A "burrice" das auxiliares
Quem já pensou antes que a auxiliar da vossa escola ou da creche dos vossos filhos devia ter estudado mais para ser menos inculta, menos burra e ter um emprego melhor? Quem já pensou que a mulher que vos serve no refeitório bem que podia ter feito melhor? Ou talvez não, talvez seja esse o problema, talvez não tenha capacidade para mais por que não é muito... inteligente. Pois aí é que está o engano. Isso não é o que a ciência diz. Um artigo intitulado «A astúcia invisível de mulheres trabalhadoras de escola» leva-me a crer que estas mulheres, cujo trabalho é visto como manual, doméstico e naturalizado como atributo feminino, são tudo menos burras.
Do artigo:
«...essas profissionais têm um saber que vai além de normas e prescrições, o que garante a realização de trabalhos essenciais ao funcionamento das escolas. Com o objetivo de refletir sobre a manifestação da inteligência prática de trabalhadoras de escolas públicas de Manaus-AM, realizou-se uma pesquisa documental, fundamentada pelos pressupostos teóricos da psicodinâmica do trabalho. Identificou-se, nesta pesquisa, que as trabalhadoras elaboram soluções originais e criativas para lidar com as contradições, utilizando-se da inteligência prática, que é aprendida no ato de trabalho. Ao fazer uso dessa inteligência, conseguem realizar suas atividades com êxito e reduzir a possibilidade de descompensação psíquica ou somática, mesmo diante de condições e organização do trabalho precárias e deletérias à saúde.»