quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O cérebro é verde, veio uma vaca e comeu-o

O Ludwig Krippahl escreveu sobre mais uma treta, desta vez, sobre as parvoíces do "life coach" Gustavo Santos, portanto relacionada com a minha área de estudo actual. Não resisti a meter a colher. O meu comentário:

«Descobri que era um homem feliz quando percebi que a minha felicidade apenas dependia de mim»
«Tudo o que vale a pena nesta vida é aquilo que sentimos; o que pensamos [...] é mau entretenimento.»
Para onde foi o cérebro dele? Era verde, veio uma vaca e comeu-o? 
Quanto a equacionar "felicidade" com sermos a pessoa mais importante da nossa vida (egoísmo), pode haver uma associação, mas pode não ser causal no sentido que ele quer implicar, e é ainda provável que ser altruísta crie felicidade (1,2).

1. http://www.psychologytoday.com/blog/the-hidden-brain/201003/happiness-and-selfishness-paradox
2. http://www.econstor.eu/bitstream/10419/20786/1/dp1487.pdf 

Acedam ao texto do Ludwig, repleto de humor e, como sempre, crítica: 


Treta da semana (atrasada): Umbiguismo.
Algumas pessoas, raras, são tão geniais e têm um pensamento tão avançado para a sua época que muitos dos seus contemporâneos, não conseguindo alcançar tal visão, as julgam palhaços. Pessoas como Copérnico, Galileu, Darwin e Batatinha, por exemplo. Gustavo Santos é mais um nome a acrescentar a esta l…
KTRETA.BLOGSPOT.COM





quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A (in)utilidade de sentir remorso

Remorso é um sentimento negativo forte (semelhante a tristeza) devido a um acto que a pessoa considera errado (ex.: insultar alguém, ser injusto, etc.). Embora muitas vezes os termos sejam usados como sinónimos, remorso não é o mesmo que arrependimento
Existem pacientes psiquiátricos (com transtorno anti-social e transtorno narcisista) que são incapazes de sentir remorso e só se arrependem se as suas acções os prejudicarem. As tendências criminosas de um paciente com transtorno anti-social são óbvias para quem ler a descrição. A expressão "matar a sangue frio" vem precisamente da falta de reacção emocional de certos assassinos perante a aflição das suas vítimas. Possuem em défice emocional que se estende a ponto do assassino não sentirem remorso pelos seus crimes. 
Pelo que tenho observado, quando ocorre um crime violento, como um assassinato, por exemplo, muita gente (*) tende a focar-se tanto ou mais no facto do criminoso não sentir remorso do que no facto dele ter morto ou ferido alguém. E agora pergunto-me: qual a utilidade do criminoso sentir remorso perante um crime de assassinato? Absolutamente nenhuma. O que está feito está feito. Isso não vai  certamente ressuscitar ninguém. É pura e simplesmente inútil. Metam isto na cabeça: o problema é que o criminoso matou alguém, não é que não sentiu remorsos. 


Nota: alguns exemplos da web (entre muitos outros) sobre o caso da Jodi Arias:  https://www.facebook.com/HLN/posts/540736819305723http://www.celebdirtylaundry.com/2013/jodi-arias-interview-no-remorse-guilty-first-degree-murder-travis-alexander-fox-video-0509/http://www.hlntv.com/article/2014/11/04/jodi-arias-courtroom-observations-death-penalty-retrialhttp://statement-analysis.blogspot.pt/2013/05/jodi-arias-worst-mistake-of-my-life.htmlhttps://gma.yahoo.com/arias-had-no-remorse-prosecutor-195955073--abc-news-topstories.html 

O que o Francisco Tourinho devia ler sobre conhecimento a priori


Certamente que quem acompanha este famigerado (para alguns) blog, sabe do debate entre o Francisco Tourinho e um oponente ateu (o Antônio Miranda). Confesso que passei algumas partes à frente (é que o Francisco Tourinho dá-me tédio), mas revi agora uma pequena parte em que ele falava do conhecimento à priori numa tentativa de contrapor o que o António disse (e muito bem) sobre o facto de precisarmos de evidências de modo a determinar se uma hipótese corresponde à realidade - de outro modo, não seriam necessárias análises laboratoriais para pesquisa de marcadores tumorais (o cancro existiria no paciente porque o médico achou que sim e pronto, e por isso pode encher o paciente de medicamentos com efeitos secundários terríveis, etc.). Eis o que ele (Francisco Tourinho) precisa de ler:

