Há uns dias comecei uma conversa (*a) com um criacionista
sobre RNA circular e conservação de sequências não-codificantes, relativamente
às explicações apresentadas num artigo (1) recente, ao criacionismo e à questão
do princípio da parcimónia (*b),
segundo qual, entre duas hipóteses igualmente adequadas, deve-se escolher a
mais simples e o qual em nada favorece os criacionistas. O assunto do RNA ficou
para segundo plano e o criacionista que mencionou o artigo continuou a falar de
parcimónia e do criacionismo (design inteligente, neste caso), mas totalmente
fora do contexto do que tinha sido abordado, além de que não parecia entender
realmente quais as hipóteses que estavam a ser colocadas. O mesmo indivíduo
afirmou que a hipótese do design era mais simples que a da evolução por
selecção natural, mutações e deriva genética, o que não é verdade porque os
seus proponentes ainda teriam que apresentar os seus mecanismos e intenções. Na
discussão acabou por ser abordada a questão do modo como se testam as hipóteses
evolutivas. É claro que o criacionista pôs em causa que isso fosse possível,
mas eu expliquei-lhe que era possível e que várias hipóteses já foram
testadas.
Um excerto que serve para resumir a parte relevante da conversa
sobre este assunto é o seguinte:
Criacionista: «Ou já agora vossa posição é não-testável, irrefutável, infalsificável?»
Eu (a pessoa normal
no meio dos doidos): «Não. Relativamente ao facto da evolução [história
natural]: encontrem um coelho do Câmbrico. Encontrem um fóssil de Homo erectus
do Ordovícico.Relativamente às capacidades dos mecanismos evolutivos, ou seja à
teoria da evolução, contestem o facto das hipóteses evolutivas relativamente ao
flagelo bacteriano estarem de acordo com as observações dos cientistas –
contestem as evidências de que este é o resultado de duplicações de genes e
diversificação (tudo isso ocorre naturalmente, sem necessitar de design). É que
essas coisas deixam marcas e é de esperar encontrar determinado tipo de marcas
(genes homólogos dentro do mesmo organismo, por exemplo). Publiquem em revistas
científicas sobre isso. Ou como disse Charles Darwin: “If it could be
demonstrated that any complex organ existed which could not possibly have been
formed by numerous, successive, slight modifications, my theory would
absolutely break down. But I can find out no such case.” E até hoje isso
mantém-se e estende-se até ao nível molecular (dentro daquilo que foi
analisado).»
Criacionista: «Duvido que qualquer evidência falseie o darwinismo, neo darwinismo, evo-devo e etc…»
Eu: «Eu acabei de
lhe dizer como falsear as hipóteses sobre a evolução dos seres vivos que se
baseiam em tudo isso. É verificar se o que estas prevêem que vamos encontrar
está presente no genoma em causa e até dei exemplos de casos reais [nos casos que eu descrevi, ao descobrir
que não havia evidência de duplicação, ou seja, homologia, essa hipótese seria
descartada]. E de facto isso já foi feito e quem não concorda, que conteste
e publique com base numa análise sua.»
Além de todos os outros tópicos em que os criacionistas ignoram a realidade, por mais que afirmem que a teoria da evolução é inútil e que ninguém ganha prémios por acreditar na evolução (c.), o conhecimento de que humanos, ratos e leveduras são relacionados em termos de parentesco e que a selecção natural teve um papel crucial ao preservar certos genes (genes conservados) foi fundamental para que Leland Hartwell ganhasse um Prémio Nobel em 2001 (2).
Desde quando é que as teorias criacionistas começaram a ganhar prémios Nobel ?
Actualização1:
Relembrando outras conversas que tive com criacionistas relativamente ao facto deles estarem sempre a dizer que a evolução não explica o aumento de informação no genoma, eu já lhes expliquei como a selecção natural o pode fazer no sentido de aumentar a informação como definida por Shannon (e algures no outro blog eu apresentei referências bibliográficas, indicando um artigo publicado numa revista científica) e também já lhes disse que, em termos biológicos, nova informação, ou seja, novos genes apareciam por duplicação e divergência. Mas isso em nada alterou as suas crenças infundadas de que Jesus criou os genomas dos seres vivos. Pode-se passar um tarde inteira a tentar ensinar-lhes um pouco de ciência - até coisas que deveriam ser do conhecimento geral, mas não dá resultado. O máximo que se pode fazer é expor a quem ler (ou ouvir) os erros patéticos dos criacionistas).
Actualização 2:
Actualização 2:
Além de todos os outros tópicos em que os criacionistas ignoram a realidade, por mais que afirmem que a teoria da evolução é inútil e que ninguém ganha prémios por acreditar na evolução (c.), o conhecimento de que humanos, ratos e leveduras são relacionados em termos de parentesco e que a selecção natural teve um papel crucial ao preservar certos genes (genes conservados) foi fundamental para que Leland Hartwell ganhasse um Prémio Nobel em 2001 (2).
Desde quando é que as teorias criacionistas começaram a ganhar prémios Nobel ?
Referências
1. «The mystery of extreme non-coding conservation», Nathan Harmston et al, 11 November 2013 doi:10.1098/rstb.2013.0021, Phil. Trans. R. Soc. B 19 December 2013 vol. 368no. 1632 20130021
2. «Evolution is a Winner — for Breakthroughs and Prizes», James McCarter (disponível aqui: http://ncse.com/rncse/25/3-4/evolution-is-winner-breakthroughs-prizes)
* Notas:
* Notas:
a.) Disponível
aqui: http://darwinismo.wordpress.com/2013/11/16/o-rna-circular-esta-de-acordo-com-a-teoria-da-evolucao/.
O indivíduo a que me referi no texto usa o nome "Jeph".
b.) Relativamente à
questão da parcimónia, há mais pormenores, mas em nada altera o resultado para
os criacionistas. Aqui está um texto que explica isso (não vou fazer o trabalho
que já está feito): http://ktreta.blogspot.pt/2011/09/parcimonia.html
c.) Pode ser confirmado aqui: http://darwinismo.wordpress.com/2013/11/07/protegendo-a-teoria-da-evolucao/ (caixa de comentários)
c.) Pode ser confirmado aqui: http://darwinismo.wordpress.com/2013/11/07/protegendo-a-teoria-da-evolucao/ (caixa de comentários)
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