terça-feira, 28 de maio de 2024

Esquizofrenia e inteligência: desconstruindo o equivoco do esquizofrénico burro (e do génio esquizofrénico)

Escrevo este post para desmistificar a ideia de que os esquizofrénicos nascem burros ou têm uma inteligência considerada abaixo da média, que até eu sem querer posso ter ajudado a perpetuar neste post  - na realidade um estudo revelou que, apesar de, em geral, terem uma tendência para terem um QI menos elevado, o grupo com as capacidades preservadas (nível pré-mórbido de funcionamento) permaneceu dentro do desvio padrão, ou seja, apresentou um QI dentro do nível médio, bem como os denominados pacientes deteriorados, embora estes últimos apresentassem outros comprometimentos cognitivos. Já os denominados comprometidos tinham também o QI afetado, mas estes são uma minoria de 26%. Portanto, não olhem para eles como se fossem atrasados nem nada disso, e se eles têm um QI baixo, isso deve-se aos efeitos da doença e é recuperável até certo ponto. Quanto à genialidade que se vê nos filmes, alguns deles podem ser de fato geniais, mas não é tendência geral. Há sim, como referi no post supracitado, um grupo específico com QI muito elevado e resistente à deterioração cognitiva provocada pela doença. 


Link para o estudo: Wells et al, 2015

domingo, 14 de janeiro de 2024

As origens do universo

 




Esta proposta, de que o universo começou do nada, isto é, de pequenas partículas que começam e deixam de existir naquilo que se pensava ser espaço vazio (ser "nada"), é interessante, mas há outras também interessantes, como se vê no início do vídeo - a de que o Universo é o resultado de um fenómeno cíclico de universos que vão começando/acabando através de vários big bangs consecutivos, ou a de que é o resultado da colisão de dois universos que sempre existiram. Há ainda a teoria do multiverso para lidar com a dita improbabilidade do nosso universo ser como é. 


Evolução dos peixes do Deserto e a improbabilidade de Deus

https://fb.watch/pzAW4qwOJA/ - Nos desertos da vida, deixe a resiliência e a adaptabilidade serem sua bússola. Navegue pelas adversidades como um peixe do deserto, encontrando caminhos únicos para prosperar. (Vídeo sobre a evolução dos "peixes do deserto").

 «Enquanto os criacionistas se regozijam por terem sido criados, tal como são hoje, num jardim encantado, ao qual chamam de jardim de éden, este peixe prova a todos os viventes que a fé cega e não deixa ver a realidade irrefutável, já que todos os viventes evoluíram e não se criaram como são hoje. No caso deste peixe e seus antepassados, uma transformação ambiental geológica fez com que nessa região a areia dividisse a água onde viviam seus antepassados primitivos. Alguns desses peixes corajosos fizeram-se à vida em vez de ficarem rezando para a sua própria imaginação. Hoje, temos alguns exemplares desse peixe que aprendeu a viver na areia e na água. Estes peixes vivem na terra e no mar, mas todos os mamíferos que hoje vivem no mar já viveram durante milhões de anos na terra, tal como esse. Lembrava baleias e todos os outros mamíferos. Seria bom que os mais controlados pela sua fé tivessem em conta essas proezas reais ao longo da história do nosso planeta Terra.»

Texto de Celestino Silva

    Deixo aqui apenas um breve comentário: A verdade é que muitos dos processos necessários à evolução e propostos pela teoria da evolução são observados na natureza atualmente (em maior ou menor escala), o que realmente não se observam são deuses a criarem seres vivos e planetas, etc. Não vivemos num mundo comandado por deuses - basta olhar à nossa volta e verificar que mesmo quando falta explicação, nada parece apontar para a intervenção divina na natureza. A Natureza, ao contrário do que muitos pensam é caótica - a tal informação de que tanto falam os criacionistas, avaliando as coisas friamente vem do caos (com alguns ajustes da seleção natural, a qual é em si produto do caos também).

   Se, no fundo, algo com muita informação é apenas algo pouco provável de existir, então uma série de mutações neutras que acabam por acumular podem produzir bastante informação se dermos tempo suficiente e considerarmos todo um genoma, toda uma população, durante várias gerações (e acrescentarmos a ação da seleção natural). Uma duna de areia tem muita informação e veio de onde? De processos de erosão e deposição eólica, fundamentalmente. Caos. 