(clicar na imagem)
Que Treta!
Pelas minhas contas, este é o 400º post desta rubrica.
Era para ser sobre o Gustavo Santos, mas vou deixá-lo
para o 401º e ressuscitar a discussão sobre o
conhecimento a priori. Não só para evitar estragar a
efeméride com o Gustavo Santos mas também porque
descobri que 71% dos filósofos julgam que o…

O mais importante é que a diferença que os filósofos apresentam entre conhecimento a posteriori e a priori é ilusória - em qualquer dos exemplos que se apresentem são sempre necessários dados/observações empíricas: 

«O conhecimento é a priori se puder ser obtido sem dados empíricos adicionais e a posteriori se for necessário obter mais dados. Um exemplo clássico de conhecimento a priori é “nenhum solteiro é casado”. Para um dado conceito de solteiro e casado, esta afirmação é evidentemente verdadeira mesmo sem ser preciso perguntar aos solteiros se são casados. Um exemplo de conhecimento a posteriori será “nenhum corvo é branco”. Para um certo conceito de corvo, não é evidente se isto é verdade ou não e precisamos de ir observar corvos para tentar testar a hipótese. 
Mas esta distinção é ilusória porque a compreensão de todos os conceitos depende de dados empíricos e o que caracteriza uma proposição como verdadeira a priori é simplesmente a decisão arbitrária de considerar que a informação necessária para concluir que é verdadeira faz parte dos conceitos. Vou dar alguns exemplos deste problema. Primeiro, “nenhum solteiro é casado”. A experiência da Ana levou-a a formar um conceito de solteiro com sendo o de uma pessoa que não é casada. Assim, a Ana não precisa de mais informação para concluir que a afirmação é verdadeira. Mas o Pedro é advogado e trata de muitos casos de emigrantes e imigrantes. Na experiência dele, uma pessoa pode ser casada num país mas esse casamento não ser legalmente reconhecido noutro, onde é considerada solteira. Portanto, para o Pedro, essa afirmação não é verdadeira. É possível alguém ser solteiro e casado ao mesmo tempo.»

Adenda: Mais do mesmo autor sobre filosofia (desta vez sobre a crença básica segundo Plantinga): http://ktreta.blogspot.pt/2014/07/plantinga-1-crenca-basica.htmlhttp://ktreta.blogspot.pt/2014/02/treta-da-semana-passada-os-argumentos.html 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Sobre deuses e hipóteses...

Normalmente uma conversa com um criacionista vai dar normalmente a um beco sem saída em que eu tenho que lhe explicar conceitos básicos como, por exemplo, o que é um fóssil de transição, que o DNA é uma molécula que reage com outras, entre outros. Mas desta vez, isso não aconteceu, até porque o criacionista (por estranho que pareça) era biólogo.  

Eu: «...para mim a perspectiva mais racional é a de ter reservas [quanto à existência/inexistência de deus(es)], pois ao longo da história da ciência muito do que se dava como certo, mudou ou descobriu-se ser impreciso.»

Daniel:  «...A história da ciência não tem nada a ver com isso, porque a ciência trata de fenômenos naturais, e Deus não é nada natural. Eu diria que a ciência não é nem crente, nem atéia nem agnóstica. Com relação a esse assunto, ela simplesmente não faz ideia do que estamos conversando.»

Como, penso eu de que, tem sido bem demonstrado para quem acompanha este blog, isso não é bem assim:

Eu: «A ciência não estuda deuses, unicórnios, fadas, etc., directamente. Mas o que se descobre através do método científico pode dar para descartar/apoiar hipóteses relacionadas com deuses e religião – que se fossem confirmadas tornariam a existência dos mesmos deuses mais provável/plausível e que, sendo descartadas e substituídas por outras, a coisa funciona ao contrário.»

