terça-feira, 16 de setembro de 2014

Dawkins e os Criacionistas

No “Darwinismo, o Mats escreveu uma data de baboseiras acerca de certas observações do Dawkins, citando um artigo em que o autor pretende desconstruir o que ele diz… distorcendo tudo a seu belo prazer, e escrevendo disparates:

1. “Se tu tivesses nascido na Índia….”
«[Dawkins] tenta apresentar este argumento contra a crença religiosa dizendo: “Se tivesses nascido na Índia tu provavelmente estarias a adorar Vishnu”. E depois? A forma como as pessoas passaram a ter uma crença não nos diz nada sobre a veracidade dessa mesma crença. Com este argumento, Dawkins dá um exemplo clássico da Falácia Genética; ele tenta demonstrar a origem duma crença, e com isso “prova” que essa crença é falsa.» - Isto parece ter mais a ver com “inspiração divina/ revelação” vs. “cultura e geografia” do que “existência” vs “não existência”. Não é falácia genética. Só nos diz que a crença das pessoas (algumas até dizem mesmo ser inspiradas por Deus) é devida à cultura e geografia, que fazem as pessoas propensas a acreditar mais numas coisas do que noutras e interpretar experiências a essa luz. Outra vertente para que a afirmação do Dawkins pode chamar a atenção é que uma possível alternativa à existência de deuses é que estes foram apenas invenção do ser humano, e não existem na realidade – não estou a argumentar que porque foi inventado e assim as gerações seguintes passaram a acreditar, então não existe, mas apenas a apontar uma hipótese – a mais provável.
2. A sua crítica ao Argumento Ontológico
«Dawkins afirmou que certa vez ele esteve presente numa convenção cheia de teólogos e filósofos, e, à frente deles, tentou refutar o argumento ontológico falando dum maximamente grande porco voador. Tal como o Dr. William Lane Craig ressalvou, isto é embaraçoso. Pergunto-me que imagem Dawkins passou de si próprio nesta conferência de teólogos e filósofos. Dawkins escreve: Eles recorreram à lógica modal para refutar o que eu estava a dizer. Para mim, isto é o mesmo que dizer, “Eles refutaram o que eu estava a dizer” visto que o argumento ontológico é um exemplo de lógica modal. Ficamos logo com a ideia de que Dawkins não faz ideia nenhuma do que se está a falar.» Isso não é bem assim. No “God Delusion”, Dawkins escreve que apresentou a um grupo de teólogos e filósofos uma adaptação do argumento ontológico para provar que os porcos podem voar. Então, eles foram obrigados a recorrer à lógica modal para o refutarem. O que Dawkins fez foi uma paródia ao argumento ontológico (à lógica modal em si) – não vejo onde está o problema. Nada disto quer dizer que a filosofia em geral não serve para nada.
3. A sua crítica ao Argumento Cosmológico de Kalam (You left out Step 4: "Therefore Jesus died for our sins and regularly turns into a wafer”, quando lhe foi pedido feedback sobre o assunto*)
«Dawkins respondeu a este argumento afirmando que, mesmo que se aceite que o universo tem uma Causa, isso nada faz para mostrar que o Deus da Bíblia existe. Esta resposta de Dawkins é irrelevante porque não era esse o propósito do argumento; o propósito do argumento era o de mostrar que a Causa do universo era Eterna, Imaterial, Ilimitada e Sobrenatural. O argumento nunca tentou provar que o Deus da Bíblia era o Criador, logo, Dawkins não entendeu nada do argumento.» - Provavelmente o Dawkins só queria apontar que é pouco relevante para os cristãos (talvez não tanto para os deístas). O que o Dawkins diz é relevante, pois este argumento é normalmente apresentado por teístas, em geral cristãos. Se não pretende demonstrar que é o deus deles, ou sequer um deus teísta, escusam de o usar, pois de nada lhes serve – não são deístas, e a causa nem precisa de ser “inteligente”, “pensante”, com emoções e desejos humanos, como normalmente se concebe “deus”. E “sobrenatural”, depende da definição de sobrenatural. E “imaterial”? Não é o mesmo que divino. Nem sequer temos garantido que “tudo” (incluindo o universo) o que “começa” a existir tem uma causa. O máximo que podemos inferir é relativamente ao que está dentro do universo, nada relativamente ao universo em si – não sabemos se o universo, mesmo se considerarmos um “começo” tem que ter tido uma causa ou teve uma causa. E como escreveu um comentador (assina “Sodré”): “Eu julgo que sempre existiu Algo físico obediente a leis ainda desconhecidas, outros julgam que sempre existiu Algo transcendente… Mas sempre terá existido Algo…” Possivelmente. E não necessariamente um deus. O impacto deste argumento num debate sobre a existência de qualquer deus é pouco mais que zero. Pouco ajuda a causa dos cristãos desesperados. Next.  

