Evolução Humana: o ataque à ciência continua (parte II)
Com a descoberta de fósseis que foram classificados como Homo habilis e Homo erectus (entre outros) podemos ver como as espécies evoluíram
em termos de capacidade craniana aumentando-a, entre outras características,
tais como a postura. O tamanho do cérebro triplicou ao longo da evolução humana
- isso é justificado pelo aumento da capacidade craniana observada no registo
fóssil.
Em termos moleculares, um dos eventos marcantes a nível do
genoma foi a fusão de dois cromossomas que reduziu o nosso número de
cromossomas relativamente aos nossos ancestrais e aos outros primatas modernos.
As evidências provenientes da semelhança de sequências mostram-nos que
partilhamos um ancestral comum com os outros primatas e que mais recentemente
dois dos cromossomas ancestrais se fundiram. Outro facto interessante é que
temos uma taxa de mutações muito elevada, mas que não nos faz mal nenhum porque
temos montes de lixo genético neste nosso genoma, o qual possui apenas uma
pequena percentagem que se encontra sob selecção purificadora.
Certas organizações de carácter religioso fundamentalista e
moderado têm contestado tudo, incluindo o Discovery Institute. No livro
«Science and Human Origins», escrito por membros dessa organização, os
habituais criacionistas do design inteligente queixam-se do registo fóssil e
apontam para descontinuidades. Mas mesmo incompleto (como era de esperar), o
registo fóssil indica-nos, como já referi anteriormente, que evoluímos de
ancestrais mais parecidos com outras espécies actuais de primatas do que
connosco, o que nos liga a estes através de ancestralidade comum e que as
alterações que ocorreram não foram abruptas, mas foram-se instalando, como no
caso da capacidade craniana e a mudança de postura, por exemplo. Não podemos
traçar uma linha, como os criacionistas pretendiam fazer, e dizer: “a partir
daqui é humano” – o “humano” foi-se fazendo aos poucos.
Quanto ao DNA lixo, o autor do capítulo que se refere a esse
assunto basicamente nega a sua existência no nosso genoma, generaliza sobre
pequenas partes que foram identificadas como funcionais e afirma que os
cientistas apenas assumem que o DNA não-codificante é lixo. Penso que o que tem
sido referido sobre o assunto demonstra que isso está errado e não passa de um
espantalho. Os cientistas não assumem, os cientistas investigam. Ainda
relativamente à evolução molecular, mas desta vez sobre evolução proteica, os
criacionistas testaram a hipótese de que uma proteína podia evoluir para outra
proteína sua “prima” e afirmaram que isso impunha uma espécie de limite
estatístico ao que os processos evolutivos conhecidos podem fazer. Além de não
terem testado uma hipótese evolutiva eles não têm nada que apontar como única solução
para um problema “aquela” função pré-especificada (além de que
apenas testaram substituições de nucleótidos). É a mesma coisa que ganhar com
qualquer sequência de cartas relevante ou ganhar com uma sequência Royal
Straight Flush (no pocker, por exemplo) (*). O mais engraçado é que os membros
do Discovery Institute afirmam a pés juntos que as suas ideias a respeito da
evolução nada têm a ver com religião, mas nesse mesmo livro existe um capítulo
dedicado a demonstrar a possibilidade da existência de Adão e Eva.
*Nota: fui buscar algumas ideias à revisão completa do livro
do Dr. Paul McBride,
(disponível aqui: http://apomorph.blogspot.pt/2012/06/science-and-human-origins-chapter-5.html).
Referências:
- Human Evolution, May 1987, Volume 2, Issue
3, pp 213-220, «Hominid cranial capacity change through time: a darwinian
process», M. Henneberg
- «Bigger
Brains: Complex Brains for a Complex World», Smithsonian – National Museum of
Natural History (disponível aqui: http://humanorigins.si.edu/human-characteristics/brains)
- Ohno, S. 1972. So much “junk” DNA in our genome.
In Evolution of Genetic Systems (ed. H.H. Smith), pp. 366-370. Gordon
and Breach, New York. (sobre esse assunto: http://www.genomicron.evolverzone.com/2007/04/word-about-junk-dna/)
- GAUGER, A., AXE, D.. The Evolutionary Accessibility of New Enzymes Functions: A Case Study from the Biotin Pathway. BIO-Complexity, North America, 2011, apr. 2011. (disponível aqui: http://bio-complexity.org/ojs/index.php/main/article/view/BIO-C.2011.1, 08 Nov. 2013.)
[Este texto foi reeditado de ontem para hoje devido a um erro: era uma função pré-especificada e não uma "sequência" pré-especificada. Foi também adicionado ás referências o artigo original de Axe e Gauger (2011) que trata desse assunto.]
Sem comentários:
Enviar um comentário