Daniel: «Okay, mas você está esquecendo do ponto nevrálgico. A ciência não estuda deuses ou fadas nem direta, nem indiretamente. Você está cometendo um erro bem básico: achar que as explicações científicas podem interferir em conceitos e padrões filosóficos não-científicos. Você pode provar para um crente que alega ter sido curado de, digamos, dor de cabeça, que na verdade foi o ibuprofeno que eliminou a dor por ter agido nas sinapses nervosas, que ainda assim o sujeito vai continuar fazendo saltos filosóficos rumo a Deus. “Foi o ibuprofeno que curou você” tem como resposta: “Porque Deus quis usar o ibuprofeno, embora pudesse usar outra coisa ou nada.” Que método, pensamento ou lógica científica responde a esse argumento? Nenhum, oras. As análises são totalmente separadas. A ciência não se envolve com essa última declaração, limitando-se a dizer que “o ibuprofeno, administrado ao paciente X, promoveu tal resultado.” Por sinal, eu defendo a tese do ibuprofeno aqui, mas posso aceitar o segundo argumento por fé, embora fazendo cara feia de “que coisa desnecessária…”.

Com isso, defendo que os métodos científicos são plenamente válidos para explicar o que quer que seja com relação ao natural, mas se alguém quiser apontar como causa daquele efeito Deus, gnomos, fadas, alienígenas tecnologicamente avançados ou o que quer que seja, a ciência simplesmente se cala porque ela não pode dar nome ou identidade à causa.»
Eu: «Temos aqui um problema: Sim, é verdade que as pessoas que acreditam em deus tendem a tentar que essas hipóteses escapem a qualquer escrutínio (na verdade, não há limites para o que se inventa sobre deuses e o seu exemplo ilustra bem isso), mas isso não quer dizer que, por exemplo, evidências de ancestralidade comum não descartem a criação especial (pelo menos como descrita na Bíblia). Não estou a dizer que com isso podemos descartar todos e quaisquer deuses, só um deus muito específico (o deus bíblico).»
Daniel: «Então, vamos fazer um exercício: forneça três evidências científicas de que Deus (ou uma Inteligência) NÃO está evidenciado na natureza, por favor.
De fato, a ancestralidade comum não descarta uma criação especial. Mas olha só, se você vai defender uma criação especial, então pergunto: porque o criador teria criado um processo tão brutal e cruel como a seleção natural por morte? Por que não criar um mecanismo que não envolvesse isso? A visão que apresento elimina essas perguntas da cosmovisão, porque Deus teria criado tudo “muito bom” (ou perfeito) sem esses processos, que foram introduzidos por nós, humanos. E, se você pensar, a promessa cristã é, basicamente, o final desse processo de seleção natural por morte e sofrimento, não só para os humanos, mas para toda a criação. É uma explicação com começo, meio e fim.»
Eu: «Eu queria dizer que descarta a criação especial Bíblica (é claro, que pode ser criação através da evolução, mas, como já vimos, não faz sentido). Como eu dizia, descarta-se um deus muito específico. Não podemos descartar cada deus ou cada versão que vier à cabeça do crente, pois são tantos quantos se podem inventar, e a imaginação humana é bastante fértil.»
Daniel: «Mas calma aí, se você descarta a criação especial bíblica, que alternativa você dá para uma criação especial que envolva processos racionais coerentes?»
Eu: «Na minha perspectiva, nenhuma que envolva deuses é útil e nenhuma é mais que pura especulação infundada ou invenção. A minha única alternativa é mesmo a evolução, mas essa não envolve processos “racionais” (como se fosse algo dirigido inteligentemente), mas sim processos naturais (o que é racional é concluir que evoluímos). E eu já disse que não dá para excluir todo e qualquer deus, mas versões específicas. Uma coisa de cada vez.
O máximo que eu posso dizer é que, em toda a história da ciência ainda não foi descoberta uma única evidência que apontasse para um deus (ou quando pensavam que sim, afinal era outra coisa) e que deuses até agora não são necessários para explicar seja aquilo que for que observamos.»
Nota: para ver a conversa toda, deve-se aceder aqui: https://considereapossibilidade.wordpress.com/pergunte/

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O cristianismo combate tendências criminosas: mito ou facto?

