terça-feira, 19 de novembro de 2013

Ateísmo, Inteligência e Síndrome de Asperger

A correlação positiva muito significativa entre ateísmo e inteligência (0,60) e a constatação de que os ateus são mais inteligentes num estudo realizado com dados de 137 países (1) e noutros referentes ao mesmo assunto (2) deixa os religiosos muito aborrecidos (3).
Agora, os cristãos, andam por aí a apregoar que “muitos ateus” têm Síndrome de Asperger (*). Mas ainda que fosse verdade, não existe qualquer motivo para pensar que isso é mau. O Síndrome de Asperger traz tanto de vantagens como de desvantagens. Regra geral, uma pessoa com A. S. tem uma inteligência média ou acima da média e pode ser muito boa num determinado campo de interesse e essas pessoas ultrapassam muitas vezes os colegas na escola, tendo resultados satisfatórios em matemática e bons ou excelentes em ciências e línguas (4).
Há uns dias deparei-me com um texto na internet (*) e fiquei espantada com tantas parvoíces. Vou aqui abordar algumas.
Relativamente ao ateísmo: «(...) é normal que ele comece na adolescência, como uma projecção de problemas de relacionamento com o pai ou como consequência de Síndrome de Asperger, e depois se estenda de forma natural a fase adulta.» Compete ao autor da alegação demonstrar tal coisa ou apresentar os estudos que este afirma existirem. E não vale apresentar estudos que não demonstrem o que acabou de escrever. O facto dos ateus serem de um modo geral mais inteligentes e conseguirem distinguir as tretas que os religiosos (sobretudo os cristãos) apregoam parece-me uma explicação muito mais plausível. E sim, o ateísmo muitas vezes começa na adolescência ou na pré-adolescência, também chamada idade da razão, em que o desenvolvimento do jovem atingiu um nível em que este é capaz de aprender e raciocinar sobre o assunto. 
«O literalismo ateísta lembra sintomas da síndrome de Asperger Sheldoniana, é burro e desonesto. Então notamos dois casos de interpretação equivocada da Bíblia.» Burro é quem não enxerga o que está mesmo diante de si - os criacionistas, incluindo os criacionistas do D.I. são um bom exemplo disso porque muitos estudam ciências e biologia em especial (incluindo evolução) e continuam na mesma. Isso ou é défice cognitivo ou é viés. Quanto aos ateus, de um modo geral sabem que há interpretações alternativas à literal, mas pensam que estas em nada melhoram a situação para o cristianismo.
No que respeita às relações interpessoais, não há pior do que um criacionista fanático (e falo por experiência própria e não só), pois são conflituosos e não percebem ou não querem perceber nada do que se lhes explica, vivendo num mundo de fantasia e fundamentalismo só deles.

*Nota: disponível aqui: http://www.blogger.com/comment.g?blogID=6103548286498383937&postID=4302925885864508420&page=1&token=1384871751831. O autor destas parvoíces é o criacionista Francisco Tourinho (outra vez).  

Referências:

1. Lynn, Richard; John Harvey and Helmuth Nyborg (2009). "Average intelligence predicts atheism rates across 137 nations". Intelligence 37: 11–15. doi:10.1016/j.intell.2008.03.004. Retrieved 2008-06-27. (Sobre o assunto: http://en.wikipedia.org/wiki/Religiosity_and_intelligence)


3. «Atheists are more intelligent than religious people? That's ‘sciencism’ at its worst», FRANK FUREDI, Tuesday 13 August 2013

4. «Asperger syndrome» - MedlinePlus, 5/16/2012, (Jennifer K. Mannheim, ARNP, Medical Staff, Department of Psychiatry and Behavioral Health, Seattle Children's Hospital. Neil K. Kaneshiro, MD, MHA, Clinical Assistant Professor of Pediatrics, University of Washington School of Medicine, David Zieve, MD, MHA, Medical Director, A.D.A.M. Health Solutions, Ebix, Inc.) (disponível aqui: http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/001549.htm)

Literatura recomendada:

- Bostic JQ, Prince JB. Child and adolescent psychiatric disorders. In: Stern TA, Rosenbaum JF, Fava M, Biederman J, Rauch SL, eds. Massachusetts General Hospital Comprehensive Clinical Psychiatry. 1st ed. Philadelphia, Pa: Mosby Elsevier;2008:chap 69.


- Raviola G, Gosselin GJ, Walter HJ, DeMaso DR. Pervasive developmental disorders and childhood psychosis. In: Kliegman RM, Behrman RE, Jenson HB, Stanton BF, eds. Nelson Textbook of Pediatrics. 19th ed.Philadelphia, Pa: Saunders Elsevier; 2011:chap 28.

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