No “Darwinismo, o Mats escreveu uma data de baboseiras acerca de certas
observações do Dawkins, citando um artigo em que o autor pretende desconstruir
o que ele diz… distorcendo tudo a seu belo prazer, e escrevendo disparates:
1. “Se tu tivesses nascido na
Índia….”
«[Dawkins] tenta apresentar este argumento contra a crença religiosa
dizendo: “Se tivesses nascido na Índia tu provavelmente estarias a adorar
Vishnu”. E depois? A forma como as pessoas passaram a ter uma crença não
nos diz nada sobre a veracidade dessa mesma crença. Com este argumento, Dawkins
dá um exemplo clássico da Falácia Genética; ele tenta demonstrar a origem duma
crença, e com isso “prova” que essa crença é falsa.» - Isto parece ter mais a ver com “inspiração divina/ revelação” vs.
“cultura e geografia” do que “existência” vs “não existência”. Não é falácia
genética. Só nos diz que a crença das pessoas (algumas até dizem mesmo ser
inspiradas por Deus) é devida à cultura e geografia, que fazem as pessoas propensas
a acreditar mais numas coisas do que noutras e interpretar experiências a essa
luz. Outra vertente para que a
afirmação do Dawkins pode chamar a atenção é que uma possível alternativa à
existência de deuses é que estes foram apenas invenção do ser humano, e não
existem na realidade – não estou a argumentar que porque foi inventado e assim
as gerações seguintes passaram a acreditar, então não existe, mas apenas a
apontar uma hipótese – a mais provável.
«Dawkins afirmou
que certa vez ele esteve presente numa convenção cheia de teólogos e filósofos,
e, à frente deles, tentou refutar o argumento ontológico falando dum
maximamente grande porco voador. Tal como o Dr. William Lane Craig ressalvou,
isto é embaraçoso. Pergunto-me que imagem Dawkins passou de si próprio nesta
conferência de teólogos e filósofos. Dawkins escreve: Eles recorreram à lógica
modal para refutar o que eu estava a dizer. Para mim, isto é o mesmo que dizer,
“Eles refutaram o que eu estava a dizer” visto que o argumento ontológico é um
exemplo de lógica modal. Ficamos logo com a ideia de que Dawkins não faz ideia
nenhuma do que se está a falar.» Isso
não é bem assim. No “God Delusion”, Dawkins escreve que apresentou a um grupo
de teólogos e filósofos uma adaptação do argumento ontológico para provar que
os porcos podem voar. Então, eles foram obrigados a recorrer à lógica modal
para o refutarem. O que Dawkins fez foi uma paródia ao argumento ontológico (à
lógica modal em si) – não vejo onde está o problema. Nada disto quer dizer que
a filosofia em geral não serve para nada.
«Dawkins respondeu a este argumento
afirmando que, mesmo que se aceite que o universo tem uma Causa, isso nada faz
para mostrar que o Deus da Bíblia existe. Esta resposta de Dawkins é
irrelevante porque não era esse o propósito do argumento; o propósito do
argumento era o de mostrar que a Causa do universo era Eterna, Imaterial,
Ilimitada e Sobrenatural. O argumento nunca tentou provar que o Deus da Bíblia
era o Criador, logo, Dawkins não entendeu nada do argumento.» - Provavelmente
o Dawkins só queria apontar que é pouco relevante para os cristãos (talvez não
tanto para os deístas). O que o Dawkins diz é relevante, pois este argumento é
normalmente apresentado por teístas, em geral cristãos. Se não pretende
demonstrar que é o deus deles, ou sequer um deus teísta, escusam de o usar,
pois de nada lhes serve – não são deístas, e a causa nem precisa de ser
“inteligente”, “pensante”, com emoções e desejos humanos, como normalmente se
concebe “deus”. E “sobrenatural”, depende da definição de sobrenatural. E
“imaterial”? Não é o mesmo que divino. Nem sequer temos garantido que “tudo”
(incluindo o universo) o que “começa” a existir tem uma causa. O máximo que
podemos inferir é relativamente ao que está dentro do universo, nada
relativamente ao universo em si – não sabemos se o universo, mesmo se
considerarmos um “começo” tem que ter tido uma causa ou teve uma causa. E como
escreveu um comentador (assina “Sodré”): “Eu julgo que sempre existiu
Algo físico obediente a leis ainda desconhecidas, outros julgam que sempre
existiu Algo transcendente… Mas sempre terá existido Algo…” Possivelmente. E
não necessariamente um deus. O impacto deste argumento num debate sobre a
existência de qualquer deus é pouco mais que zero. Pouco ajuda a causa dos
cristãos desesperados. Next.