O criminologista Byron R. Johnson, no seu mais recente livro More God, Less Crime: Why Faith Matters and How It Could Matter More (Templeton Press) documenta os resultados de uma série de estudos sobre a influência da religião sobre a criminalidade, estudos esses que parecem apoiar os seus benefícios na redução da mesma. Mas (há sempre um "mas" quando se trata de religião)...Primeiro, é de notar que a religião pode ser eficaz em combater o crime, mas não é absolutamente necessária para tal. Nem, provavelmente, o cristianismo especificamente. Por exemplo a religião "nação do islão" ("nation of islam" uma facção muito específica do islão) é pacifista, sendo uma dessas razões pelas quais atrai pessoas que antes não eram particularmente religiosas (http://www.nme.com/news/snoop-dogg/43135). E há ainda o movimento rastafári (http://atheism.about.com/library/glossary/general/bldef_rastafarians.htm) e o Budismo (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mahatma_Gandhi), uma religião não-teísta - sim, sim, eu sei que já houve budistas a fazerem explodir coisas, mas também já houve católicos a queimarem pessoas vivas. Gostaria de ver isto confirmado, mas a natureza destas religiões, como entendida pelos seus praticantes, é já bastante sugestiva. 
Mais ainda, esta frase do autor intriga-me - "A minha avó diria que este livro não me diz nada que eu já não sabia." Será que o autor devido às suas fortes raízes cristã é tendencioso, isto é, está a mostrar apenas um lado da história, ou seja, apenas estudos que confirmam o seu ponto de vista e não os que falham em demonstrá-lo ou que o contradizem? Dá para suspeitar. 
Será que é a crença em deuses, em espíritos ou na reencarnação que faz com que as pessoas tenham menos tendências criminais ou é o apelo ao "amor ao próximo" ou o sentido de comunidade, que pode ajudar no desenvolvimento emocional e social? As duas últimas fariam sentido. 
Este texto não respondeu à questão do seu título, no entanto, levantar as hipóteses certas é fundamental no processo de adquirir conhecimento - no processo científico. 

Referência: 
Is God an Effective Crime Fighter?, Rod Dreher. Templeton Report, 29 de Junho, 2011 (http://www.templeton.org/templeton_report/20110629/index.html) - Via "Darwinismo" (sim, onde se lê algo parecido com um elogio à religião, o Mats mete a colher). 

O ego dos criacionistas (Que vergonha!)

Tenho comentado no "Sandwalk", desmentindo e apontando os erros dos criacionistas que lá comentam (os portugueses já estão muito "vistos"). A certo ponto, um comentador alvitrou que eu podia ser uma professora na Universidade do Algarve com 69 publicações na área da biologia. Eu desmenti-o, claro (não quero usurpar a identidade de ninguém). Expliquei que era estudante de psicologia, com alguma formação em ciências laboratoriais (incluindo genética molecular), mas que não era profissional. Pelo que me foi dado a entender, alguns criacionistas (pelo menos um) são profissionais. Se são bons ou não, isso é outra história, mas são. Imaginem, caros leitores, o que fará o facto de terem sido "descascados" por alguém que não é profissional da área. Se têm alguma vergonha, então ainda há esperança. Se não, deviam ter.  




sábado, 13 de dezembro de 2014

Behe, Gauger e Axe e a evolução de proteínas (outra vez)

Num "estudo" experimental, publicado online na revista criacionista "Bio-complexity", Gauger e Axe pre-especificaram sete mutações (substituições de nucleótidos), pressupondo que necessitavam mesmo de ser "aquelas" mutações, ou, pelo menos, aquela função, e ao que parece estimaram o tempo para esse grupo específico de mutações emergir e a respectiva probabilidade. Claro, que, segundo eles, isto é tudo muito improvável, demorando imenso, mas imenso tempo (que a vida na Terra não teve). E, essa suposição ajudou-os a "demonstrar" como é improvável o surgimento dessa função ou algo semelhante que também serviria no momento em que evoluiu ... mas o que eles calcularam era apenas a probabilidade da emergência daquela função. Foi uma manipulação inteligente para limitar o "alvo", diminuindo a probabilidade, para depois generalizar erroneamente.