4. As suas opiniões sobre a complexidade.
«Dawkins pensa que Deus é Uma Entidade enormemente Complexa, e como tal, não seria um avanço no conhecimento. Segundo Dawkins, não podemos invocar Deus como explicação porque Deus é ainda mais Complexo que aquilo cuja origem Ele é a explicação. Isto faz parte do argumento central do livro “The God Delusion”. (…) Uma explicação pode ser mais complexa que uma explicação rival mas ser aceite porque tem um poder e um alcance explicativo maior. [O deus da Bíblia não é aceite porque não pode explicar coerentemente o que observamos, não há evidências a favor da sua existência, como o próprio Dawkins já referiu várias vezes, etc.] Para além disso, se alguém se preocupa com a simplicidade, então Deis [sic] ajusta-Se a esse critério; Ele é Uma Mente sem um corpo; as Suas ideias podem ser muito complexas mas a Mente em si não é.» - Boa sorte em demonstrar que isso é ao menos possível (e serve também para quem diz que as únicas coisas que encaixam na descrição que se deduz da tal “causa” são mentes inteligentes e coisas abstractas – eu diria, as únicas coisas que conhecemos, e quanto à mente inteligente, nada garantido) – nos comentários, o Mats respondeu: “É auto-evidente pela existência da matéria física”, e “e pela impossibilidade de forças naturais geram [Sic] matéria física. Isto leva-nos a inferir que deve existir pelo menos UMA Mente sem corpo físico.” Forças naturais… Ou seja, causas que se conheçam. E eu pergunto-me, porquê uma “mente”? Ao responder-lhe foquei-me em demonstrar que flutuações quânticas criavam matéria e apresentar hipóteses interessantes sobre a origem do universo que envolvem flutuações quânticas**. Mas nada garante ao Mats que, por não sabermos qual foi a “causa”, era necessária a tal “mente sem corpo”. Além disso… o que se passou com o “Caps” do Mats? Ele já não se limita a escrever “Deus” com letra maiúscula, mas tudo o que se relaciona com deus. Tem muito medo de ir parar ao inferno, mas muito pouca vergonha.
5. Que criou o Criador? [Sic]
«Dawkins pensa que não se pode usar Deus como explicação porque com isso, outro problema é gerado – nomeadamente, quem criou Deus? Esta pergunta tem sido defendida por muitos ateus, chegando até a chamá-la de “a pergunta que nenhum teísta pode responder.” (…) Dawkins mantém uma atitude auto-congratulatória, (…) dizendo às pessoas que “este é um argumento sério, que nenhum teólogo foi até hoje capaz de dar uma resposta convincente.” O problema (…) é que (…) De modo a que se possa dizer que A causou B, não é preciso demonstrar a origem de A. » - “De modo a que se possa dizer que A causou B, não é preciso demonstrar a origem de A.”? Certo. Mas os teístas, que eu saiba continuam sem resposta à pergunta. O ateu tem o problema de explicar a origem do universo, que agora já não é um problema assim tão grande, com os avanços da física, enquanto que o teísta tem que explicar a origem do seu Deus – e esse, ao que parece é um problema ainda maior. Essa pergunta do Dawkins e de outros é pertinente, na medida que exige aos teístas a resolução do problema deles, tal como muitos exigem a resolução do problema do universo.
Resumindo: nos pontos 1, 2 e 3 o autor do artigo (muito provavelmente) distorceu os pontos de vista do Dawkins, e no ponto 5, a pergunta do Dawkins é pertinente e os teístas não conseguem responder. No ponto 4, bem, como eu disse, boa sorte em demonstrar que é possível haver mente sem corpo.
Com o único objectivo de caluniar Dawkins e os ateus em geral, o autor escreve: «A injustificada devoção que a maioria dos militantes ateus têm por Dawkins diz muito do seu baixo grau de exigências e da sua credulidade infantil.» - A injustificada devoção que a maioria dos fanáticos cristãos têm pela Bíblia diz muito do seu baixo grau de exigências e da sua credulidade infantil.
«Apesar da grande estima que o militante ateu comum tem por ele, os académicos tendem a olhar para ele como uma figura humorística, agitador de punho contra fadas madrinhas.» E… que percentagem desses “académicos” de que fala o autor são cristãos enviesados? Provavelmente, muitos.
A cereja no topo do bolo é chamarem-lhe “sociopata” – criacionistas e não só***. Como na maioria dos casos, sendo leigos na área da psicologia e dado o contexto, é provável que estejam a usar o termo como se fosse equivalente a “psicopata”. Se não estão, não podiam estar mais longe da verdade. Se estão, também não estão propriamente perto. Nem por sombras. Há anos que leio o que o Dawkins escreve e assisto às palestras e entrevistas com ele. Ele é um pouco manipulador, assumindo que ele por vezes usa argumentos que podem induzir o adversário a interpretar de maneira errada e a não perceber o ponto de vista à primeira (no caso dos criacionistas, provavelmente nem à primeira, nem à segunda, nem à terceira) e que não é apenas fruto das mentes retorcidas dos criacionistas. É também manipulador pois goza com o adversário em público. Mas isso é só uma característica numa lista de 20. Parece um tanto impulsivo naquilo que escreve no Twitter, por exemplo, e é um tanto frio no que afirma. Mas isso são apenas três características numa lista enorme, mais uma vez, se considerarmos “falta de empatia” como diferente de 0, que significa que não se aplica de todo à pessoa em causa. Há ainda que admitir que ele tem charme, lábia e pode ser bastante agradável. Merece um 2, é verdade. Sofre de tédio? Pelo que li sobre a biografia dele, provavelmente. Isto dá um total de 7 a 10 pontos na PCL-R. Uma pessoa dita saudável pode ter até 10 nessa lista, e uma pessoa com apenas ligeiras inclinações psicopáticas tem até 19. Tendo isso em consideração, é muito provável que o Dawkins não seja nenhum psicopata, apenas um cientista reformado e um ateu mais ou menos sensato.
Notas:

* Ver: “The Kalam Cosmological Argument” – Comments (Richard Dawkins Foundation for Reason and science website - http://old.richarddawkins.net/discussions/507717-the-kalam-cosmological-argument/comments?page=1)

** Fontes sugeridas: http://www.colorado.edu/philosophy/vstenger/Cosmo/FineTune.pdf (hipótese de Linde, que propõe uma “espuma” de fundo do espaço-tempo - onde partículas subatómicas vão aparecendo e desaparecendo - criada a partir de partículas virtuais); http://debunkingwlc.wordpress.com/2010/08/11/alexander-vilenkins-model-of-cosmic-origins/ (ver também: http://en.wikipedia.org/wiki/Inflation_(cosmology)) e
http://debunkingwlc.wordpress.com/2010/07/31/are-vacuum-fluctuation-models-dead/ (outra hipótese interessante sobre a origem do universo, que também envolve flutuações quânticas.)


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A teoria da evolução não é inútil (parte IV)

Não, não é. Além de se ter em conta a evolução dos micróbios, como vírus e bactérias (seja quando for que a resistência tenha evoluído - recentemente ou não) quando se tratam doentes infectados com medicamentos, aos quais eles podem ter evoluído resistência ou não (sim, sim as bactérias evoluem resistência aos antibióticos - e ainda que a evolução delas tenha sido antes dos humanos descobrirem os antibióticos (naturais), elas adaptaram-se ao seu meio, evoluindo a resistência. Sobre evolução da multi-resistência da tuberculose: http://allthatmattersmaddy32.blogspot.pt/2013/06/evolucao-e-saude-iii-teoria-da-evolucao.html), modelos animais em ensaios clínicos são usados muitas vezes de acordo com a sua proximidade evolutiva (usam-se mais ratos em vez de lagartos, se é que estes alguma vez foram usados), ou de acordo com as estruturas mais ou menos conservadas, como o núcleo da amígdala, por exemplo, em pesquisas recentes: 

«Heavy reliance on animal models is justified in the study of fear responding and the amygdala given how strongly conserved the amygdala nuclei involved in responding to conditioned threats are across species ranging from reptiles to birds to rodents to primates (LeDoux, ).» (1)


Até na área da engenharia e da informática (algoritmos evolutivos) a teoria da evolução tem aplicações (ver "O Relojoeiro Cego", de Richard Dawkins).

