre o naturalismo e porque é mais racional ser naturalista: https://whyevolutionistrue.wordpress.com/2014/10/15/is-atheism-irrational-a-philosopher-says-yes/ (Porque assumir o naturalismo nos levou ao progresso e a muitas descobertas científicas, enquanto que assumir o sobrenatural não nos levou a lado nenhum...)


terça-feira, 14 de outubro de 2014

As reacções (super) emocionais dos cristãos a Richard Dawkins

E que reacções!


Mandar uma pessoa àquela parte e insultá-la por ser abertamente ateia, dar palestras (sobretudo sobre ciência e ateísmo) é um exagero (mas que exagero!). Sentem-se assim tão ameaçados pelo que ele diz? Estão na eminência de uma crise de fé? E, relativamente a quem afirma que a ciência é arrogante, para que fique esclarecido (seja figura de estilo ou não), os cientistas (alguns) podem ser arrogantes, mas a ciência é apenas o método utilizado pelo cientista (quer no campo da química, da biologia, da física e até da psicologia - http://en.wikipedia.org/wiki/Psychology;http://en.wikipedia.org/wiki/Cognitive_psychology#Vs._cognitive_science; http://en.wikipedia.org/wiki/Cognitive_psychology#Vs._cognitive_science). 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

15 respostas aos disparates criacionistas

15 respostas aos disparates que os criacionistas propagam: http://www.scientificamerican.com/article/15-answers-to-creationist/

Como exemplo:

«2. Natural selection is based on circular reasoning: the fittest are those who survive, and those who survive are deemed fittest.
"Survival of the fittest" is a conversational way to describe natural selection, but a more technical description speaks of differential rates of survival and reproduction. That is, rather than labeling species as more or less fit, one can describe how many offspring they are likely to leave under given circumstances. Drop a fast-breeding pair of small-beaked finches and a slower-breeding pair of large-beaked finches onto an island full of food seeds. Within a few generations the fast breeders may control more of the food resources. Yet if large beaks more easily crush seeds, the advantage may tip to the slow breeders. In a pioneering study of finches on the Galápagos Islands, Peter R. Grant of Princeton University observed these kinds of population shifts in the wild [see his article "Natural Selection and Darwin's Finches"; Scientific American, October 1991].
The key is that adaptive fitness can be defined without reference to survival: large beaks are better adapted for crushing seeds, irrespective of whether that trait has survival value under the circumstances.»

Sim, esta "objecção" já é velha. E é um disparate, como tudo o que sai da boca (ou em alguns casos, da ponta dos dedos) dos criacionistas.  

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

E os criacionistas estrebucham

Evolução, Informação e os disparates do William Dembski (outra vez...)

Os criacionistas do design inteligente (tal como os seus primos do campo, os criacionistas da Terra jovem e da Terra velha) há muito que perderam a credibilidade perante a comunidade científica. Mas será que isso os impede de continuarem a gritar histericamente "design inteligente" onde quer que tenham oportunidade? Claro que não. Até nas universidades eles proclamam a sua ignorância (propositada?). O leitor (esclarecido) provavelmente pergunta-se? "O quê? Numa universidade? Qual?" Na Universidade de Chicago (onde até lecciona um cientista e autor bastante conceituado - Jerry A. Coyne autor de "Why Evolution is true" e "Speciation"). O William Dembski foi convidado por um antigo professor para dar uma palestra sobre algoritmos evolutivos e "conservação da informação". Sim, este é um caso de convite especial dum "amigo do amigo" (neste caso dum "professor do professor"). E o Dembski aceitou a oportunidade para fazer publicidade ao seu tipo de criacionismo de eleição. Mas o que não falta são comentários ("reciclados") de cientistas (os biólogos Joe Felsenstein e Jerry Coyne) que assistiram à palestra e conhecem o seu conteúdo (de trás para a frente, pois já é repetido) e que não acharam os argumentos convincentes (*). Resumindo:

- Dembski considera todas as formas possíveis de que o conjunto de aptidões de reprodução pode ser distribuído por um conjunto de genótipos. Quase todas estas parecem distribuições aleatórias.

- Dado que existe uma associação aleatória de genótipos e aptidões, Dembski está certo em afirmar que é muito difícil de fazer muitos progressos na evolução. A superfície de fitness é uma superfície de "ruído", que tem um grande número de picos "afiados" (picos de aptidão). A evolução vai progredir apenas até que sobe o pico mais próximo, e então vai parar. 

- Mas esse é um modelo muito mau para a biologia real, porque, nesse caso, uma mutação é tão má  como mudar todos os nucleótidos do genoma ao mesmo tempo.