Notei também que eles mantiveram-se vagos no que toca ao sentido de "inovações" (de propósito?) - mas ao que parece agora estão preocupados com a emergência da função antes de aperfeiçoada (ou não?). E, (não me canso de escrever isto) as proteínas eram primas. Nada disto aconteceu. Uma não evoluiu para a outra. E isto não é irrelevante, pois os valores que eles determinaram foram especificamente para este caso. Daah! isto não aconteceu. 
Isto traz-me à memória um estudo (Durrett, R & Schmidt, D. 2008. Genetics 180: 1501-1509) em que eles e Behe pegaram para tentarem justificar as probabilidades infinitamente reduzidas e os tempos de espera infinitamente longos para o aparecimento de 2 mutações, que tornaria a evolução virtualmente impossível. Só que isso seria assim se não houvessem uma data de genes com vários "sites" no genoma humano (e dos outros mamíferos) - ou seja, se não estivessem a pre-especificar duas mutações para calcularem a sua probabilidade outra vez...  

Nota: Mais sobre este assunto: http://sandwalk.blogspot.pt/2014/12/ann-gauger-moves-goalposts.htmlhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2644970/http://apomorph.blogspot.pt/2012/07/axe-and-gauger-respond-in-tandem.html 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Ann Gauger NÃO testou nada parecido com evolução (ou Emergência e evolução da promiscuidade enzimática e os disparates de Ann Gauger)


Sandwalk: Ann Gauger moves the goalposts: «We've been discussing Ann Gauger's claim that evolution is impossible because she was unable to transform a modern enzyme into another related one by changing a small number of amino acids.
I pointed out that this is not how evolution works. In some cases, you can easily show that two enzymes with different specificities can evolve from a common ancestor that could carry out both reactions.
(...)
Turns out that changing one related enzyme into another with a different specificity wasn't the goal of her experiment. Here's what she was really trying to do ...
The Big Problem

Here's the big problem -- the arrival of novelty.

Novelty or innovation means the appearance of something not already present. It's the opposite of promiscuity. So a way to create novelty is absolutely essential to explain modern cells, as I will demonstrate.

...

Here's the heart of the matter. Promiscuity cannot solve the problem of novelty. Mutation, natural selection, and drift cannot drive the creation of novelty of all those new protein folds. That's what Doug Axe and I have been testing all along, from Doug Axe's 2004 paper to this most recent one. Based on our experiments, the problem of how innovation originates remains unsolved.»


O meu comentário: "...provided the capacity for the reaction already exists in the starting enzyme..." - Acho que é com essa parte (e não com o que vem a seguir) é que a Gauger se "preocupa" - pelo menos agora. Mas funcionalidade imperfeita/ baixa pode aparecer "por acaso" (sem selecção) (1). E como Paul McBride disse: 

«Gauger: "Based on our experiments, the problem of how innovation originates remains unsolved."
"They (Gauger and Axe 2011) have confirmed that evolution isn't a conscious process that picks specific proteins and makes them evolve into specific other proteins.» Gauger e Axe não testaram nenhuma hipótese evolutiva nem nada parecido com evolução. 

1. http://www.nature.com/ng/journal/v37/n1/abs/ng1482.html

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Lidar com as diferenças

Agora mesmo deparei-me com isto:

«In 1980, researcher Lois Raynor studied adopted adults and their adoptive parents and reported her findings in The Adopted Child Comes of Age. She found that the more they saw themselves as similar to each other, the happier they were. For example,
- Of adopted adults who said they were “very much like” their adoptive parents, 97 percent said their adoption experience was satisfactory.
- Of adopted adults who said they were “unlike” their adoptive parents, 52 percent said their adoption experience was satisfactory.
- Of those adoptive parents who thought their adopted children were “like” them in appearance, interests, intelligence, or personality, 97 percent were happy with the adoption experience.
- Of those adoptive parents who thought their adopted children were “unlike” them in appearance, interests, intelligence, or personality, 62 percent were happy with the adoption experience.»

