domingo, 28 de janeiro de 2018

Crises de identidade: como ultrapassá-las e evitar recorrências

    O psicólogo Erik Erikson cunhou o termo "crise de identidade", afirmando que durante a adolescência, há uma luta para que a pessoa se torne mais independente dos seus pais e para formar as suas próprias identidades. Hoje, o termo "crise de identidade" é usado para descrever qualquer pessoa que se encontra a lutar para encontrar a sua identidade, isto é, o conceito foi estendido por outros psicólogos aos adultos. 
    Pessoas sem qualquer diagnóstico de doença mental podem ter crises de identidade na idade adulta, no entanto existem certas doenças mentais que podem facilitar a sua ocorrência e recorrência, tais como a perturbação bipolar e as perturbações de personalidade, sobretudo a perturbação de personalidade borderline; psicopatas, um caso extremo da perturbação antissocial da personalidade, com traços narcísicos, geralmente têm uma tremenda dificuldade em criar uma identidade própria. Possivelmente neste último caso, como é um caso extremo, estes exercícios podem não ajudar em muito. No entanto, aqui ficam eles para todos os que se encontram nesta situação (deixarei em baixo os resultados dos meus exercícios para terem uma noção do que poderá ser incluído em cada um deles): 

Exercício 1: 

    Por tópicos descrevam-se a si próprios, englobando tudo o que acham que vos distingue, baseando-se no vosso discernimento, bem como na maneira como os outros vos apresentam. 

Exemplo - os meus resultados:

- Sou suficientemente inteligente para me licenciar em psicologia sem grandes dificuldades

 - Tenho formação académica superior em mais do que uma área científica

- Sou estudante de pós-graduação em ciências forenses

- Sou criativa

- Não acredito em deus(es) – sou ateia

- Gosto de neuropsicologia

- Sou considerada atraente (embora isso dependa dos gostos de quem olha)

- Tenho gosto pela investigação científica.

- Não sou muito alta -  tenho uma estatura média-baixa

- Da última vez que me pesei não acusava excesso de peso.

- Não gosto muito de fazer exercício (quando faço é exercício físico leve).

- Gosto de escrever no meu blog, mas já gostei mais.

- Preciso muito de reconhecimento pelos meus méritos académicos.

- Sou pouco empática.

- As outras pessoas têm que fazer por merecer o meu respeito.


Exercício 2: 

    Elaborem uma versão curta, baseado na maneira como os apresentam às pessoas.

Exemplo - os meus resultados:  

Licenciada em psicologia, estudante de pós-graduação em ciências forenses, inteligente.  

Exercício 3: 

    Considerando ambas as descrições resultantes dos exercícios 1 e 2, provavelmente notaram que existiam alguns tópicos ou características que têm grande risco de serem temporárias e que algumas dessas baseiam-se em situações externas - por exemplo, ser bonito(a) ou atraente, ser jovem, ser estudante de licenciatura ou pós-graduação, ser médico ou advogado, ter um Mercedes, etc. Esses todos podem desaparecer num abrir e fechar de olhos. A idade, uma doença ou um acidente podem alterar a aparência física, o Mercedes pode ser perdido num acidente de viação e com o tempo pode tornar-se menos valorizado. Um emprego pode acabar, um ciclo de estudos igualmente acabará algum dia, e até uma família pode acabar, bem como certos gostos mudarem. Para evitar futuras crises de identidade devemos pensar nas características que não são temporárias ou têm menos probabilidade de o ser. 

Exemplo - os meus resultados:  

    Características que não são temporárias ou têm menos probabilidade de o ser:

- Sou suficientemente inteligente para me licenciar em psicologia sem grandes dificuldades

- Tenho formação académica superior em mais do que uma área científica

- Sou criativa

- Não sou muito alta -  tenho uma estatura média-baixa

- Preciso muito de reconhecimento pelos meus méritos académicos.

- Sou pouco empática

- As outras pessoas têm que fazer por merecer o meu respeito

- Sou ateia 

Exercício 4: 

    Agora, coloquem por ordem de importância (de acordo com a vossa opinião) as características que sobraram no exercício 3.

Exemplo - os meus resultados:  

    Por ordem de importância:

- Sou suficientemente inteligente para me licenciar em psicologia sem grandes dificuldades

 - Tenho formação académica superior em mais do que uma área científica

- Sou criativa

- Sou ateia

- Preciso muito de reconhecimento pelos meus méritos académicos.

- Sou pouco empática. 

