sábado, 1 de novembro de 2014

Doenças mentais: as várias causas da psicopatia

Eu li que o abuso de crianças pode fazer com que certas áreas do cérebro se tornem menos espessas (1). Psicopatas têm esse problema nalgumas áreas do cérebro (2). Agora, se pensarmos um pouco, nos anos 70,  80 e, (talvez em menor grau) até mesmo nos anos 90, as crianças eram castigadas fisicamente, inclusive com cintos e, em alguns casos, até mesmo sapatos, pelo menos ocasionalmente (eu tive a sorte de isso nunca me acontecer, mas outros no meu tempo não tiveram essa sorte - sim, eu sei que os criacionistas vão ficar desapontados, pois esperavam uma infância horrível, repleta de sovas brutais, nódoas negras e afins, para poderem justificar para eles próprios que eu sou ateia por causa disso). Considerando o contexto histórico, naquela época isso não era visto como abuso, mas como disciplina - provavelmente porque a população não estava tão bem informada sobre possíveis consequências indesejadas. Eu li sobre um caso de uma psicopata (diagnosticada) que era castigada fisicamente (ocasionalmente) com um cinto (principalmente nas nádegas, até fazer vergão), por lutar com os irmãos (final dos anos 80 e início dos anos 90) (3). Agora, se isso foi realmente um factor importante, devemos ver algumas tendências psicopatas (pelo menos) na maioria das pessoas que eram crianças na época, uma vez que era uma forma normal de disciplina na altura, mas isso não é o que eu observo - eu sei de muitos casos de pessoas que tiveram castigos piores e não se tornaram psicopatas ou algo próximo disso. Eu acho que o ambiente é importante, mas, nesse caso, eu acho que essa parte não foi realmente importante. Penso que a negligência ainda em bebé (ela tinha aftas e foi deixada sozinha a chorar e sem tratamento) e até mais tarde, em criança, foi provavelmente mais importante para o desenvolvimento da patologia, pois isso impede o estabelecimento de ligações afectivas com os pais e torna a criança mais independente e "dura". E há, pelo menos, algumas tendências genéticas - um estudo com gémeos apoia essa hipótese (4). A pessoa em questão nunca chorou por causa dos castigos. Só sentiu um pouco de raiva no momento (reacção típica do psicopata?), mas não que tinha sido abusada.
Há ainda estudos que identificam pelo menos dois subtipos de psicopatas e teoriza-se que um tenha mais influência genética (primário) e outro mais influência do meio (secundário). 
Sim, bater nos miúdos não é a melhor das soluções, e algo como o que descrevi, pelo que sei por profissionais que trabalham na área da protecção de crianças e jovens, não sendo dos casos mais graves (mesmo hoje em dia), raia o abuso físico pelos padrões actuais. Nunca chegaria ao ponto de processarem os pais ou institucionalizarem a criança, no entanto ainda assim seria visto como algo a ser corrigido. Mas no contexto da época, isso era normal, por isso não vejo como possa ser um factor importante no desenvolvimento de doenças mentais, uma vez que provavelmente a maioria recebia esses castigos - só se a "norma" é "doente".    

Referências:

1. "Brain Changes from Child Abuse Tied to Adult Mental Illness, Sexual Problems" By RICK NAUERT PHD, John M. Grohol, Psy.D., June 3, 2013 ( http://psychcentral.com/news/2013/06/03/brain-changes-from-child-abuse-tied-to-adult-mental-illness-sexual-problems/55556.html#at_pco=tst-1.0&at_si=545014dda2181917&at_ab=per-2&at_pos=0&at_tot=2)


2. "Psychopathic, but not thick: Temporal and prefrontal gray matter thinning in psychopaths" (comentary), Stéphane A. De Brito & Essi Viding, Cell Science Reviews Vol 6 No 1 


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