É verdade que se
pode dizer que eu não tenho muitas experiências nesse campo para contar na
primeira pessoa, pois os meus pais não eram muito religiosos e pode-se mesmo
dizer que eram agnósticos e, além de na minha casa não se pregar a existência
de nenhum deus, durante a maior parte da minha infância só me levavam à missa
no Natal e por vezes na Páscoa. No entanto, eu convivi com crianças e
adolescentes cujos pais eram muito religiosos e os obrigavam a rezar antes de
deitar, ir à missa de domingo regularmente e a noção de deus era quase uma
constante em casa dessas pessoas. Por isso eu consigo fazer uma ideia de como é
ter que dizer a pais desse género que não se acredita em deus e não se quer ir
à missa por isso. É claro que além da religiosidade temos que considerar também
o feitio das pessoas: se são tolerantes relativamente a outras opiniões, a
outras religiões, se são pessoas calmas ou se se irritam com facilidade.
Eu já contactei
com casos de vários tipos, embora todos passados com famílias católicas. Uma
colega minha que já não acreditava em deus estava a ser pressionada pelos pais
para ir à catequese e fazer a crisma (também designada por confirmação). Além
disso também a chateavam por não ir à missa. E quase todos os dias havia
discussões lá em casa. Nunca chegou ao ponto de castigos /violência física (que
eu saiba, mas acho que ela não ia dizer a ninguém se assim fosse). O que me
pareceu mais estranho neste caso é que os pais da rapariga nem se ralavam com
as notas da filha; ralavam-se era com as escolhas religiosas dela. Isto para
mim não é normal: o que é que é pior: ser ateu e ter um emprego decente ou ser
muito religioso e fazer carreira a varrer ruas? Mas voltando ao que interessa:
nestes casos o que se deve fazer é exactamente o que ela fez: manter a sua
posição até ao fim, a menos que se passe a pensar de modo diferente, usando a
razão e não agir por medo.
Apesar do que afirmei anteriormente, há ainda que considerar que
pode ser pior do que o que eu descrevi e os pais cristãos (católicos ou outros)
se podem tornar violentos, especialmente evangélicos fundamentalistas. Por
muito menos que ser ateu (para o evangélico fundamentalista isso é um dos
piores crimes contra deus), uma menina de 7 anos foi espancada até à morte e
era regularmente espancada (ela e os irmãos) com cintos, paus, tubos, etc, tudo
isso um nome de deus. Segundo a descrição que fizeram do corpo nas notícias da
CNN, a criança parecia uma vítima de um sismo (1). Nem sequer mostraram os
ferimentos mais graves da menina (já morta) e da irmã para evitarem o choque de
quem estivesse a ver as notícias. Portanto, quando alguém ainda é jovem
(normalmente entre os 10 e os 18 anos) e ainda vive na mesma casa que a família
é aconselhável que em casos em que os pais sejam muito religiosos e tenham comportamentos
violentos normalmente ou, mesmo que não tenham, se forem cristãos evangélicos
fundamentalistas, irritando-se facilmente quando o assunto é religião, e cujo
discurso habitual seja algo como: «A evolução é uma mentira vinda do inferno e
os evolucionistas parecem possuídos», ou «O ateísmo leva à imoralidade» *, nem
pensar em dizer nada antes de saírem de casa e quando disserem, que seja de
preferência por telefone ou carta, ou e-mail, algo do género. Aí podem dizer
tudo o que pensam. Mas já sabem que não podem contar mais com os vossos pais.
É preciso ter em atenção que não estou a estender isto a todos os
cristãos evangélicos; como eu disse, o feitio das pessoas também conta, não
apenas a devoção religiosa. Mesmo entre os cristãos evangélicos há pessoas
tolerantes e que tentam conversar em vez de partir para discussões ou
violência.
Ainda bem que os meus pais não eram religiosos (nem violentos)!
Ref.:
*Baseado no
discurso do Mats.
P.S. Este era um post já antigo (http://allthatmattersmaddy32.blogspot.pt/2013/06/ateismo-como-dizer-pais-cristaos-que-es.html), mas que pelo facto de poder ser útil, foi republicado.
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