Sim, é difícil tratar como filho alguém que percebemos como muito diferente de nós (e que, provavelmente, é, uma vez que nem sempre os filhos biológicos são semelhantes na maioria dos aspectos, e, muito menos é de esperar que  um filho adoptivo o seja). Mesmo que haja selecção de acordo com as características físicas dos próprios pais adoptivos (uma espécie de selecção por parentesco), é de esperar que sejam diferentes em muitos aspectos (psicológicos) muito mais importantes para as relações familiares. Podemos acabar por dar menos atenção à criança, o que certamente não vai ajudar nada a que se desenvolvam concordância ou semelhanças, quer em gostos, quer em expressividade e interesses. Mas devemos lembrar-nos que, se fazemos escolhas, temos que ponderar, pois algumas são definitivas.

Nota: Ver: "FamilyEducation" - http://life.familyeducation.com/adoption/adoptive-parents/45804.html#ixzz3LcbsCiGT

Crianças adoptadas parecem-se com os pais adoptivos

Crianças adoptadas parecem-se com os pais adoptivos, sim senhor. Mas é sobretudo devido ao facto de aprenderem as expressões faciais com os pais adoptivos (que tendem a ser expressivos na presença dos filhos) tendendo a ser muito semelhantes, e, se as semelhanças se mantiverem (e é bem provável) os filhos vão aprender com eles e os filhos deles com eles and so on and so on. É claro que há países em que podes escolher a cor da pele, a cor do cabelo e dos olhos, a etnia e isso também ajuda, se os pais seleccionarem pelas parecenças consigo próprios (uma espécie de selecção por parentesco) mas a explicação científica para outros casos reside sobretudo na aprendizagem das expressões faciais.  

Nota: Ver mais: http://blog.americanadoptions.com/why-do-adopted-children-look-like-their-parents/

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Mais sobre evolução de proteínas (e, claro, sobre as parvoíces do DI)

Atentem na versão do argumento evolutivo formulado pelo bioquímico Laurence Moran:

Sandwalk: Ann Gauger keeps digging: «Ann Gauger and her creationist collaborator, Doug Axe, have been swapping amino acid residues in one kind of protein hoping to show that they cannot change into another.
(...)
I don't ASSUME that evolution occurs, I state that it is a proven fact. It has been shown repeatedly that the frequencies of alleles in a population change over time and that natural selection and random genetic drift are responsible for those changes.
I then go on to say that there is overwhelming evidence to support the idea that genes have evolved in the past over a period of billions of years. This is not an assumption. It is supported by scientific evidence.
Given that evolution occurs, I then go on to outline a scenario for the evolution of two related enzymes with different specificities. In several case those predictions have been proven by reconstructing the ancestral enzyme and showing that it can catalyze a broad range of reactions. I've posted one example of duplicated genes caught in the act of diverging [Evolution of a New Enzyme]. In another case, you have the related enzymes lactate dehydrogenase and malate dehydrogenase that catalyze different reactions but you can convert lactate dehydrogenase to malate dehydrogenase by changing only one amino acid [The Evolution of Enzymes from Promiscuous Precursors].»

Agora, atentem no argumento-espantalho que a criacionista do DI, Ann Gauger apresentou:

«1. Evolution is true. That is, enzymes have evolved new functions by a process of random mutation and natural selection.
2. Modern enzymes can't evolve genuinely new functions by random mutation and natural selection but can only tinker with existing functions.
3. Therefore, ancient enzymes must have been different, capable of carrying out a broad range of enzyme activities.
4. Those enzymes underwent duplication and diverged from one another, becoming specialized.
5. How do we know this happened? Because we now see a broad array of specialized enzymes. Evolution is the explanation.


Ann Gauger thinks this is a flawed argument because it assumes the very thing that one is attempting to prove; namely, evolution.