    Não digo que não existam a chamadas "leis" da física, mas de novo analisando friamente, isso é apenas como nós humanos as batizamos... tal como o código genético que os criacionistas tanto gostam (ou pelo menos gostavam) de dar como exemplo de "prova de que fomos criados". São (falivelmente) descritivos do que acontece na natureza quer em termos físicos quer em termos bioquímicos, respetivamente. Não são prescritivos. 

Adenda: As leis de Newton possuem limites Caso a velocidade do objeto analisado seja muito próxima ou igual à velocidade da luz, as leis de Newton perderão a sua validade e deverão ser substituídas pela aplicação das propostas relativísticas de Einstein.

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Micologia - sintomas físicos e psicológicos

Noutro dia surgiu-me a seguinte questão: Que sintomas causam as infeções fúngicas (por contaminação respiratória, contacto com a pele, etc.)? Eu já sabia que alguns causavam sintomas psiquiátricos e neurológicos, mas não sabia que até os bolores negros (ex.: Aspergillus spp. e Stachybotrys chartarum), bastante comuns em casas e por vezes até em carros, eram causadores desses sintomas, tais como: insónia, perda de memória, confusão, problemas motores, falta de concentração, fadiga, depressão e alterações mentais em geral, ansiedade extrema, desregulação emocional (raiva ou medo irracional). Já os sintomas físicos possíveis incluem: infeção respiratória, desenvolvimento de asma/ alergias, dores de cabeça, vómitos, diarreia, dormência, entre outros. 

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Sobre Perturbação Bipolar, Perturbação Esquizoafetiva, Esquizofrenia e valores de QI

 

Perturbação Bipolar – A P. bipolar com características predominantemente maníacas está associada a um QI total e verbal superior na infância (8 anos), e os genes associados a uma predisposição para QI elevado são os mesmos associados a um maior risco de doença bipolar. Estes factos em conjunto com várias observações de “génios” criativos com doença bipolar levam-me a crer que de um modo geral a doença bipolar está associada à inteligência - incluindo a inteligência criativa. No entanto é observada deterioração cognitiva neste aspeto, pois os episódios podem danificar o cérebro.

Perturbação Esquizoafetiva – De um modo geral, existe uma deterioração do valor geral do QI em 44% da população em pelo menos 10 pontos (partindo do nível pré-mórbido), mas 31% da população mantém um QI estável entre o normal e o superior. Verificam-se, no entanto, acentuadas diferenças entre os 2 subtipos:

No tipo Bipolar – O QI geral mostrou-se em média apenas ligeiramente menor que o QI nos pacientes com P. Bipolar (num estudo com pacientes bipolares, esquizoafetivos e esquizofrénicos); pode-se ainda contar com o efeito alguma deterioração (em ambos), pois as medições já são feitas após a sintomatologia se manifestar, mas sabemos que a percentagem da população bipolar afetada é menor comparativamente à percentagem da população esquizoafetiva em termos dessa deterioração, pelo que é provável que não haja uma diferença significativa entre a média dos QI’s das 2 populações. Ainda assim as médias dos QI’s foram de 97 e 94 respetivamente para as amostras bipolar e esquizoafetiva (no estudo em causa), isto é, dentro do intervalo da média da população geral. Não fica claro, no entanto, qual é o valor de QI total pré-mórbido, pois os estudos que existem não diferenciam entre esquizofrenia e perturbações esquizoafetivas.  

No tipo Depressivo – Ainda no mesmo estudo, o QI geral mostrou-se em média bastante menor que o QI nos pacientes com P. Bipolar e P. Esquizoafetiva tipo bipolar. O QI médio (na casa dos 80) encontra-se abaixo do intervalo da média da população geral.

Esquizofrenia – Algo semelhante foi observado nos pacientes esquizofrénicos. Estes têm tido resultados de QI comparativamente baixos quer com grupos de controlo, quer com outros pacientes do espectro bipolar/esquizofrenia, tendo sido também encontradas outras alterações cognitivas. Isto, em conjunto com o facto de ter sido descoberto que a esquizofrenia tem mais genes responsáveis associados igualmente com défices cognitivos do que com elevada inteligência leva a crer num défice cognitivo geral (baixo QI, etc.) provocado por alterações neuropsicológicas em comum com a doença. O QI vai sendo reduzido à medida que vai havendo deterioração cognitiva dos pacientes – em média na casa dos 80 é o valor esperado normalmente no início da doença, isto é, com uma idade não muito avançada.

Nota: Existem pacientes esquizofrénicos muito inteligentes - talvez porque fatores ambientais, tais como a educação também são importantes. Há estudos que identificam até mesmo um subgrupo de pacientes “sobredotados”.