- Além disso, nesse modelo, todas as partes do genoma interagem muito fortemente, muito mais do que em organismos reais. 

- Dembski e Marks reconhecem que, se a superfície de fitness é mais suave do que isso (e de facto é - mudar a cor do pêlo do urso pular não afecta a sua musculatura, forma das garras, etc.), é possível fazer progressos. 

- Eles, então, argumentam que a escolha de uma superfície de fitness bastante suave requer um designer. 

- Mas reconhecem implicitamente que a selecção natural pode criar adaptação. O argumento não requer projecto para ocorrer uma vez que a superfície de fitness está escolhida. É, portanto, um argumento para o evolucionismo teísta, e não para o design inteligente; e um argumento bem fraco, pois continua a não haver razões para aceitar que um deus foi responsável por isso, existindo possíveis explicações alternativas – talvez leis da química ou da física (como Felsenstein defende, que as leis da física implicam uma superfície muito mais suave do que um "mapa" aleatório - se a expressão do gene é separada no tempo e no espaço, os genes são muito menos propensos a interagir fortemente, e a superfície será muito mais suave do que a superfície "aleatória")
Seja como for que se defina informação, quer seja "criada" durante o processo evolutivo, quer antes, isto mantém-se. Esse deus é no mínimo desnecessário, ao contrário do que afirmam os criacionistas.

Criacionistas, vocês perderam há muito. Chega.   
   

           

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Ateísmo é doença mental? Não...

Claro que não. Para mostrar como seria estúpido responder afirmativamente, dizer que o ateísmo é uma doença mental é o mesmo que dizer que ter pêlos nas orelhas (uma forma de hirsutismo) é uma doença, que os homens que têm pêlos nas orelhas são doentes porque saem da norma. O mesmo para os carecas. Não estão doentes, mas fazem parte da diversidade humana, uma vez que isso não os prejudica (e até há mulheres que gostam de carecas) nem a mais ninguém. Mas há quem tente justificar de um modo semelhante que o ateísmo é uma doença mental (1) (e o Mats apoia essa ideia):
«Isto prende-se com o facto da ciência mostrar que a mente humana está construída para a fé visto que fomos criados para acreditar. Esse é um dos motivos cruciais que faz com que os crentes sejam mais felizes; as pessoas religiosas têm todas as suas capacidades mentais intactas, e estão a funcionar de forma plena como humanos. Logo, ser um ateu – tendo em falta a vital capacidade da fé – deve ser vista como uma aflição, e uma deficiência trágica: algo análogo à cegueira.» - Ainda que isso assim fosse, por uma maioria funcionar dessa maneira, não quer dizer que tudo o que saia disso seja "doença", nem sequer que as crenças religiosas (incluindo a existência de deus) sejam verdadeiras. É por não entenderem o conceito de diversidade que os criacionistas não entendem a evolução e como tudo (incluindo a possível tendência para crenças irracionais) pode ter evoluído com base num processo semi-aleatório.
Para terminar, se ser pro-ciência e não acreditar em disparates é ser "doente mental", eu prefiro ser doente, obrigada. 

Actualização:

O Mats insiste em defender o indefensável. Eu bem lhe explico que dizer que ateísmo é doença é a mesma coisa que dizer que ser careca (ou já agora, loiro) é ser doente. Os ateus de um modo geral não sofrem como consequência directa ou indirecta do ateísmo (pelo menos, não mais do que os religiosos sofrem como consequência da sua religiosidade). Se vamos definir doença de tal maneira que inclua tudo o que é variabilidade, então a definição torna-se inútil.