This begs the question of whether evolution is true. It is a circular argument unsubstantiated by the evidence and unfalsifiable. No one can know what ancient enzymes actually looked like, and whether they really had such broad catalytic specificities.»

Pois... Lá se vai qualquer potencial para credibilidade aos olhos dos medianamente esclarecidos. 

Sandwalk: The Genetics of Eye Color

Sandwalk: The Genetics of Eye Color: The genetics of blood type is a relatively simple case of one locus Mendelian genetics—albeit with three alleles segregating instead of the usual two (Genetics of ABO Blood Types).
Eye color is more complicated because there's more than one locus that contributes to the color of your eyes. In this posting I'll describe the basic genetics of eye color based on two different loci. This is a standard explanation of eye color but, as we'll see later on, it doesn't explain the whole story. Let's just think of it as a convenient way to introduce the concept of independent segregation at two loci. Variation in eye color is only significant in people of European descent. ...

O nosso cérebro (mal) adaptado

No "Que Treta", O Ludwig escreveu um texto sobre o nosso cérebro adaptado apenas para perceber parte da realidade automaticamente e sobre como a sua evolução não foi completamente arbitrária. Fica um excerto: 

« A afirmação de que somos uma combinação arbitrária de processos aleatórios é falsa. (...) o efeito de uma proteína (...) está bem determinado pela natureza física de cada molécula (...) a evolução não é arbitrária. É como uma avalanche. Nos detalhes, é caótica e imprevisível mas, a uma escala maior, tal como a gravidade e a geometria do terreno determinam por onde a neve escorrega, a selecção natural e o ambiente também forçam o caminho de cada linhagem. Por isso, soluções úteis para problemas comuns (...)evoluíram independentemente várias vezes. Se bem que um cérebro já pronto à nascença seja uma opção viável em organismos intelectualmente mais simples, para mamíferos, e especialmente para os primatas, isso seria demasiado dispendioso. (...) Há uma organização grosseira, ditada pelos genes e pelo desenvolvimento embrionário, mas os detalhes estão omissos. (...) Mas todos os neurónios são capazes de formar ou eliminar ligações conforme os estímulos que recebem e, assim, adaptar o cérebro às regularidades nos padrões sensoriais. Isto não garante crenças rigorosamente verdadeiras mas a adaptação às correlações na interacção com o ambiente força alguma correspondência entre os modelos neuronais e o ambiente que os moldou. (...)
No entanto, Mats e Plantinga estão correctos num ponto importante. A evolução de um cérebro geneticamente barato – que, por isso, se tem de adaptar ao ambiente para aprender – força os modelos mentais a corresponderem aproximadamente à verdade mas não os obriga a corresponder exactamente à verdade. E é precisamente isto que observamos. Sentimos a pedra como sólida e maciça mas, na realidade, trata-se da repulsão eléctrica entre nuvens de electrões na nossa mão e na pedra (...). Durante quase toda a nossa história o cérebro enganou-nos acerca da realidade, dando-nos ideias aproximadamente correctas mas fundamentalmente erradas.
Só nos últimos séculos é que começamos a contornar os defeitos do nosso intelecto (...) Medindo com relógios, réguas (...). Quantificando com álgebra, de forma algorítmica e mecanizada, em vez de nos guiarmos pela intuição. Construindo penosamente modelos simbólicos, parcialmente ininteligíveis, mas que podem ser testados e adaptados à realidade com rigor. (...) Não é de admirar que haja criacionistas como o Mats.»

(Treta da semana: o cérebro e a verdade: http://ktreta.blogspot.pt/2014/12/treta-da-semana-passada-o-cerebro-e.html)

Então, porque devemos confiar (ainda que com reservas) no nosso cérebro? Por causa desta parte: «Mas todos os neurónios são capazes de formar ou eliminar ligações conforme os estímulos que recebem e, assim, adaptar o cérebro às regularidades nos padrões sensoriais.» - Tudo o resto é uma extensão disso. Outra razão é: porque usamos métodos que não a nossa intuição, que evoluiu para ser útil até certo ponto, mas não para fazer ciência. 


