De vez em quando em revistas aqui e ali, aparecem
referências à alta prevalência e incidência de depressão e ansiedade nos países
industrializados nos últimos anos. Problemas relacionados são o stress
financeiro (hipotecas, não conseguir ganhar o suficiente, poupar o suficiente,
etc.), problemas ou desafios na escola (no caso dos mais jovens), stress no
trabalho, nas relações, as quais são muitas vezes afectadas pelo stress no
trabalho, e afectam os níveis do mesmo. As soluções vão desde as mais
racionais/ devidamente estudadas e baseadas na ciência, passando pelas que
misturam ciência psicológica com espiritualidade individual (que aqui não tem
muito a ver com religião ou deuses), tendo alguns efeitos positivos na prática,
até àquelas que até podem funcionar na prática com algumas pessoas, mas têm uma
base algo questionável. Isto tudo para chegar à parte em que me questiono sobre
a origem das várias causas apontadas. E de onde é que elas vêm? Ora, vêm do
próprio sistema que o ser humano criou ele mesmo. Modelo: casa (pai, avós,
etc.), educadora de infância/ ama, escola (agora a escola, os estranhos que
nela vagueiam de nariz empinado mandam – ou pelo menos querem mandar – na vida
quase toda dos jovens e até dos pais!). Depois vem a faculdade, mais uma vez,
tu és mandada fazer isto, e mais aquilo, e mais “aclotro”, e no fim, ainda
pagas se queres (stress financeiro). Acabados finalmente os estudos que
pareciam intermináveis (às vezes depois do mestrado/doutoramento ou da segunda
licenciatura frequentada) vêm, com “sorte”, as 40 horas semanais pagas como se
dessem esmola a um mendigo. E muita gente não gosta. Aliás, pela minha
experiência, um trabalho é um trabalho, é feito porque tem que ser, porque
“temos que sobreviver”, mas muitos não gostam nem um bocadinho de trabalhar 40
horas por semana e serem mal pagos. E a escola não está muito mais recheada de
verdadeiros entusiastas, embora a partir de uma certa altura finjam até para
eles próprios que a escola é “fixe” e serve para fazer amigos (isso distrai-os
da verdadeira realidade da escola que os segue quase até à hora de deitar).
Em adultos, e
continuando a fazer as coisas porque tem que ser, não porque gostem
minimamente, dizem que os melhores tempos da vida deles foram os de estudante.
Há duas maneiras de abordar esta defesa emocional, a qual recorre à nostalgia.
Primeira: Não é por repetirem vezes sem conta para quem quiser ouvir que comer
lama é bom que o torna realidade. Lama é sempre lama. Segunda: não é por a lama
não saber tão mal como a merda que passa a saber bem. Como eu disse, lama é
sempre lama, não se transforma em mousse de chocolate através de palavras
mágicas repetidas ad infinitum. Mas
quem criou este sistema e o perpetuou através de mentiras (para si próprio e para
os outros) foram os antepassados dos de agora, que, por sua vez vão perpetuá-lo
de igual modo. Conclusão: não culpem apenas a vossa química cerebral ou a vossa
aparente “inabilidade” de se “adaptarem ou de aceitarem ou seja daquilo que
for”: culpem o mundo em que vivem e as pessoas que o criaram e não sejam como
elas. Quanto aos (poucos na minha opinião) que não tiveram uma experiência
negativa na escola – e não falo sequer de não sofrer gravemente de bullying,
mas sim de ter uma experiência verdadeiramente positiva –, reflictam e pensem
que provavelmente não é assim para muitos e esqueçam os velhos mantras de “a
vida de estudante vai acabar por ser a melhor fase da tua vida”, porque isso
não a torna melhor para a outra pessoa mesmo que ela aprenda a repetir o mesmo
mantra. É algo provável que esta não esteja verdadeiramente a gostar da
experiencia, e se for alguém com espírito crítico, pode é pensar “que raio de
tortura ainda estará para vir?” ou “isso só pode ser mentira ou a experiência
dele é excepcionalmente diferente da minha”.
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