Os criacionistas (o Mats do "Darwinismo" e outros*), por exemplo, insistem que a teoria da evolução é inútil. Certamente que para algumas coisas é - por exemplo, para arquitectura de interiores. Para fazer sapatos! Whatever... 

Ref.:


1. Front Hum Neurosci. 2013; 7: 181. (Published online May 10, 2013. Prepublished online Mar 1, 2013.) doi: 10.3389/fnhum.2013.00181, PMCID: PMC3650475, "What can we learn about emotion by studying psychopathy?", Abigail A. Marsh (disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3650475/)


*Nota: Ver em: http://allthatmattersmaddy32.blogspot.pt/2012/12/evolucao-saude.html (comentários); http://darwinismo.wordpress.com/2014/08/29/professor-de-genetica/ (citando Maciej Giertych: “É comum eu contribuir para capítulos que se focam na genética, e posso dizer que não conheço dado biológico algum, relevante para a genética das árvores, que necessite duma explicação evolutiva. Eu posso muito bem desempenhar a minha profissão alegremente sem nunca mencionar a teoria da evolução.” – Duvido muito, pelo que eu própria estudei de genética.)   
  

domingo, 14 de setembro de 2014

Mais tretas dos cristãos

Desde afirmar (sem gozos) que o Richard Dawkins é satânico, a dizer que a camada relativamente fina de poeira da Lua (que afinal não é fina, é bem grossa) é evidência para uma Terra jovem:



STUPID Christian Comments #8 | w/ DarkMatter2525 



terça-feira, 9 de setembro de 2014

Criacionistas, "adivinhação" e evolução

    Certo criacionista no "Darwinismo" resolveu responder a certos comentários meus sobre a preservação (provavelmente facilitada pela presença de ferro) de tecidos fósseis da seguinte forma:
«Há uma diferença entre ciência e pseudociência, quando se tenta adivinhar algo ignorando o método cientifico e seu item observacional, já não é mais ciência, mas sim pseudociência! Não se pode negar uma possibilidade, e decretar que uma posição é a verdadeira usando de adivinhações, ou seja. utilizar experiencia de tempo de 2 anos, e pressupor que foi a causa de um resultado de supostos 60 (no minimo), é pura adivinhação. Ninguém fabrica remédios trabalhando com adivinhações, mas sim RESPEITANDO o método cientifico.» 
Que comentário mais despropositado… O que tem isso a ver com os meus últimos comentários em específico? Nada, claro. Se ele fala da evolução, os cientistas têm um belo registo fóssil para a evidenciar (como facto), e os meios conhecidos (meios que sabemos com toda a certeza que “existiam” e ainda “existem”) para produzir diversidade (incluindo espécies diferentes, como se vê no registo fóssil) são as mutações, a selecção e a deriva genética – há até casos em que relativamente poucas mutações provocam alterações anatómicas em larga escala. Isso é a parte da teoria, e a partir daí, várias hipóteses em concreto, para vários sistemas moleculares têm sido propostas e evidenciadas. Mais: um facto que sugere que este processo de "modificação" dos descendentes (através de mutações e recombinação, que são inevitáveis com a reprodução) - e claro, as consequências (também inevitáveis) da interacção da diversidade com o meio, é o padrão de semelhanças e diferenças que faz uma árvore genealógica, como seria de esperar se os seres vivos se fossem reproduzindo e divergindo normalmente, com tudo o que é inerente à reprodução, isto é, ao passar das gerações - o registo fóssil mostra-nos divergência de linhagens e é isso que ocorre quando uma população se “separa”, os indivíduos se continuam a reproduzir e, com isso vão aparecendo mutações, vão havendo pressões selectivas distintas, e deriva. E, claro, não existe (ou pelo menos não se encontrou ainda) nada que não possa ser explicado pelos sujeitos do costume (mutações, selecção e deriva). Querem mais? E quem são os criacionistas para falar em "adivinhação"? Eles é que acreditam em deuses, demónios, anjos, etc, sem quaisquer evidências. Eles sim, confiam na adivinhação de pessoas da idade do bronze. Que se f*da a realidade, não é, senhores criacionistas?  

