domingo, 6 de outubro de 2013

As não-fraudes da evolução

Os criacionistas têm gritado esta expressão aos quatro ventos, mas esta só se aplica num dos casos que são normalmente apresentados, que é o “Piltdown Man”. Os restantes referem-se a erros e outros ainda nada têm de errado ou de fraude e a acusação é inteiramente baseada em quote mining. Normalmente estas abordagens mal dirigidas são apresentadas ao público em sites de cristãos fundamentalistas*. Aqui vou abordar alguns dos casos que os fundamentalistas mais adoram.

Os desenhos de Haeckel: Haeckel exagerou na representação de algumas das semelhanças presentes em vários embriões que foram comparados por ele num dos seus livros. Mas as semelhanças estavam lá, apenas foram um pouco retocadas nos desenhos do Haeckel. E não em todos nem sequer na maioria. Isso não é fraude. Se eu fizer um desenho daquilo que observo, por exemplo, ao microscópio nunca vais ser igualzinho ao que lá está. Nem se pode dizer que tenha sido feito de propósito para convencer os seus pares de que estes eram parecidos do que na realidade eram, pois os seus outros desenhos que não estavam exagerados já tinham sido vistos pelos seus pares e não seria provável que conseguisse enganar alguém dessa maneira. Mais uma vez, não é uma fraude, é apenas uma representação pouco precisa da realidade que teve muito pouco impacto no consenso científico. A hipótese de Haeckel da recapitulação não está correcta, no entanto (para além de não ter nada a ver com os desenhos) os dados da embriologia apoiam a teoria da evolução («Nada em biologia faz sentido excepto á luz da evolução»).

O Homem de Java: Ocorreu um erro na identificação de um crânio que se pensava ser de um ancestral do homem. De facto tirar conclusões precipitadas tendo poucos dados disponíveis não ajuda em nada o progresso científico. Mas também não é nenhuma fraude. É um erro no processo de investigação. Com o “Homem de Nebraska” e o “Orce Man” passou-se algo semelhante, mas com partes do corpo diferentes.

O Archaeoraptor: Neste caso, o fóssil foi mal montado por quem estava a vendê-lo e não pelos cientistas que o estudaram. Não houve nenhuma fraude, apenas um erro cometido por camponeses pouco instruídos. A partir daí os cientistas têm estado de sobreaviso a respeito dos fósseis que lhes chegam. E vários outros fósseis autênticos têm demonstrado a evolução de dinossauros para aves para além do Archaeopteryx.  

O “Homem de Piltdown”: Ainda que o “Homem de Piltdown” tenha sido uma fraude, da qual não se conhece quem foi o responsável, isso em nada invalida a teoria da evolução. Não consigo entender esta obsessão dos criacionistas em tentar espalhar que certas descobertas em particular são fraudes. É que isso não invalida a teoria. Continuaria a haver montes de evidências reais que dariam apoio à teoria (as quais eu tenho apresentado ao longo dos meus textos. A teoria é aceite porque há evidências que se sabe não serem fraudes e que foram bem estudadas. 



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