quarta-feira, 8 de outubro de 2014

E os criacionistas estrebucham

Evolução, Informação e os disparates do William Dembski (outra vez...)

Os criacionistas do design inteligente (tal como os seus primos do campo, os criacionistas da Terra jovem e da Terra velha) há muito que perderam a credibilidade perante a comunidade científica. Mas será que isso os impede de continuarem a gritar histericamente "design inteligente" onde quer que tenham oportunidade? Claro que não. Até nas universidades eles proclamam a sua ignorância (propositada?). O leitor (esclarecido) provavelmente pergunta-se? "O quê? Numa universidade? Qual?" Na Universidade de Chicago (onde até lecciona um cientista e autor bastante conceituado - Jerry A. Coyne autor de "Why Evolution is true" e "Speciation"). O William Dembski foi convidado por um antigo professor para dar uma palestra sobre algoritmos evolutivos e "conservação da informação". Sim, este é um caso de convite especial dum "amigo do amigo" (neste caso dum "professor do professor"). E o Dembski aceitou a oportunidade para fazer publicidade ao seu tipo de criacionismo de eleição. Mas o que não falta são comentários ("reciclados") de cientistas (os biólogos Joe Felsenstein e Jerry Coyne) que assistiram à palestra e conhecem o seu conteúdo (de trás para a frente, pois já é repetido) e que não acharam os argumentos convincentes (*). Resumindo:

- Dembski considera todas as formas possíveis de que o conjunto de aptidões de reprodução pode ser distribuído por um conjunto de genótipos. Quase todas estas parecem distribuições aleatórias.

- Dado que existe uma associação aleatória de genótipos e aptidões, Dembski está certo em afirmar que é muito difícil de fazer muitos progressos na evolução. A superfície de fitness é uma superfície de "ruído", que tem um grande número de picos "afiados" (picos de aptidão). A evolução vai progredir apenas até que sobe o pico mais próximo, e então vai parar. 

- Mas esse é um modelo muito mau para a biologia real, porque, nesse caso, uma mutação é tão má  como mudar todos os nucleótidos do genoma ao mesmo tempo.

- Além disso, nesse modelo, todas as partes do genoma interagem muito fortemente, muito mais do que em organismos reais. 

- Dembski e Marks reconhecem que, se a superfície de fitness é mais suave do que isso (e de facto é - mudar a cor do pêlo do urso pular não afecta a sua musculatura, forma das garras, etc.), é possível fazer progressos. 

- Eles, então, argumentam que a escolha de uma superfície de fitness bastante suave requer um designer. 

- Mas reconhecem implicitamente que a selecção natural pode criar adaptação. O argumento não requer projecto para ocorrer uma vez que a superfície de fitness está escolhida. É, portanto, um argumento para o evolucionismo teísta, e não para o design inteligente; e um argumento bem fraco, pois continua a não haver razões para aceitar que um deus foi responsável por isso, existindo possíveis explicações alternativas – talvez leis da química ou da física (como Felsenstein defende, que as leis da física implicam uma superfície muito mais suave do que um "mapa" aleatório - se a expressão do gene é separada no tempo e no espaço, os genes são muito menos propensos a interagir fortemente, e a superfície será muito mais suave do que a superfície "aleatória")
Seja como for que se defina informação, quer seja "criada" durante o processo evolutivo, quer antes, isto mantém-se. Esse deus é no mínimo desnecessário, ao contrário do que afirmam os criacionistas.

Criacionistas, vocês perderam há muito. Chega.   
   

           

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