- As outras pessoas têm que fazer por merecer o meu respeito

- Não sou muito alta - tenho uma estatura média-baixa

P.S.: Esqueci-me de uma: sou crítica, daí deriva o meu ateísmo. 


segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

"Supernanny" - revisão do 1º episódio de uma perspectiva psicológica & comportamental

    Sendo licenciada em psicologia, resolvi não apenas reagir com pequenos textos nas redes sociais (facebook e google+), mas deixar a minha revisão do primeiro episódio aqui no blog, que anda a ficar menos poeirento e com menos teias de aranha ultimamente. 
    Não vou alargar-me em demasia, mas queria deixar alguns comentários. Primeiro que tudo os aspectos positivos da intervenção da psicóloga e mediadora familiar (a "supernanny"): as estratégias de recompensa e punição (leve) são boas estratégias já investigadas provenientes da vertente comportamental da psicologia. Discordo porém em alguns pontos do discurso da mesma - por exemplo - por exemplo que levar 1 ou 2 palmadas humilha a criança, pois, além de ser bastante subjectivo (exemplo ilustrativo neste link), pode não ser sequer aplicável ao caso da Margarida aqui exposto.
    Não me pareceu que foi isso que aconteceu quando a mãe lhe deu duas palmadinhas na mão - ela a seguir amainou com a birra e foi directamente para o colo da mãe. Ela tem razão no aspecto em que a palmada é uma solução temporária e a criança não interioriza regras, daí eu concordar com ela e achar que não é das melhores práticas, no entanto é extremamente difícil parar uma birra como a desta menina do 1º episódio, e por isso compreensível o seu uso. 
É de salientar ainda que o DSM-5 não considera abusivo o acto de dar palmada na mão ou no rabo (enfim, são sítios em que não magoe praticamente se for com pouca força), e que uma palmada na mão ou mesmo no rabiosque desde que se conservem as roupas para não correr o risco de humilhar/ envergonhar (especialmente se aplicadas pelo sexo oposto) e que não seja com força não é proibitivo, mas deve ser evitado ao máximo, sendo apenas usado para parar uma birra muito grande como último recurso e não por tudo e por nada, não fazendo disso um hábito. Devem ser ainda descobertas estratégias que sejam mais definitivas - que levem a uma interiorização, como as expostas neste primeiro episódio da série - baseadas no que nos diz a ciência comportamental. 
    Concordo que a mãe tem algumas falhas, que por vezes não sabe lidar com as situações de conflito, de desafio à autoridade geradas pela filha, no entanto é de salientar que o temperamento da própria criança é bastante difícil para alguém sem formação específica, e pela evidência anedótica que tenho observado penso que poucas mães estejam equipadas para lidar com ela.

P.S.: Provavelmente não continuarei a acompanhar a série. 

sábado, 13 de janeiro de 2018

Como um casal pode conjugar facilmente a vida doméstica com o trabalho: 10 dicas

Está na hora de tirar de novo o pó ao blog. Desta vez são algumas dicas que ao princípio vos vão parecer um perfeito pavor mas se experimentarem vão ver que dá resultado - mesmo para quem é solteiro e muito ocupado.
O que eu mais vejo é artigos a falarem de conjugar a carreira com as tarefas domésticas, sobretudo as relacionadas com as crianças (exemplo: https://www.ucg.org/the-good-news/career-home-and-family-can-women-really-do-it-all). Mas o problema não é elas precisarem de ser feitas - essa é só uma parte do problema maior, que é o de querer fazer tudo em casa como se não trabalhassem (tanto os homens como as mulheres). Pessoal, gente que trabalha não tem tempo para lavar carradas de loiça nem preparar montes de comida caseira todos os dias, mesmo que dividam as tarefas. Na altura em que eu andava a estudar para a licenciatura nem eu tinha, e até mesmo a estudar à distância em alturas de maior dedicação aos estudos isso pode ser difícil (sobretudo se queres apressar um pouco as coisas para te dedicares ou ajudares alguém noutros projectos). Então, foi assim que aprendi a não fazer disso uma prioridade. Sim, ouviram bem. Mas isso só vai funcionar se os dois estiverem na mesma onda e não tiverem filhos. Mais importante do que isso, eu aprendi que nem sempre é necessário ter pilhas de loiça acumuladas: pratos, tigelas e copos de plástico funcionam tão bem quanto os restantes só não devem ir ao micro-ondas se for em alta potência e durante mais de 2 minutos. E quando quiser aquecer no micro-ondas? Aqueça no recipiente onde já estava e depois sirva-se (a não ser que seja uma panela). Devo lembrar que pequenas tupperwares podem ir ao micro-ondas.  Eu pessoalmente não uso copos de plástico, mas se trabalhasse com um horário fixo até tarde, isso provavelmente mudaria. No entanto convém comprar um serviço completo de porcelana caso haja visitas e que possam usar aos fins-de-semana se desejarem, bem como um bom serviço de chá e outro de café. Portanto aqui está a primeira dica:

1. Loiça descartável (de plástico) 


Tal como nem sempre é necessário ter pilhas e pilhas de loiça para lavar a toda a hora, também não é necessário cozinhar a toda a hora. Há quem não goste e há quem adore cozinhar, mas tenha um tempo muito limitado para o fazer. Para ambos serve esta solução: Durante o fim-de-semana, se estiverem em casa, cozinhem refeições caseiras se quiserem e podem ainda congelar alguma coisa para durante a semana, mas nos dias em que trabalham, isso não é necessário, não nos dias de hoje. Usem o vosso micro-ondas e comprem cozinha pre-feita. Hoje em dia já há opções saudáveis e saborosas, com peixe, arroz, vegetais, etc. Lembrem-se de levar ao micro-ondas na embalagem original, pois o uso dos pratos de plástico no microondas tem que ser limitado. Depois deitem para o prato de plástico, e no fim, deitem tudo fora menos os talheres. Dêem uma limpeza superficial à bancada, lavem os talheres e já está! Melhor ainda, ponham as crianças a ajudar a arrumar os talheres - afinal vocês trabalham fora e não têm criada. Podem ainda comprar sopa já feita a baixo preço nos supermercados e aquecê-la e passá-la ou não consoante as preferências. E isto é a segunda dica:


2. Comida de micro-ondas ou congelada do fim-de-semana durante a semana de trabalho. 


3. Existe também uma coisa chamada toalhita de limpeza - há de móveis e multisuperfícies. Parecendo que não, poupa trabalho.


Agora, o pequeno-almoço: Não, não têm que ser vocês a preparar do nada. Está tudo com pressa nem convém perder tempo. Existem snacks saudáveis que dão para crianças e adultos (por exemplo, barras de cereais). Isso pode ser bom para toda a família e um óptimo primeiro pequeno-almoço para as crianças. Dêem-lhes algum dinheiro para comerem na escola a meio da manhã um pequeno-almoço mais completo (e forem pequenas escolas primárias e não tiverem cantina e só houver leite, aí têm que fazer rapidamente uma sandes e pronto, mas pelo menos já não têm que fazer ambos). E aqui fica então a quarta dica:


4. Snacks de compra (ex.: de cereais) para o pequeno almoço. É mais ou menos o mesmo que comer cereais, mas ninguém perde tempo a fazê-los nem suja nada nem gasta loiça descartável e podem ainda ser comidos no carro.


5. Dêem dinheiro aos vossos filhos para comerem um bom lanche na escola - assim não terão muita razão para pedir comida quando chegarem a casa e o máximo que poderão ter que fazer é dar-lhes umas bolachas ou mais umas barritas.


6. Usem o mínimo possível de roupa que se engelhe e tentem usar o máximo possível a lavandaria para passar a ferro as camisas. 


7. Tenham o estendal o mais perto possível de casa, e se possível máquina de secar, embora eu saiba que nem todos nadam em dinheiro. Podem ainda arranjar um cantinho da casa com estendal interior para o inverno. 


8. Limpem a casa ao fim-de-semana, uma vez por semana. Mas que não seja uma prioridade, se nessa semana decidirem ir acampar ou deixar os miúdos com a avó e irem para um hotel de 4 estrelas, não se coíbam por causa da casa.


9. Limpem apenas resíduos óbvios na cozinha durante a semana e verifiquem se há toalhas sujas e se a sanita cheira bem; lavem a roupa consoante é necessário.


10. Jantem fora. Pode não ser nos restaurantes mais caros da cidade, mas jantem fora. Com ou sem os miúdos se os tiverem. É bom que pelo menos 1 vez por semana seja sem.



Para as mulheres que adoram e fazem questão de agradar aos maridos: Se chegarem a casa antes deles, ponham a mesa e ponham-lhe um prato de porcelana, pelo menos de vez em quando. É só um uma vez por dia, diminuindo mesmo assim o trabalho para metade se forem só os dois e 1/3 ou 1/4 se tiverem filhos. Se tiverem filhos dos 7 em diante, ponham-nos a lavar o prato-extra e fica o assunto resolvido. Compensem os vossos maridos no fim-de-semana, cozinhando-lhe uma deliciosa refeição caseira com sobremesa. Podem também tratar das camisas deles para serem passadas numa lavandaria, levando-as lá e trazendo-as para casa a caminho de casa.


É claro que com um bebé, a coisa complica-se. Aconselho a terem uma empregada a tempo inteiro e para quem não pode, bem, salve-se quem puder!