      
      Actualização: Os criacionistas "contra-atacam". O criacionista "Jephsimple", respondeu no seu tom irritante do costume, em parte da mesma maneira, que já me entedia. Uma das coisas que ele escreveu, e a minha resposta: 
    «Os cientistas tem um belo registro fóssil que apoiam a evolução???? Que eu saiba o registro fóssil é monstro que Darwin temia…» - Sim, têm. O registo fóssil mostra-nos mudança ao longo do tempo com formas intermediárias, e divergência de linhagens - e é isso que ocorre quando uma população se “separa”, os indivíduos se continuam a reproduzir e, com isso vão aparecendo mutações, vão havendo pressões selectivas distintas, e deriva. 
      Ainda sobre os fósseis: «http://www.thegrandexperiment.com/whale-evolution.html - Museus cheios de crânios, esqueletos e reconstruções que são falsas» - "Today, the whale hind parts are internal and reduced. Occasionally, the genes that code for longer extremities cause a modern whale to develop miniature legs (known as atavism)." (http://en.wikipedia.org/wiki/Evolution_of_cetaceans#Skeletal_evolution) - O que é que isto evidencia? Talvez aqueles nem fossem os fósseis "certos". E o resto - anatomia e genética? Vai ignorar?  
        Sim, os criacionistas ignoram aquilo que não "cabe" no que diz a sua limitada Bíblia. Mais uma vez, que se f*da a realidade!  

      Actualização (2): O mesmo criacionista que iniciou a discussão comigo respondeu da seguinte forma:
        «Não estava falando de Teoria da Evolução, mas do experimento utilizado na objeção ao tópico, 2 anos não é o suficiente para decretar que o mesmo ocorreu em, no mínimo, 60 milhões de anos. Utilizar isso é pura adivinhação e não ciência. E sobre Teoria da Evolução, não há nada, respeitando o método cientifico, que sustente a transformação molécula-homem absolutamente nada. Utilizar características comuns dentro da diversidade dos seres, como visto nos fósseis, para decretar um ancestral em comum, também passa longe de ciência, é pura interpretação subjetiva, posso dizer que os fósseis mostra um Projetista em comum, ao invés do ancestral. Como falei, não se fabrica remédios a base de adivinhações, e sim respeitando o método cientifico.» - Ao que respondi: 
        «Não estava falando de Teoria da Evolução, mas do experimento utilizado na objeção ao tópico, 2 anos não é o suficiente para decretar que o mesmo ocorreu em, no mínimo, 60 milhões de anos. Utilizar isso é pura adivinhação e não ciência.» Adivinhação é decretar que é porque não tem milhões de anos. Quanto muito não se sabe.
            «E sobre Teoria da Evolução, não há nada, respeitando o método cientifico, que sustente a transformação molécula-homem absolutamente nada. Utilizar características comuns dentro da diversidade dos seres, como visto nos fósseis, para decretar um ancestral em comum, também passa longe de ciência, é pura interpretação subjetiva, posso dizer que os fósseis mostra um Projetista em comum, ao invés do ancestral.» Duas palavras para si: padrão genealógico (atente no “genealógico”, não é um padrão qualquer de semelhanças e diferenças, como entre cadeiras, mesas e bancos, por exemplo).
              Entretanto, não me parece que os cientistas estejam assim com tantas dúvidas sobre se é antigo ou não, e acho que podem encontrar algo que providenciou um modo de preservação excepcional. 

Transtornos de personalidade e o seu valor adaptativo (adenda - estereótipos e variabilidade)

Reparei agora que a minha abordagem a este tema pode propiciar o estereotipar de certos grupos, mas quando se pensa/analisa este tipo de doença (mesmo sem ser clinicamente, como amigo ou familiar) há que ter em conta que dentro destas classificações todas existe variabilidade. Existem vários subtipos de cada transtorno (que podem apresentar características de outros) e dentro desses subtipos existe também variabilidade entre indivíduos e amostras. Um exemplo dessa variabilidade pode ser confirmado num estufo com mulheres presidiárias psicopatas - em que o tipo primário não exibia uma reacção de stress reduzida como noutras amostras (tanto de mulheres como de homens) (1). Até pelos estudos citados anteriormente com mulheres borderline se vê que há diferenças no funcionamento do cérebro em pacientes que se podem incluir no mesmo transtorno. Não convém estereotipar em excesso, tem que se contar com variabilidade - e isto aplica-se também a qualquer população que se observe. É normalmente aqui que os criacionistas falham: ou não se apercebem (ou fingem que não se apercebem) que a variabilidade é algo natural numa população devido às mutações. Pode ser reduzida e reposta. Certas variantes podem estar mais ou menos adaptadas ao ambiente/mudança ambiental. E é assim que actua a selecção natural. 