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A infância do psicopata

Era uma vez, num reino distante (mas não assim há tanto tempo...), um miúdo, que saiu da escola a correr para fugir da trovoada, entrou em casa, deixando a porta e uma janela aberta para a trovoada ("a peste", como ele dizia) poder sair e deixá-lo em paz (1). Mas com tanta correria, o puto nem reparou no apenino de caca que esmigalhou ao passar o portão (sempre a olhar por cima do ombro, não fosse a trovoada tecê-las). Espezinhou o chão todo com aquela m*rda toda que tinha agarrada aos pés, saltitando de degrau em degrau até ao quarto a cheirar a meias podres. Lá do fundo da escadaria, a mãe chamou-o aos berros. 
- Ó Miguel! Anda cá, já! Imediatamente! 
Só aí é que o Miguel parou para pensar e... cheirar o ar. O ar empestado daquele cheiro pavoroso a m*rda. 
«Que raios de cheiro...?» 
Olhou para os pés, para o chão e depois para a mãe, que já corria escada acima de vassoura empunho. 
- Vais levar uma surra, que nunca mais te levantas mê malandro!
- Aaah m*rda!
...
Desde aí que o Miguel se tornou um assassino em série de vassouras e passeantes que não limpam a caca do cão. É conhecido como a assassino da pegada castanha porque uma vez voltou a trovejar e ele teve que fugir da cena do crime, pisou caca de cão, deixou pegadas e foi, finalmente, para a cadeia viver com os outros psicopatas traumatizados (e não). 
Eu sei, eu sei, isto devia ser um blog sério, visto que é sobretudo sobre ciência (várias áreas da ciência) e filosofia. Mas apeteceu-me. 

1. Nota: Esta da trovoada foi inspirada num caso real: tive uma empregada que dizia que era preciso deixar uma janela aberta quando trovejava para a peste (a trovoada) sair. 


Sandwalk: On the irrelevance of Michael Behe


Sandwalk: On the irrelevance of Michael Behe: Michael Behe is one of the few Intelligent Design Creationists who have come up with reasonable, scientific, defenses of creationism. I give...

Sandwalk: A creationist argument against the evolution of ne...

Sandwalk: A creationist argument against the evolution of ne...: Intelligent Design Creationists have found it impossible to make a positive case for intelligent design and the existence of a supernatural ...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Dissonância cognitiva e um prego no pé: ciência vs religião

A ciência é uma chatice... para os criacionistas e para os crentes em geral. As tretas deles estão constantemente a ser substituídas por explicações racionais e baseadas em evidências. Deve ser péssimo ser um criacionista no século XXI. Não os invejo. A dissonância cognitiva constante deve ser insuportável. A ciência é, no fundo, um enorme prego espetado no pé dos crentes... e, especificamente, do Mats. 
O Mats apresenta o seguinte título no "Darwinismo": Estudo científico pode colocar o último prego no caixão do naturalismo.  (O último? Primeiro que preguem os outros todos ainda muita água há-de correr.) Segundo o texto, ficou demonstrado através de um estudo científico que a consciência resiste até 3 minutos após a paragem cardíaca. 3 minutos? A sério? Daí até à eternidade no céu ou no inferno ainda vai um esticão... e daí até se demonstrar que existem deuses, anjos ou algo do género também. E a história da ciência diz-me que é bastante provável que se encontre uma explicação perfeitamente natural e racional, mesmo que isso assim seja, que nesses 3 minutos continuemos de alguma forma conscientes (como apontei em cima, a ciência é um enorme prego cravado no pé de cada crente). E é agora que um crente diria (e disse na vida real): «A história da ciência não tem nada a ver com isso, porque a ciência trata de fenômenos naturais, e Deus não é nada natural.» Não é bem assim. A ciência não estuda deuses, unicórnios, fadas, etc., directamente. Mas o que se descobre através do método científico pode dar para descartar/apoiar hipóteses relacionadas com deuses e religião – que se fossem confirmadas tornariam a existência dos mesmos deuses mais provável/plausível e que, sendo descartadas e substituídas por outras, a coisa funciona ao contrário.