sábado, 16 de julho de 2022

Trabalho de mulheres, trabalho de burras... ou será?

A "burrice" das auxiliares

Quem já pensou antes que a auxiliar da vossa escola ou da creche dos vossos filhos devia ter estudado mais para ser menos inculta, menos burra e ter um emprego melhor? Quem já pensou que a mulher que vos serve no refeitório bem que podia ter feito melhor? Ou talvez não, talvez seja esse o problema, talvez não tenha capacidade para mais por que não é muito... inteligente. Pois aí é que está o engano. Isso não é o que a ciência diz. Um artigo intitulado «A astúcia invisível de mulheres trabalhadoras de escola» leva-me a crer que estas mulheres, cujo trabalho é visto como manual, doméstico e naturalizado como atributo feminino, são tudo menos burras. 

Do artigo:

«...essas profissionais têm um saber que vai além de normas e prescrições, o que garante a realização de trabalhos essenciais ao funcionamento das escolas. Com o objetivo de refletir sobre a manifestação da inteligência prática de trabalhadoras de escolas públicas de Manaus-AM, realizou-se uma pesquisa documental, fundamentada pelos pressupostos teóricos da psicodinâmica do trabalho. Identificou-se, nesta pesquisa, que as trabalhadoras elaboram soluções originais e criativas para lidar com as contradições, utilizando-se da inteligência prática, que é aprendida no ato de trabalho. Ao fazer uso dessa inteligência, conseguem realizar suas atividades com êxito e reduzir a possibilidade de descompensação psíquica ou somática, mesmo diante de condições e organização do trabalho precárias e deletérias à saúde.»

Só por serem profissões tipicamente femininas e historicamente de classe trabalhadora não quer dizer que as profissionais sejam burras, menos capazes, menos equilibradas psicologicamente. Elas são inteligentes, resilientes e capazes. Este estudo foi feito no Brasil, mas certamente que em Portugal nas escolas públicas também elas se deparam com problemas semelhantes para resolver no seu dia-a-dia - eu frequentei uma escola pública cá em Portugal. 

 O "analfabetismo" das auxiliares 

Podem não ser originalmente burras, mas são praticamente analfabetas!, pensam os meu leitores menos informados. Enganam-se de novo. Não devem, pelo menos, generalizar. A nova geração de auxiliares de cresces e pré-escolares têm que ter na maioria das vezes o 12º ano com uma formação técnica ou um curso técnico de nível 4. Aqui ficam alguns exemplos: 




Em alguns casos é pedida uma licenciatura obrigatoriamente ou em alternativa ao curso técnico, como nestes exemplos: 





Portanto, estas mulheres, hoje em dia têm que ter em muitos casos formação para além do ensino secundário e em alguns casos um ciclo de ensino superior completo para depois receberem o salário mínimo a recibos verdes e serem tidas como "burras, "domésticas", "analfabetas" por questões de preconceito histórico e sexista (sobretudo este último).






sexta-feira, 6 de maio de 2022

Mestrados - os tipos que existem e a confusão da Deco Proteste

 No website da Deco Proteste há uma página  que aborda uma suposta fraude que circula nas redes sociais: os mestrados a 300 euros em promoção. O problema é que a Deco, pelo texto que os seus colaboradores escreveram, não conhece a história toda. A Esneca Business School, instituição que oferece esses mestrados declara no seu website em português que este é um mestrado não-oficial. É preciso não esquecer que esta escola é espanhola e que em Espanha existem 3 tipos de mestrado: mestrados académicos, mestrados profissionais, e, por fim, mestrados não-oficiais ou "Maestria", que são mestrados que podem ir até 1 ano. Aqui em Portugal esta última categoria não existe, mas podem ser creditados como formação profissional avançada para obtenção de créditos num programa de mestrado oficial, licenciatura ou pós-graduação. Dependendo das cadeiras do mestrado e seus conteúdos poderá ser creditado aproximadamente um ano de faculdade com 2 destes cursos que têm uma duração média de pouco mais de 1 semestre - o que atualmente ficaria ao aluno em 840 euros, o que corresponde ao valor de 1 ano de propinas em alguns politécnicos (fora o preço de pedir a creditação). Não, mesmo assim não compensa, mas a discussão da Deco Proteste foi muito mal informada. 