Ref.:

1. Personal Disord. Jan 1, 2010; 1(1): 38–57. doi: 10.1037/a0018135, PMCID: PMC2889701. "Validating Female Psychopathy Subtypes: Differences in Personality, Antisocial and Violent Behavior, Substance Abuse, Trauma, and Mental Health", Brian M. Hicks et al. (disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2889701/

sábado, 6 de setembro de 2014

Passagens de modelos com mulheres "normais"

Sim, as passagens de modelos com mulheres da "vida real" - sim, porque a maioria das mulheres com quem convivemos e nos cruzamos no dia-a-dia encaixam neste espectro algo diverso e não no que estamos habituados a que nos chegue através do Fashion TV. Mulheres com curvas - peito, rabo, ancas, cintura e pernas que se vejam, mais saudáveis no geral do que o que vemos nas passagem da Victoria Secret - e a roupa, nada má.






Mais:





terça-feira, 2 de setembro de 2014

Transtornos de personalidade e o seu valor adaptativo

À primeira vista, qualquer pessoa com um transtorno de personalidade parece estar em desvantagem, cada qual à sua maneira. Como exemplo, um paciente com transtorno borderline é muito temperamental, sente muito fortemente as emoções (mais do que o esperado de acordo com a situação), tem problemas de controlo de raiva, irritabilidade e impulso, necessita de estimulação - à semelhança do que acontece em pacientes com psicopatia secundária (o tipo mais neurótico) (1), por exemplo. A mulher borderline é a típica cabra raivosa, com ataques psicopáticos (apesar do nível de empatia emocional variar, podendo encontrar-se diminuído ou não - e muitas vezes não é "utilizada" no dia a dia devido ao turbilhão emocional do próprio - no que se relaciona com sentimentos de compaixão e pena - sim, sentir pena está relacionado com a reacção empática, mas é o nível menos exigente, devido ao distanciamento - e poderem atingir níveis mais altos de desconforto emocional face ao sofrimento de outros em relação aos indivíduos usados para controlo (2)), por vezes com sentimentos de omnipotência, depressiva ou maníaca, a pular de relação amorosa em relação amorosa, outras vezes apenas de relação sexual em relação sexual (3, 4). O que é que isto tem de vantajoso/adaptativo? À primeira vista, nada. É verdade que não comecei por um dos melhores transtornos neste aspecto (pelo menos a meu ver). Mas é de notar que mesmo nestes pacientes, em bastantes casos as piores partes não levam a melhor - tornam-se bem sucedidos, e quem sofre de transtorno borderline "construiu" várias defesas adaptativas, que o tornam mais resistentes à adversidade - por exemplo, defesas narcisistas e desvalorização de pessoas em relação às quais existe uma ambiguidade de sentimentos (4) - e assim, mais provavelmente do que se deixassem "ir abaixo" por completo com problemas de auto-estima e ansiedade (em comparação com pessoas com transtorno de personalidade depressivo, por exemplo), eles atingem a idade adulta (de reprodução) e vivem mais tempo. Sim, certos transtornos de personalidade trazem vantagem aos indivíduos em comparação com outros transtornos de personalidade, e alguns até suplantam os "normais" ou neurotípicos. O exemplo que salta mais à vista é o psicopata primário (embora o nível do valor adaptativo se estenda também ao narcisista* anti-social): não sente remorsos, não estabelecem relações afectivas, ou seja, relacionam-se apenas a um nível superficial, geralmente sentem pouca ou nenhuma empatia pelos outros (não se sentem mal como eles, nem por eles, nem compaixão), têm défice emocional. É também promíscuo, narcisista, egocêntrico, impulsivo, manipulador, mentiroso patológico, ilude os outros com o seu charme superficial, tem dificuldade em aprender com os erros, pode ser caracterizado como "amoral" e sofre de tédio, necessitando de estimulação. Tolera mal a frustração, ficando enraivecido e é vingativo. Existe um teste (profissional) de psicopatia e transtorno de personalidade anti-social (do qual a psicopatia é considerado um subtipo), em que estas características são classificadas pelo próprio paciente (acompanhados por um profissional) com  os números 0 (não se aplica), 2 (aplica-se) e 1 (aplica-se menos relativamente a outras características) (5). Se a isto associarmos uma inteligência pelo menos um pouco acima da média, temos alguém que tem facilidade em tomar decisões controversas (sobretudo moralmente controversas), tem facilidade (sobretudo moral, também) em ludibriar outros para atingir os seus objectivos, auto-estima elevada, que provavelmente valorizam a imagem e a posição social (que depende bastante da profissão), e tendo inteligência suficiente, acabam por ser pelo menos razoavelmente realizados. Quando o público em geral (leigo) pensa em psicopatia, tende muito provavelmente a visualizar um assassino, normalmente em série, ou pelo menos um criminoso irremediável, que acaba morto ou na prisão durante imenso tempo, devido à sua representação na televisão, no cinema e até na literatura. Mas, dependendo das capacidades intelectuais de cada um, os psicopatas podem ser médicos, advogados, banqueiros, economistas, empresários, ou ter um emprego que, pelo menos, os sustente. Em termos evolutivos, um psicopata (sobretudo o psicopata do sexo masculino) tem boas probabilidades de se reproduzir (é promíscuo, mas pouco afectivo, pode servir-se do seu charme superficial, facilidade em mentir, enganar e manipular para arranjar parceiras) e tem mais probabilidade de abdicar de participar na educação dos filhos, deixando-os com a parceira, logo menos custos para o próprio. Podem muitas vezes chegar ao topo (ex.: numa empresa), bajulando, manipulando ("enrolando"), mentindo, e até aumentando o desempenho, quando disso depende algo importante, como uma promoção. O psicopata secundário é mais medricas, mais neurótico, menos dominante socialmente e tem mais características do transtorno borderline do que os psicopatas primários. Mas tal como estes é promíscuo, pouco afectivo, pouco empático, portanto não tem problemas (ou tem menos) em mentir, enganar, manipular ou tomar decisões moralmente controversas e não sofre com problemas de auto-estima. É por vezes designado por sociopata, que é um termo antigo e por vezes também usado para descrever outros pacientes anti-sociais (1, 6) (os que sofreram acidentes que provocaram o transtorno, ou indivíduos com um sentido de "bem" e "mal" diferente do que era de esperar dado o contexto cultural em que foi criado, tendo provavelmente algo afectado no circuito empático (6)), o que só vem criar confusão. Será possível que algum dia a população humana seja dominada por psicopatas (as evidências sugerem que é hereditário, pelo menos no caso da psicopatia primária)? A (hipotética) pressão selectiva não me parece suficientemente forte. 