4. As suas opiniões sobre a
complexidade.
«Dawkins pensa que Deus é Uma
Entidade enormemente Complexa, e como tal, não seria um avanço no conhecimento.
Segundo Dawkins, não podemos invocar Deus como explicação porque Deus é ainda
mais Complexo que aquilo cuja origem Ele é a explicação. Isto faz parte do
argumento central do livro “The God Delusion”. (…) Uma explicação pode ser mais
complexa que uma explicação rival mas ser aceite porque tem um poder e um
alcance explicativo maior. [O deus da
Bíblia não é aceite porque não pode explicar coerentemente o que observamos,
não há evidências a favor da sua existência, como o próprio Dawkins já referiu
várias vezes, etc.] Para além disso, se alguém se preocupa com a
simplicidade, então Deis [sic] ajusta-Se a esse critério; Ele é Uma Mente sem
um corpo; as Suas ideias podem ser muito complexas mas a Mente em si não é.» - Boa sorte em demonstrar que isso é ao
menos possível (e serve também para quem diz que as únicas coisas que encaixam
na descrição que se deduz da tal “causa” são mentes inteligentes e coisas
abstractas – eu diria, as únicas coisas que conhecemos, e quanto à mente
inteligente, nada garantido) – nos comentários, o Mats respondeu: “É
auto-evidente pela existência da matéria física”, e “e pela impossibilidade de
forças naturais geram [Sic] matéria física. Isto leva-nos a inferir que deve
existir pelo menos UMA Mente sem corpo físico.” Forças naturais… Ou seja,
causas que se conheçam. E eu pergunto-me, porquê uma “mente”? Ao responder-lhe
foquei-me em demonstrar que flutuações quânticas criavam matéria e apresentar
hipóteses interessantes sobre a origem do universo que envolvem flutuações
quânticas**. Mas nada garante ao Mats que, por não sabermos qual foi a “causa”,
era necessária a tal “mente sem corpo”. Além disso… o que se passou com o
“Caps” do Mats? Ele já não se limita a escrever “Deus” com letra maiúscula, mas
tudo o que se relaciona com deus. Tem muito medo de ir parar ao inferno, mas
muito pouca vergonha.
5. Que criou o Criador? [Sic]
«Dawkins pensa que não se pode
usar Deus como explicação porque com isso, outro problema é gerado –
nomeadamente, quem criou Deus? Esta pergunta tem sido defendida por muitos
ateus, chegando até a chamá-la de “a pergunta que nenhum teísta pode
responder.” (…) Dawkins mantém uma atitude auto-congratulatória, (…) dizendo às
pessoas que “este é um argumento sério, que nenhum teólogo foi até hoje capaz
de dar uma resposta convincente.” O problema (…) é que (…) De modo a que se
possa dizer que A causou B, não é preciso demonstrar a origem de A. » -
“De modo a que se possa dizer que A causou B, não é preciso demonstrar a origem
de A.”? Certo. Mas os teístas, que eu
saiba continuam sem resposta à pergunta. O ateu tem o problema de explicar a
origem do universo, que agora já não é um problema assim tão grande, com os
avanços da física, enquanto que o teísta tem que explicar a origem do seu Deus
– e esse, ao que parece é um problema ainda maior. Essa pergunta do Dawkins e
de outros é pertinente, na medida que exige aos teístas a resolução do problema
deles, tal como muitos exigem a resolução do problema do universo.