Adenda: Este tipo de mestrado, se para exercer a profissão não for necessário um mestrado creditado cá em Portugal e se se pretende apenas obter mais alguns conhecimentos que sejam reconhecidos através de um certificado, pode ter alguns benefícios pois são totalmente à distância e relativamente acessíveis.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Uma nota pessoal

Por que desapareci do 'radar científico'? 

  Como alguns de vocês já devem ter percebido, tenho tido problemas de saúde de várias espécies nos últimos anos, entre eles dois burnout com depressão. O meu cérebro está a funcionar a 50% e estou muito medicada ainda. São essas as razões pelas quais eu não tenho escrito sobre ciência e não concluí o grau de mestre (ficando apenas com o equivalente a uma pós-graduação - outra!). Além disso, a profissão de psicólogo clínico não é para mim, pelo menos por enquanto. 

Possibilidades para um futuro

Embora este tipo de recuperação demore bastante tempo, há a possibilidade de, num futuro não assim tão próximo, eu voltar ao campo da investigação no contexto dum mestrado (2º ciclo), seguindo uma das linhas que deixei em aberto no meu último trabalho de licenciatura. Será um casamento entre as ciências biológicas e as ciências comportamentais. 

Ponto da situação

Neste momento sou trabalhadora independente e estou a atuar como técnica de geriatria a título particular e em breve começarei a aceitar clientes para desenvolver trabalho na área da gestão de RH, mais especificamente em recrutamento e seleção. Estou a ganhar dinheiro para investir num futuro - pode ser num carro, numa casinha de férias... ou mesmo em estudos de mestrado. Quem sabe? ;)  



domingo, 25 de abril de 2021

A sobrevalorização do mestrado em psicologia

    Actualmente um profissional só pode exercer em áreas específicas da psicologia com um mestrado aceite pela Ordem dos Psicólogos. Sim, se o objectivo é ser psicólogo clínico, por exemplo, acho bem que vão em frente e façam o mestrado nesta área, pois só assim poderão pertencer à Ordem e exercer. Há no entanto várias áreas relacionadas com a psicologia nas quais um licenciado pode exercer: técnico de recursos humanos, director técnico de lar, relações públicas, psico-coach e neurocoach (desde que se faça uma formação avançada em coaching), formadora (desde que se obtenha o CCP) e recepcionista/ assistente num consultório de terapia sistémica e familiar. Portanto usem e abusem da vossa licenciatura que se esforçaram por acabar. Força. 

Adenda: técnico de apoio ou técnico superior para a CPCJ

sexta-feira, 30 de novembro de 2018


Dei aqui um salto para relembrar:

Algumas versões do deus cristão (o deus dos criacionistas) são demonstradas falsas pela ciência e a acção de deus na criação seja de que maneira for é demonstrada redundante/desnecessária pela ciência.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Mais da minha opinião sobre o GBU

É para mim incrível que pessoas que têm biologia na faculdade - até no curso de psicologia isso acontece como parte integrante do programa de estudos - existam pessoas que queiram ser cristãs evangélicas - não esquecer que são dos mais fundamentalistas. Eu não sei o quão fundamentalistas eles são, mas a verdade é que parece que vivem para aquilo. Passam a vida em encontros e a pregarem tanto na internet como na vida real. Os temas de debate costumam ser fraquinhos  - por exemplo aquele debate do GBU sobre o problema do mal. São definitivamente um grupo à parte dos outros alunos. As suas páginas de facebook estão cheias de coisas sobre o grupo e Jesus e... bom, fé e religião, enquanto que no típico católico vê-se isso uma vez por outra. Eu não posso chegar ali e dizer a um crente para deixar de ser crente, apenas posso dar a minha opinião de que este grupo é de excessos em relação à manifestação das suas crenças religiosas e provavelmente à (super)importância que lhe atribuem. Seria até chocante se tivessem tido apenas aulas de biologia no secundário. Eles não vêem que a fundação dessa religião é uma treta completa com cobras falantes e pessoas expulsas de um jardim mágico só porque comeram um fruto... E se for uma metáfora, então onde está o sacrifício de Cristo? Ufff. Cristãos. Ás vezes não pensam. 

