Os criacionistas do design inteligente (tal como os seus primos do campo, os criacionistas da Terra jovem e da Terra velha) há muito que perderam a credibilidade perante a comunidade científica. Mas será que isso os impede de continuarem a gritar histericamente "design inteligente" onde quer que tenham oportunidade? Claro que não. Até nas universidades eles proclamam a sua ignorância (propositada?). O leitor (esclarecido) provavelmente pergunta-se? "O quê? Numa universidade? Qual?" Na Universidade de Chicago (onde até lecciona um cientista e autor bastante conceituado - Jerry A. Coyne autor de "Why Evolution is true" e "Speciation"). O William Dembski foi convidado por um antigo professor para dar uma palestra sobre algoritmos evolutivos e "conservação da informação". Sim, este é um caso de convite especial dum "amigo do amigo" (neste caso dum "professor do professor"). E o Dembski aceitou a oportunidade para fazer publicidade ao seu tipo de criacionismo de eleição. Mas o que não falta são comentários ("reciclados") de cientistas (os biólogos Joe Felsenstein e Jerry Coyne) que assistiram à palestra e conhecem o seu conteúdo (de trás para a frente, pois já é repetido) e que não acharam os argumentos convincentes (*). Resumindo:
- Dembski considera todas as formas possíveis de que o conjunto de aptidões de reprodução pode ser distribuído por um conjunto de genótipos. Quase todas estas parecem distribuições aleatórias.
- Dado que existe uma associação aleatória de genótipos e aptidões, Dembski está certo em afirmar que é muito difícil de fazer muitos progressos na evolução. A superfície de fitness é uma superfície de "ruído", que tem um grande número de picos "afiados" (picos de aptidão). A evolução vai progredir apenas até que sobe o pico mais próximo, e então vai parar.
- Mas esse é um modelo muito mau para a biologia real, porque, nesse caso, uma mutação é tão má como mudar todos os nucleótidos do genoma ao mesmo tempo.
- Além disso, nesse modelo, todas as partes do genoma interagem muito fortemente, muito mais do que em organismos reais.
- Dembski e Marks reconhecem que, se a superfície de fitness é mais suave do que isso (e de facto é - mudar a cor do pêlo do urso pular não afecta a sua musculatura, forma das garras, etc.), é possível fazer progressos.
- Eles, então, argumentam que a escolha de uma superfície de fitness bastante suave requer um designer.
- Mas reconhecem
implicitamente que a selecção natural pode criar adaptação. O argumento não
requer projecto para ocorrer uma vez que a superfície de fitness está escolhida. É,
portanto, um argumento para o evolucionismo teísta, e não para o design
inteligente; e um argumento bem fraco, pois continua a não haver razões para
aceitar que um deus foi responsável por isso, existindo possíveis explicações
alternativas – talvez leis da química ou da física (como Felsenstein defende, que
as leis da física implicam uma superfície muito mais suave do que um "mapa"
aleatório - se a expressão do gene é separada no tempo e no espaço, os genes
são muito menos propensos a interagir fortemente, e a superfície será muito mais
suave do que a superfície "aleatória")
Seja como for que se defina informação, quer seja
"criada" durante o processo evolutivo, quer antes, isto mantém-se. Esse deus é no mínimo
desnecessário, ao contrário do que afirmam os criacionistas.
Criacionistas, vocês perderam há muito. Chega.
Criacionistas, vocês perderam há muito. Chega.
* Nota: Ver: http://pandasthumb.org/archives/2014/10/dembskis-argume.html#more e http://whyevolutionistrue.wordpress.com/2014/10/04/joe-felsenstein-analyzes-a-talk-by-william-dembski/
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