Resumindo:
nos pontos 1, 2 e 3 o autor do artigo (muito provavelmente) distorceu os pontos
de vista do Dawkins, e no ponto 5,
a pergunta do Dawkins é pertinente e os teístas não
conseguem responder. No ponto 4, bem, como eu disse, boa sorte em demonstrar
que é possível haver mente sem corpo.
Com o único
objectivo de caluniar Dawkins e os ateus em geral, o autor escreve: «A
injustificada devoção que a maioria dos militantes ateus têm por Dawkins diz
muito do seu baixo grau de exigências e da sua credulidade infantil.» - A injustificada devoção que a maioria dos fanáticos cristãos têm pela
Bíblia diz muito do seu baixo grau de exigências e da sua credulidade infantil.
«Apesar da
grande estima que o militante ateu comum tem por ele, os académicos tendem a
olhar para ele como uma figura humorística, agitador de punho contra fadas
madrinhas.» E… que percentagem desses “académicos” de que fala o autor são
cristãos enviesados? Provavelmente, muitos.
A cereja no
topo do bolo é chamarem-lhe “sociopata” – criacionistas
e não só***. Como na maioria dos casos, sendo leigos na área da psicologia e
dado o contexto, é provável que estejam a usar o termo como se fosse
equivalente a “psicopata”. Se não estão, não podiam estar mais longe da
verdade. Se estão, também não estão propriamente perto. Nem por sombras. Há
anos que leio o que o Dawkins escreve e assisto às palestras e entrevistas com
ele. Ele é um pouco manipulador, assumindo que ele por vezes usa argumentos que
podem induzir o adversário a interpretar de maneira errada e a não perceber o
ponto de vista à primeira (no caso dos criacionistas, provavelmente nem à
primeira, nem à segunda, nem à terceira) e que não é apenas fruto das mentes
retorcidas dos criacionistas. É também manipulador pois goza com o adversário
em público. Mas isso é só uma característica numa lista de 20. Parece um tanto
impulsivo naquilo que escreve no Twitter, por exemplo, e é um tanto frio no que
afirma. Mas isso são apenas três características numa lista enorme, mais uma
vez, se considerarmos “falta de empatia” como diferente de 0, que significa que
não se aplica de todo à pessoa em causa. Há ainda que admitir que ele tem
charme, lábia e pode ser bastante agradável. Merece um 2, é verdade. Sofre de
tédio? Pelo que li sobre a biografia dele, provavelmente. Isto dá um total de 7 a 10 pontos na PCL-R. Uma
pessoa dita saudável pode ter até 10 nessa lista, e uma pessoa com apenas
ligeiras inclinações psicopáticas tem até 19. Tendo isso em consideração, é
muito provável que o Dawkins não seja nenhum psicopata, apenas um cientista reformado
e um ateu mais ou menos sensato.
Notas:
* Ver: “The
Kalam Cosmological Argument” – Comments (Richard Dawkins Foundation for Reason
and science website - http://old.richarddawkins.net/discussions/507717-the-kalam-cosmological-argument/comments?page=1)
** Fontes
sugeridas: http://www.colorado.edu/philosophy/vstenger/Cosmo/FineTune.pdf
(hipótese de Linde, que propõe uma “espuma” de fundo do espaço-tempo - onde
partículas subatómicas vão aparecendo e desaparecendo - criada a partir de
partículas virtuais); http://debunkingwlc.wordpress.com/2010/08/11/alexander-vilenkins-model-of-cosmic-origins/ (ver também: http://en.wikipedia.org/wiki/Inflation_(cosmology)) e
http://debunkingwlc.wordpress.com/2010/07/31/are-vacuum-fluctuation-models-dead/
(outra hipótese interessante sobre a origem do universo, que também
envolve flutuações quânticas.)