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Tretas dos Cristãos: Grupo Bíblico Universitário - GBU

Aqui fica o megapost de que falei sobre todas as tretas dos cristãos evangélicos que foram surgindo no facebook:


1- Há uns tempos no facebook, uma colega minha da Universidade do Algarve dos meus tempos de licenciatura que é cristã evangélica (no entanto dávamos-nos bem) publicou sobre uma conversa entre religiosos e não religiosos sobre Se a verdade interessa - evento chamado cristopresso. Fui convidada, mas não é algo que compense as despesas na minha opinião. Sinceramente, o ateísmo tem melhores argumentos que esse, que não é da minha preferência. Mas havia ainda outro tópico, pois estávamos na época da Páscoa. E... bem o dia de Páscoa calhou no dia das mentiras, o que os levou a construir uma dualidade entre a mentira e sua veneração e a "Verdade" de Jesus (ou Deus) de uma perspectiva cristã. Gargalhadas pela coincidência acertada à parte, originalmente era uma festa judia que não tinha nada a ver com ressurreição e os pagãos comemoravam também os feriados nestas datas. A Páscoa é comemorada nesta data por causa das antigas festas pagãs para facilitar a transição para o cristianismo. Claro que não tinha eu como não indagar se iam discutir a tradição pagã do coelho e dos ovos da Páscoa também? E esta coisa da "Verdade" é complicada... e as evidências históricas credíveis de que alguém ressuscitou assim por milagre? Na altura as pessoas nem sabiam ver bem se o doente estava morto ou não! Há ainda outras ressurreições mencionadas na Bíblia, por isso isto nem é nada de novo para aquela época, talvez por esse motivo.

2- Ao princípio não li na íntegra um artigo que ela tinha partilhado acerca do cristianismo ser só uma muleta. No entanto, deu para perceber a ideia geral. No entanto, agora que li mais um pouco, parece-me que o próprio texto parece dar um tiro no próprio pé quando diz: «De facto, nada é tão eficaz como a fé cristã genuína para ajudar o homem a lidar de forma saudável com o sofrimento, dando-lhe um caminho para ser livre de todas as suas muletas psicológicas.» - O que é isto se não uma "muleta", uma "droga" de eleição? Algumas pessoas que são cristãs ou pelo menos acreditam em Deus dizem que isso ajuda nos maus momentos. - O que chamas a isso? E a história de que muletas não dão saúde não é bem assim. Vão lá perguntar se um doente com ansiedade e insónia não se sente muito melhor (e o sono contribui para a saúde do cérebro e em geral) com comprimidos. Isso é também é uma muleta isso não é tratamento definitivo e mal deixas os comprimidos cais outra vez. Mais ainda também já vi outros estudos e comentários de autores que apontam para que essa associação da fé com a saúde tenha mais a ver com coisas como o sentido de comunidade do que com a fé religiosa em si. Claro que a colega teimou comigo, mas é apenas uma muleta que vem substituir as outras - assim é também uma muleta, mas uma diferente, escolhida por um grupo de pessoas. Aí a minha colega afirma: «Quando falas que o cristianismo é uma muleta contra o medo, não vejo onde te baseias para o dizeres.» - No próprio artigo em questão. Além desta questão, O GBU no Porto, Coimbra e Lisboa, vai promover debates entre cristãos e ateus sobre a questão de Deus permitir o mal e o sofrimento também. Há melhores argumentos da parte dos ateus, embora Esta pergunta até seja pertinente,existem outras mais interessantes, o que me fez recusar uma ida ao Porto em Março.


3 - De acordo com #GBU (https://www.informamais.pt/cristaos-e-ateus-em-debate-na-universidade/) cristandade é muito importante na vida universitária... Ok basta olhar para o que se passou na bênção das pastas que se está secularizando cada vez mais, tendo o padre relativamente pouco tempo de antena e muito pouca aderência às partes que constituíam a parte religiosa da cerimónia e mesmo o consumo de álcool antes e durante a cerimónia. Talvez eles se identifiquem como católicos por una questão de cultura e porque acreditam em num poder superior, mas as minhas observações no terreno o ano passado (2017) foi exactamente o contrário. Não importante para mais ninguém excepto os cristãos evangélicos e de importância moderada para alguns católicos (também segundo a minha observação no terreno do dia da bênção das pastas)