sábado, 2 de novembro de 2013

Culturalmente Cristãos [Modificado]

Tal como os meus pais sou ateia porque não acredito em deus e acho a hipótese de um deus pessoal a mais ridícula no que respeita a esse assunto. Mas somos culturalmente católicos, pois, apesar de não frequentarmos a igreja, somos baptizados, continuamos a decorar a casa, a fazer árvore de Natal e presépio e a trocar prendas na noite de Natal e temos uma certa admiração (apesar de não tanta quanto costumávamos ter) pela personagem de Jesus, seja ela real ou fictícia. Na minha família de um modo geral penso que é isto que se passa em relação à religião.
Eu nunca respondo que sou católica se me perguntarem sobre a minha religião por escrito e/ou para fins estatísticos. O máximo que pode acontecer é numa conversa dizer que não acredito em deus, mas que culturalmente sou católica – faço árvore de Natal, etc. Como eu há outros, mas em contrapartida, conheço gente (dentro da minha família alargada) que, apesar de não acreditarem/não terem opinião formada em relação a deus dizem que são católicos, porque ainda se sentem parte dessa religião em termos culturais. E é aqui que entram as estatísticas. Quantas pessoas se identificam com as posições teológicas da religião a que dizem pertencer e com os dogmas das mesmas? Quantos “católicos” acreditam de facto num deus pessoal? E quantos é que acreditam literalmente na ressurreição física de Jesus? E os outros cristãos? Nem todos acreditam nisso. No Reino Unido, estatísticas relativas aos censos 2011 apontam para que apenas 32% dos “cristãos dos censos” acreditavam literalmente na ressurreição física de Jesus e 49% (quase metade) não acreditava que em Jesus como o filho de deus. Ainda no Reino Unido, apenas um terço (cerca de 33%) desses cristãos invocaram crenças religiosas como justificação para a sua resposta, 37% deles nunca rezavam fora dos serviços religiosos e apenas 26% afirmaram acreditar totalmente no poder da oração (ou seja, num deus que ouve e leva a sério as orações). Tudo isso, como era de esperar, reflectiu-se na frequência dos serviços religiosos: 67% dos cristãos não compareciam num serviço religioso (excluindo ocasiões especiais, como casamentos, funerais e baptizados) há 12 meses ou há mais de 10 anos ou nunca o fizeram. E a descrença numa ressurreição física literal e noutros dogmas como o nascimento virgem chegou até aos sacerdotes católicos e anglicanos no Reino Unido (2002). Segundo um estudo estatístico realizado em 2001, nos Estados Unidos 95% dos cristãos acreditava na ressurreição. 5% não acreditavam. É uma percentagem muito superior de crentes na ressurreição relativamente à do Reino Unido (ainda que não sejam estatísticas do mesmo ano e isso possa ter sofrido alterações). Mesmo assim, 5% dos cristãos não acredita na ressurreição e é preciso ter em conta que a amostra inclui certamente um grande número de cristãos evangélicos fundamentalistas. 
Das estatísticas apresentadas no parágrafo anterior surgem algumas questões. Podem ser considerados cristãos os que não acreditam num dos dogmas essenciais ao cristianismo, a ressurreição? Acho que não. Mas talvez daqui a uns anos a questão da ressurreição seja respondida da mesma maneira que a da criação em 6 dias: “é uma metáfora.” E o nascimento de uma virgem vai pelo mesmo caminho. As percentagens apresentadas anteriormente, especialmente as relativas á crença no poder das orações e em Jesus como o filho de deus, sugerem que poucos cristãos no reino unido acreditam num deus pessoal. Será que podem ser considerados cristãos ou mesmo teístas? Não me parece. Ao olhar para gráficos como aqueles que apresentei anteriormente aqui no blog, podemos pensar que o que mais predomina no mundo são as crenças religiosas do cristianismo e do islamismo. Mas quantos desses “crentes” (incluindo muçulmanos) se identificam com a teologia e os dogmas da religião a que afirmam pertencer? Nem todos e no Reino Unido são mesmo muito poucos. Seria interessante saber qual é a situação a nível mundial relativamente às religiões predominantes (cristianismo e Islamismo). 

Referências:

- Maas, A. (1911). «General Resurrection», Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Retrieved November 1, 2013 (New Advent: http://www.newadvent.org/cathen/12792a.htm)

- KIRBY, PAULA, «RDFRS UK/Ipsos MORI Poll #1: How religious are UK Christians?», 14 February 2012  (RDFRS UK - RICHARDDAWKINS.NET: http://old.richarddawkins.net/articles/644941-rdfrs-uk-ipsos-mori-poll-1-how-religious-are-uk-christians)  
- Petre, Jonathan, «One third of clergy do not believe in the Resurrection», 31 Jul 2002 – The Telegraph (disponível aqui: http://www.telegraph.co.uk/news/uknews/1403106/One-third-of-clergy-do-not-believe-in-the-Resurrection.html)


- Robinson, B. A., «Christian laity & clergy: Beliefs about Jesus' resurrection - Harris polls of American adults», 14/04/2003 (disponível aqui: http://www.religioustolerance.org/resurrec8.htm)


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