Pela resposta que obtive, o Mats não percebeu a minha analogia - era sobre o impacto que causavam e não se um era negar a existência e deus e o outro era não ter cabelo! Mas há mais: «Aparentemente, sofrem, visto que têm menos filhos, saúde inferior, mais problemas psicológicos, são menos altruístas, etc, etc.» - São menos altruístas? E sofrem por serem menos altruístas? Mais problemas psicológicos? E é o ateísmo que causa os problemas psicológicos? Pelo que li sobre o assunto, não me parece, nem me parece que, considerando os estudos e observações clínicas que contradizem isso, os ateus tenham mais tendência a sofrer de problemas mentais (http://allthatmattersmaddy32b.blogspot.pt/2014/10/religiao-vs-saude-mental.html). Além disso, estudos que encontram correlações nem sempre encontram causalidade. Mais ainda, desde quando é que ter menos filhos indica menos saúde ou faz alguém sofrer? Tanta treta em tão poucas linhas... 
A causa da doença ou de certas atitudes pode não ser o ateísmo em si (falta de crença em quaisquer divindades, que é como o termo é empregue pela maioria dos ateus, que eu saiba - e o dicionário deve ser descritivo e não prescritivo), mas talvez a falta do espírito de comunidade envolvente nos meios mais religiosos (mas que está longe de ser universal nesses mesmos meios) - não terá a ver com a falta de crença em si. De qualquer maneira, certas patologias podem ser agravadas/despoletadas pelo contacto com a religião ou pela adopção de crenças religiosas. Quanto à questão do altruísmo, isso não significa doença mental ou sofrimento. E o altruísmo nem sequer é requisito para o sucesso (antes pelo contrário). Ainda que tivesse bases para afirmar que o ateísmo contribuiu para o desenvolvimento/agrava a patologia, seria apenas um factor de risco (entre vários outros, e tal como a religião é para certas patologias) e não uma doença em si. O ateísmo em si, indica variedade de forma de pensar e de crenças - neste caso, é falta de crença (que poderá ter um fundo de variedade biológica). Nada mais.   


Ref.:

1. “Are atheists mentally ill?”, Sean Thomas (http://blogs.telegraph.co.uk/news/seanthomas/100231060/are-atheists-mentally-ill/) (Via "Darwinismo") 



     

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O Ateísmo e a Terra Plana

O histerismo dos criacionistas

Mais propriamente do criacionista Francisco Tourinho. No blog dele, escreve o seguinte: «Cientistas e religiosos medievais jamais acreditaram que a Terra era plana, isso foi criado por acadêmicos ateus para fazer marketing com suas ideias, esses sim foram os verdadeiros opositores da verdade na Ciência. Calúnias contra a oposição desde o seu nascimento!» Verdade na ciência… Ciência é ciência, e o conhecimento que se obtém através do método científico é o mais próximo da verdade. Agora, comparemos a atitude anti-científica dos criacionistas que querem à viva força que tudo encaixe no seu livrinho de contos com a atitude maioritariamente pro-ciência dos ateus (ex.: aceitação da teoria da evolução e das evidências a favor da mesma). Quais são os mais anti-ciência? Os criacionistas histéricos agarrados ao livrinho de histórias ou os ateus esclarecidos? Sim, porque existem muitos ateus esclarecidos, mas criacionistas duvido muito. Quanto ao resto, seja como for, acreditar no criacionismo hoje em dia é tão estúpido como acreditar numa Terra plana. E pelos disparates em que os cristãos acreditam, não me admiraria nada se acreditassem também nesse.   