Link para uma pasta com a bibliografia consultada: https://drive.google.com/drive/folders/1IYV2CXXAaiK28M9-c0jQOqQlui7ptYWY?usp=drive_link 

Sobre Perturbação Bipolar, Perturbação Esquizoafetiva, Esquizofrenia e défices empáticos observados na literatura

 

Perturbação Bipolar – Está associada a défices na empatia cognitiva e emocional numa fase eutímica (estável) e a disfunções na empatia cognitiva durante as fases maníaca e depressiva.  No que respeita à empatia emocional, na fase depressiva não difere do grupo de controlo e na fase maníaca é verificada uma reação empática aumentada por parte do paciente. 

Perturbação Esquizoafetiva e EsquizofreniaEstão ambas associadas, com défices na empatia cognitiva e emocional (ver em cima as flutuações na empatia emocional de acordo com as várias fases para a perturbação esquizoafetiva do tipo bipolar).

Link para uma pasta com a bibliografia consultada: https://drive.google.com/drive/folders/1IYV2CXXAaiK28M9-c0jQOqQlui7ptYWY?usp=drive_link 

Sobre a relação entre Perturbações de Personalidade classe B e QI

 

Perturbação de Personalidade NarcísicaNão existe uma correlação significativa (nem negativa nem positiva) em geral com os valores de QI total, no entanto houve resultados mistos entre os estudos. Poderá haver uma maior inteligência cristalizada nestes pacientes devido à relação entre narcisismo e intelecto (o qual está relacionado com este tipo de inteligência). Quando os sintomas são muito severos, poderá haver um défice na inteligência fluída.

Perturbação de Personalidade BorderlineExiste uma correlação negativa com os valores de QI total, com défices na parte verbal e de realização, bem como outras alterações cognitivas. As alterações nos resultados dos testes de QI são mais bem explicadas pela suscetibilidade destes pacientes a emoções negativas e ao stress e pela intensidade dos mesmos na perturbação de personalidade borderline face a uma situação de avaliação, em vez de um défice cognitivo provocado por alterações neuropsicológicas em comum com a doença.

Perturbação de Personalidade Histriónica Não existe correlação significativa.

Perturbação de Personalidade Antissocial Não existe uma correlação significativa de um modo geral com o valor de QI total, apesar de alguns estudos mostrarem uma correlação negativa pequena ou não significativa o que pode explicar esta correlação negativa em alguns estudos é o terem utilizado amostras de indivíduos que cumpriam pena de prisão, pois o baixo QI predispõe para a criminalidade (sobretudo a criminalidade impulsiva e violenta). Esta variável (QI) estaria a mediar a relação entre a perturbação de personalidade antissocial e a criminalidade. Para contrastar com estes resultados, num estudo com uma população não forense, as características do fator 2, que correspondem à sintomatologia antissocial de um psicopata, não tiveram qualquer relação positiva ou negativa com o QI. Quando existem traços psicopáticos, há algumas variações dignas de atenção:    

PP Antissocial + Psicopatia Não existe uma correlação em geral com o valor de QI total, mas nas mulheres especificamente existe uma correlação positiva. Uma meta-análise indica apenas uma pequena correlação negativa com os valores de QI, bem como outras alterações cognitivas. No entanto, os estudos têm sido na maioria feitos com homens a cumprir pena de prisão. Tem-se ainda verificado que enquanto certas dimensões da psicopatia estão negativamente correlacionadas com os valores de QI, outras estão positivamente correlacionadas. Além disso, nem todos os estudos com reclusos encontraram uma correlação negativa, e um estudo com uma amostra retirada de uma população não forense revelou que não havia diferenças significativas entre psicopatas e a população saudável. Também no caso de uma amostra de mulheres psicopatas retiradas de uma população não forense observa-se o oposto do que tem vindo a ser observado em prisioneiros, a associação é positiva, o que significa que as mulheres psicopatas tendem a ser mais inteligentes. Para terminar, o que pode explicar de novo esta correlação negativa em alguns estudos é o terem utilizado sobretudo amostras de indivíduos que cumpriam pena de prisão, pois o baixo QI predispõe para a criminalidade (sobretudo a criminalidade impulsiva e violenta).

Link para uma pasta com a bibliografia consultada: https://drive.google.com/drive/folders/1bXzGV2N5jWsCKak9fGUj7cLr22hgMvg6?usp=drive_link