Actualização: Como já anteriormente referi, mais do que um transtorno de personalidade pode coexistir num paciente - Uma conjugação possível é borderline + psicopata, mais sensível, emocional e vulnerável do que o psicopata "puro" (e provavelmente com problemas de abandono - namorados e namoradas, cuidado), mas mesmo assim com muitas das características, incluindo empatia diminuída, falta de remorsos e falta de escrúpulos, que dão potencial para o sucesso ao psicopata.*** 

Referências: 

1. "DOES SECONDARY PSYCHOPATHY EXIST? EXPLORING CONCEPTUALISATIONS OF PSYCHOPATHY AND EVIDENCE FOR THE EXISTENCE OF A SECONDARY VARIANT OF PSYCHOPATHY", Christopher Thomas Gowlett - Internet Journal of Criminology © 2014, ISSN 2045 6743 (Online) (disponível em: 
http://www.internetjournalofcriminology.com/Gowlett_Does_Secondary_Psychopathy_Exist_IJC_Jan_2014.pdf
2. "Social cognition in borderline personality disorder", Stefan RoepkeAline VaterSandra PreißlerHauke R. HeekerenIsabel Dziobek, Front Neurosci. 2012; 6: 195. Published online Jan 14,2013. doi:10.3389/fnins.2012.00195, PMCID: PMC3543980 (disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3543980/
3. "Borderline personality Test" (disponível em: http://psychcentral.com/quizzes/borderline.htm)**    
4. "BEYOND SPLITTING: OBSERVER-RATED DEFENSE MECHANISMS IN BORDERLINE
PERSONALITY DISORDER", J. Christopher Perry et al, Psychoanalytic Psychology © 2012 American Psychological Association, 2013, Vol. 30, No. 1, 3–15 0736-9735/13/$12.00 DOI: 10.1037/a0029463 (disponível em: http://www.apa.org/pubs/journals/features/pap-a0029463.pdf)  
5. "Hare Psychopathy Checklist" (disponível aqui: http://www.minddisorders.com/knowledge/Hare_Psychopathy_Checklist.html)/ "An Introduction to the Psychopathy Checklist-Revised (PCL-R)", J. Scarlet (disponível em: http://psychopathyinfo.wordpress.com/2011/12/31/an-introduction-to-the-psychopathy-checklist-revised-pcl-r/)
6. Pemment, J., Psychopathy versus sociopathy: Why the distinction has become crucial, Aggression and Violent Behavior
(2013), http://dx.doi.org/10.1016/j.avb.2013.07.001 (disponível em: http://www.psychologytoday.com/files/attachments/112693/psychopathy-versus-sociopathy.pdf