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Religião vs. saúde mental

Certos psiquiatras encontraram uma relação entre neurose e histeria e religião, que foi confirmada em algumas amostras num contexto de investigação (1). Estudos (*) apontam para que certas crenças e práticas religiosas de alguns pacientes psiquiátricos tenham origem numa predisposição patológica (ex.: pacientes que acreditam estarem possuídos por demónios e que deus fala com eles, etc.) e para que o contacto com a religião e experiências religiosas possam despoletar esses episódios psicóticos, mas outros apontam para que a religião possa servir para os aliviar do stress da doença e mesmo do stress de situações menos agradáveis do dia-a-dia (1,2) (ex.: morte de parentes). É claro que eu poderia propor que, por exemplo para lidar com a morte de um familiar, pode-se simplesmente manter a sua memória viva, até mesmo através de gerações futuras (em vez de uma “alma imortal”, por exemplo). As crenças religiosas não são necessárias para lidar com esse tipo de situações. Há alternativas, provavelmente melhores, uma vez que, segundo o psiquiatra canadiano Wendall Watters, «Tem sido demonstrado que a doutrina cristã e liturgia desencorajam o desenvolvimento de estratégias maduras de “coping” e das aptidões relativas às relações interpessoais que permitem lidar de uma forma adaptativa com a ansiedade causada pelo stress.» (2)
No ramo da psiquiatria há poucos profissionais que defendam opções de tratamento relacionadas com a religião. Essas pérolas raras defendem que se deve até rezar com os pacientes e apelam à intervenção de clérigos quando o psiquiatra utilizar as crenças religiosas do paciente no tratamento – mas o que se está à espera quando por baixo das afiliações do autor do artigo se lê algo como isto: “Center for Spirituality, Theology and Health, Duke University Medical Center, Durham, North Carolina, USA.” É claro que para quem escreveu isto, o maior interesse não é a ciência nem sequer o bem-estar dos pacientes ou as boas práticas num contexto clínico. É propaganda religiosa pura e simples – marketing religioso (1). Não sou contra respeitar as crenças ou antecedentes religiosos do paciente (o que se quer é evitar o conflito entre o psiquiatra ou psicólogo e o paciente e não fomentá-lo, de modo a que se evite sobrecarregar o doente com stress e não se desvie o profissional dos seus objectivos), nem a favor de não as ter em conta, para o bem e para o mal – e nenhum profissional de saúde (mental ou não) que se preze deve ser contra isso (pelo menos metade numa pesquisa não são (2)). Mas uma coisa é respeitar e ter em conta, outra coisa é incluir no tratamento a promoção/apoio de práticas e crenças religiosas dos pacientes como estratégia de “coping” – o psiquiatra deve manter uma posição neutra e promover estratégias alternativas sem desrespeitar as crenças do paciente, podendo ou não contradizer essas crenças conforme apropriado num contexto terapêutico ou não, mesmo que possa ajudar a lidar com a ansiedade em certos casos, até porque é sabido que podem despoletar episódios psicóticos e não se pode ter a certeza na maioria dos casos de que o paciente não tem tendência para esses episódios, podem ter uma base patológica e o psiquiatra não deve ajudar a perpetuar ilusões. Não se devem utilizar essas práticas (a não ser talvez em último dos últimos casos), pois podem ser uma “falsa ajuda” do que uma ajuda (ver citação destacada) e não há estudos que apoiem a ideia de que o “tratamento religioso” é melhor do que o tratamento “não religioso”. Não sou psicóloga nem psiquiatra (tenho apenas 4 créditos de psicologia em todo o curso de ACSP e frequentei algumas aulas de psicologia do desenvolvimento extra), mas não é preciso muito mais que cultura geral básica, consulta das fontes certas e inteligência para ver as possíveis implicações nefastas na saúde do individuo decorrentes dessa prática, além de que seria deseducar a população sem qualquer benefício adicional garantido, uma vez que as crenças religiosas não são confirmadas por qualquer tipo de evidências (pelo contrário) e são tidas como superstição pela maioria dos cientistas (e até psiquiatras e psicólogos).
Relativamente ao assunto da relação entre depressão e religião, há poucos estudos e os resultados pendem para ambos os lados (2).
Uma ocorrência comum é a discriminação de doentes mentais por parte das comunidades religiosas – e uma das causas pode ser a montanha de noções erradas que a própria religião leva a que se instale nessas populações. Outra é o facto das pessoas darem concelhos contrários aos dos profissionais com base na religião e escolherem erradamente não se tratarem com base em crenças religiosas (3). 
Por último mas não menos importante, mesmo que o balanço do "tratamento religioso" e da religião em si fosse positivo em termos de saúde mental, isso não faz das crenças religiosas dos pacientes factos nem teorias cientificamente aceitáveis.   

Notas:
*Exemplos:
Siddle, Ronald; Haddock, Gillian, Tarrier, Nicholas, Faragher, E. Brian (1 March 2002). "Religious delusions in patients admitted to hospital with schizophrenia". Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology 37 (3): 130–138. doi:10.1007/s001270200005.PMID 11990010.
 Mohr, Sylvia; Borras, Laurence, Betrisey, Carine, Pierre-Yves, Brandt, Gilliéron, Christiane, Huguelet, Philippe (1 June 2010). "Delusions with Religious Content in Patients with Psychosis: How They Interact with Spiritual Coping". Psychiatry: Interpersonal and Biological Processes 73 (2): 158–172. doi:10.1521/psyc.2010.73.2.158.
Suhail, Kausar; Ghauri, Shabnam (1 April 2010). "Phenomenology of delusions and hallucinations in schizophrenia by religious convictions". Mental Health, Religion & Culture 13 (3): 245–259. doi:10.1080/13674670903313722.

Referências:

1. “Religion and mental health: what should psychiatrists do?”

Harold G. Koenig, Professor of Psychiatry and behavioral Sciences, Associate Professor of Medicine, Psychiatric Bulletin (2008)32: 201-203doi:10.1192/pb.bp.108.019430 (http://pb.rcpsych.org/content/32/6/201.full

2. Religion, Spirituality, and Mental Health, January 10, 2010, Simon Dein, FRCPsych, PhD – Psychiatric Times (http://www.psychiatrictimes.com/articles/religion-spirituality-and-mental-health)


3. «Module 7: Cultural Perspectives on Mental Health» - Unite for Sight (http://www.uniteforsight.org/mental-health/module7)