sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Mais baboseiras do William Dembski

Num texto já antigo (2005) no "Uncommon descent"(1), o William Dembski responde a um dos seus muitos críticos, o biólogo H. Allen Orr, da seguinte forma:
«Orr tries to get around the force of displacement by remarking that the NFL theorems don’t hold in the case of co-evolution (fitness landscapes that vary over time as organisms/population agents evolve). Actually, I dealt with co-evolution in section 4.10 of my book No Free Lunch (...). In his 2002 Boston Review critique of that book, Orr claimed that I hadn’t even addressed the issue of co-evolution when I had devoted a whole section to it. (...) the No Free Lunch theorem that I prove in my paper “Searching Large Spaces” does in fact hold for co-evolutionary scenarios, as does the displacement theorem that I prove there.» Será? Aquilo que o William Dembski diz não é de levar a sério, pela experiencia em casos anteriores (filtro para inferir design é um exemplo), mas não tendo encontrado nada sobre o assunto, deixo passar. Mais: «Orr now has a long history of suggesting that co-evolution is a magic bullet for evolving biological complexity. (...) What’s more, when we look to evolutionary algorithms within computer science, we find an interesting disanalogy with what Orr is hoping evolutionary processes can accomplish in actual living systems. Within evolutionary computing, fitness can change with time as circumstances change and more information becomes available. Accordingly, the objective function can, as it were, hop around. But (...) the objectve itself does not hop around. Orr is asking us to believe that co-evolution can work effectively by changing objectives (...), but we have no parallel to this in the field of evolutionary computing.» Não há paralelo a uma solução proposta, perfeitamente plausível no mundo real, em modelação computacional (evolutiva), e não há paralelo plausível no mundo real para um designer. Em que é que ficamos? É claro que um criacionista diria que isso não é problema porque se pode inferir design sem conhecer o designer. E eu gostava de saber, então, de (novas) propostas para inferir design. Para além do mais, acho que isso é fazer batota. Para o design ser pelo menos plausível, tem que haver um possível, e plausível designer. Os cristãos diriam: "deus" (bem, provavelmente gritariam histericamente: "Deus!!! Com D maiúsculo!"). Mas o problema é apenas este: evidências que deviam aparecer (deus quer ser adorado e tem traços de personalidade narcisista) e não aparecem. Hum... porque será?
Não há nada que torne a existência de deus mais plausível. E se for outro deus qualquer? Bem, a tradição hindu tem uma espécie de deus supremo, mas é panteísta, e os outros "deuses" são apenas espíritos através dos quais os hindus se relacionam com o seu deus (que não parece estar dissociado da natureza, ou pelo menos não é um deus pessoal) e, mais uma vez, zero evidências de que existem. E o deus do Islão, Alá? Evidências, nem pensar, já para não falar de que este método de andar a criar aos bocadinhos não é coerente com o que diz a Bíblia ou o Corão, nem com as crenças Hindus. Podem apelar à metáfora, mas quais as partes que são metáfora, então? Quanto muito é no mínimo subjectivo - "a criação divina em si não é metáfora, mas os seis dias de criação instantânea são" simplesmente não pega.  Provavelmente até foi uma história que alguém inventou para satisfazer a curiosidade dos mais novos, na qual passaram a acreditar, mas parece tudo menos uma metáfora ou alegoria para a criação divina do universo, pelo menos no sentido que certos teólogos e católicos pretendem. Um deus que quer ser venerado não podia arranjar uma maneira de se revelar, e de espalhar a sua palavra que gerasse menos confusão para se fazer acreditar? Sim, deus, pode brincar connosco, mas para quê? Para deixar de ser venerado mal a ciência entre em acção? Pouco inteligente para um designer inteligente, que criou o homem (inteligente, com capacidade para distinguir o "certo" do "errado", etc.) à sua imagem e semelhança.
Voltando ao William Dembski, penso que ele quer dizer que a ideia de Orr não é testável em termos de modelação, mas uma mera possibilidade. Mas se tivermos que escolher entre isso e um designer muito pouco plausível na realidade, devemos ficar com a primeira hipótese, não a tendo como garantida. Além disso, observando atentamente as estruturas que têm sido propostas pelos criacionistas versão design inteligente, os cientistas concluíram que não havia nada que não fosse de esperar pelos processos evolutivos moleculares do costume (partes cooptadas, partes semelhantes, isto é, duplicadas, etc.)  ainda que não se tenha uma descrição mutação a mutação com o respectivo valor selectivo. Pergunto-me se alguma destas observações tão óbvias trará alguma dissonância cognitiva ao Dembski. Talvez tenha aprendido a ignorá-las. Numa só frase: Muita treta vai na cabeça de muitos cristãos, incluindo e sobretudo na do William Dembski.      

Ref.:

1. Allen Orr in the New Yorker - A Response, 28/5/2005, William A. Dembski (Disponível em: http://www.uncommondescent.com/evolution/allen-orr-in-the-new-yorker-a-brief-response/

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