Notas:

*Falta de empatia (como mencionado num texto anterior) e remorso, entre outras são também características do transtorno de personalidade narcisista - o máximo que conseguem sentir, de acordo com profissionais que trabalharam com esses pacientes, é um ligeiro desconforto porque têm motivos egoístas para querer que fique tudo "bem" - a aparência de perfeição está ameaçada - mas não pelos sentimentos da outra pessoa, pelo que podem explicar-se (muitas vezes evitando pedir desculpa) ou tentar compensar a pessoa e reparar superficialmente a relação, é raro assumirem a culpa por completo e tendem a racionalizar (ver testemunho aqui: http://thenarcissisticlife.com/the-narcissist-and-apology/)

Conselhos para quem lida (ou pelo menos está convencido de que lida) com um parceiro, amigo ou familiar com um destes transtornos de personalidade: Se é um psicopata (primário ou secundário), fujam, não tenham pena e muito menos compaixão deles – eles jogam com as vossas emoções e empatia, por vezes só para vos poderem arreliar durante mais um bocadinho depois disso. Para eles é um jogo – até a vossa relação pode ser um jogo, cheio de enganos e mentiras. Se é borderline, convençam-no (manipulem-no - lol) a ir ao psicólogo, psiquiatra ou ambos, se tiverem intimidade suficiente - e só nessa situação é que interessa. Se não têm essa intimidade, afastarem-se é uma opção. Se é anti-social ("sociopata"), provavelmente é criminoso ou tem tendências criminosas. Fujam. Quanto aos narcisistas, existem subtipos mais vulneráveis e menos vulneráveis – até com tendências psicopáticas. Dos primeiros, afastem-se sem conflito, se passarem na rua podem retribuir um olá. Se forem conjugues, podem tentar a terapia conjunta – ou o divórcio. Dos últimos, fujam. Eu gosto de pensar nos transtornos de personalidade da seguinte forma: o psicopata primário é o maquiavélico, mentiroso, pouco emocional, pouco empático, sem remorsos, o psicopata secundário é o irmão “rabugento” e medricas, o anti-social é o primo delinquente, o narcisista é o primo convencido, o borderline o primo sensível, e o histriónico é o dramático e superficial, mas mais empático e afastado (são todos transtornos do cluster B). Gosto da analogia dos primos porque todos têm algo em comum, e também diferenças que são decisivas para o diagnóstico.       

Por último, deixo um conselho aos fãs do Sherlock Holms (BBC): não se deixem manipular pelo malandro, a dar um tom mais "soft" e por isso mais "aceitável" à sua condição de psicopata (ou pelo menos, tendências psicopáticas), o que pode também ser interpretado como arrogância, e por isso intimidativo, em certos contextos. “High functioning sociopath” é uma designação com pouco préstimo em termos de diferenciação - a parte do "sociopath", pois é usado também para descrever dois outros grupos de indivíduos anti-sociais, e não só o psicopata secundário. Apesar do “sociopata” ser visto pelo público (e uma pesquisa rápida online evidencia-o) como um paciente com uma forma menos grave de psicopatia, nenhum dos grupos ou o subtipo de psicopatia que pode designar se traduz num impacto social menos grave do que o subtipo primário – até podem ser piores. Não há razão para "sociopata" ser mais aceitável do que "psicopata", pelo menos em termos de comportamento e impacto. "High functioning", se quiser apenas dizer inteligente e por isso bem sucedido, está obviamente correcto e diferencia-o do tipo de caso mais exposto ao público, portanto seria uma observação pertinente. Nem todos os psicopatas são bem sucedidos, alguns acabam presos ou mortos pela polícia ou sistema de justiça. Uma interpretação alternativa é que ele se apresenta como um "sociopata" (ou um psicopata secundário, neste caso) e reage forçadamente como um por achar que isso o livra de qualquer fraqueza (ou pseudo-fraqueza) que ele tenha.