terça-feira, 29 de outubro de 2013

Antony Flew: do ateísmo ao deísmo (e não ao cristianismo)

Os cristãos em geral adoram mencionar Antony Flew como um “ateu famoso que agora acredita em deus” (agora, como quem diz entre 2004 e 2010, ano em que morreu com 87 anos). Esquecem-se normalmente de mencionar é que este filósofo não acreditava no deus do cristianismo ou de qualquer outra religião.
Antony flew era deísta. O deus em que ele acreditava não era o deus dos cristãos (nem sequer de qualquer outra religião).
Flew acreditava num deus que iniciou o universo e de algum modo programou o começo da vida na Terra (embora reconhecendo mais tarde que houve progresso na investigação sobre a origem natural da vida). Estas afirmações de Flew são também bastante conhecidas: "I'm quite happy to believe in an inoffensive inactive god.", "I'm thinking of a God very different from the God of the Christian and far and away from the God of Islam, because both are depicted as omnipotent Oriental despots, cosmic Saddam Husseins". Quando disse isto, Flew já não era ateu e já tinha escrito o livro onde se retratou e se afirmou como deísta (*). No mesmo período rejeitava as ideias de uma vida após a morte, de deus como a fonte do bem (ele afirmava explicitamente que deus criou "montes de" maldade), e da ressurreição de Jesus como fato histórico, embora tenha permitido um capítulo curto com argumentação a favor da ressurreição de Cristo no seu último livro.
Um deus que apenas criou o universo e deixou-se ficar quieto o resto do tempo nada tem a ver com o deus da Bíblia (ou de qualquer outro "livro sagrado" do tipo. É de notar ainda que um deísta como Antony Flew na prática é um ateu, pois não reza, não frequenta a igreja, não acredita na ressurreição nem na revelação de deus ao ser humano.
Outro caso semelhante é o de Peter Hitchens que, apesar de considerar o cristianismo importante em termos morais é agnóstico, embora mais disposto a acreditar em deus do que a não acreditar, mas continua a ser uma referência quando se trata de "ateus convertidos", embora não seja claramente um teísta convicto. Tenho a certeza de que há melhores exemplos. Talvez seja só porque é irmão do Christopher Hitchens e isso faz a história mais interessante. 

*Nota: o Título do livro em Inglês é “ There is a God” e está disponível uma tradução aqui: http://www.scribd.com/embeds/8741262/content?start_page=1

Referências:


- «My Pilgrimage from Atheism to Theism: an Exclusive Interview with Former British Atheist Professor Antony Flew Gary R. Habermas, Philosophia Christi Vol. 6, No. 2 (Winter 2004).» (disponível aqui: http://www.deism.com/antony_flew_Deism_interview.pdf) [no título a posição de Flew está mal representada – ele não era teísta]


- «How I found God and peace with my atheist brother: PETER HITCHENS traces his journey back to Christianity», 16 December 2011 
(disponível aqui: http://www.dailymail.co.uk/news/article-1255983/How-I-God-peace-atheist-brother-PETER-HITCHENS-traces-journey-Christianity.html)

Actualização: mais referências:

- No longer atheist, Flew stands by "Presumption of Atheism" DUNCAN CRARY - Humanist Network News, Dec. 22, 2004 (disponível aqui: http://www.americanhumanist.org/hnn/archives/?id=172&article=0) 

- Atheist Philosopher, 81, Now Believes in God, Richard N. Ostling. Associated Press, 10 December 2004. (disponível aqui: http://www.mail-archive.com/media-dakwah@yahoogroups.com/msg01064.html)

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